quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ERA TARDE (de Haroldo Brandão)

by Brassaï

Era tarde. Muito tarde, nós tínhamos perdido o contato nas Docas e só nos restava a Rua dos Tamoios o que sempre significava aumentar o risco. Mundinho deveria nos esperar no bar ao lado de sua casa. A fissura só aumentava, já nervosos iniciamos uma discussão, a grana era boa, Mundinho é que não era nada bom: sabíamos que a capação estava garantida. Espera, jogamos uma partida de bilhar, tomamos a primeira cerveja, eu já ansiava pelo wisk, olhando a lua linda pensava nesta quinta depois de meia noite, quantos já não estão nos embalos, nas baladas, em qualquer porra, e eu, e nós, Narizinho e Cêra perdidos nos becos jurunenses, nossa noite só começa depois de uns bons tiros, a moçada passa ainda para o tecno brega do tupi ou superpop ou sei lá que merda qualquer que jogue as mentes para longe e os corpos se enrosquem em uma dança sensual quase indecente. Merda! Quase uma hora e mais cerveja e nada de Mundinho: então finalmente vemos o cabeçudo baixinho dobrar da baixada. Muita calma nessa hora, elegância no pagamento, afastamento estratégico, entramos no carro de Cêra e o esporro começa; Porra, égua  Mundinho quase que tu  não vens, já não chega a gorjeta e ainda por cima esta merreca. Nenhuma novidade, após o teatro rumamos para o ap da 1º de Março. O elevador parece de filme de terror com um buraco no que seria o teto, via-se as paredes internas sujas e antigas passando, e paramos no 12º. Saímos, nem esquentamos. Às 3 horas da manhã dei meu primeiro tiro. Fiz a primeira dose e só então relaxei.

Um comentário:

  1. Não conhecia esse autor. É paraense? Dei uma rápida "googlada" nele e não achei nenhuma informação confiável.

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