Poucas são as coisas
tão valiosas quanto a amizade. Mantê-la é uma grande virtude. E realizar suas
promessas é a maior expressão desta, pelo menos para os mais virtuosos. E alguns
levam isso tão ao pé da letra, que a levam mesmo para o túmulo, como a história
que vou lhes contar.
Quando jovens três amigas
eram inseparáveis, sempre juntas estavam. Não apenas nos momentos alegres,
felizes, como também nos mais tristes. Desde a infância foram, assim, unidas.
Dividiam segredos, dos mais íntimos. Promessas sempre eram cumpridas. Ao ponto
de fazerem a maior de todas elas: “Que a primeira a morrer venha dizer as outras
onde está, se no céu ou no inferno.”
Os anos se seguiram,
adultas se tornaram. E os afazeres da vida mantiveram-nas distanciadas. Tanto
que entre si perderam o contato. E com a idade as memórias, enfim, se desbotaram.
Mas não o suficiente...
Quando a primeira
morreu, imediatamente, uma das amigas foi ao seu velório desfazer o trato. E ao
ouvido da morta, disse:
Amiga querida, desfaço
o trato, deixe que eu própria saiba do seu paradeiro após minha morte.
A segunda ao receber a
notícia da morte de sua amiga, instantaneamente lembrou-se de seus anos de
infância, e da maior de todas as suas promessas. Mas já era tarde...
Um dia, em uma noite
das mais solitárias, sob a luz de vela, em meio a um silêncio sepulcral, ouviu
passos em direção ao seu quarto. A casa estava fechada, como de costume, com a
única chave em seu quarto. Seus filhos moravam em outra cidade. Seu marido se
ausentara de casa, sem levar nenhuma das chaves.
Os passos seguiram-se
em direção a porta do quarto. Com medo, pôs-se de baixo dos lençóis. Seu medo
aumentou ao perceber que os passos não eram familiares. A porta, pouco a pouco,
foi abrindo, demonstrando tal ato pelo ranger das dobradiças. Um vento frio
inundou o quarto nesse instante, acompanhado de intensos calafrios, e de uma
voz que lhe sussurrou ao pé do ouvido:
“Não posso lhe contar
onde estou, mas posso lhe dizer que onde estou é assim...”
E o vento apagou a chama
da única vela que estava no quarto. Inundando o quarto com uma escuridão inominável.
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