NAQUELA MANHÃ, ELE
HAVIA ACORDADO, como todos os dias, no mesmo horário de
sempre, porém um sentimento estranho de saudade lhe havia tomado a alma, que
fez com que este ficasse alguns minutos a mais deitado na cama a reclamar da
vida. Paulo, por fim, resolveu levantar-se; coçou as nádegas com os dedos;
soltou gases que haviam se acumulado durante a noite, e foi para o banheiro.
Ao
olhar-se no espelho, pôde ver, surpreso, centenas de cabelos brancos que
despontavam de sua farta cabeleira. Cabelos que até pouco tempo não haviam
aparecido, ou que Paulo se recusava em vê-los. Sentiu-se estranho. Recusava-se em
acreditar que aquele em sua frente era ele mesmo. Sentia-se velho,
ultrapassado. Paulo pensou então em sua idade: tinha 43 anos. Sim, era ele
mesmo que estava em sua frente, não podia mentir, nem fugir de si mesmo.
Pôs-se
então a pensar em sua juventude. Lembrou-se que quando era jovem, tinha
verdadeira tara por mulheres mais velhas, bem mais velhas que ele. Quando tinha
quinze, sonhava em ser chupado por alguém de trinta; quando tinha vinte, queria que alguém de quarenta lambesse suas bolas,
e assim por diante. O que iria desejar agora?
Pensou indignado consigo.
Contudo,
o sentimento de saudade continuava forte nele. Pôs-se então a assoviar músicas
que ouvia quando tinha vinte anos, enquanto tomava banho. Em seguida, pensou em
suas namoradas de outrora, onde andariam elas? Deviam estar todas casadas e
velhas como ele, com suas rugas e seus seios caídos.
Paulo
vestiu-se depressa para o trabalho. Fechou a porta de casa, e pôs-se a andar na
rua, enquanto continuava a assoviar as músicas de outrora, até que ao passar
enfrente de um asilo de idosos teve uma ideia. Tomou coragem e entrou. E, minutos depois, se estivéssemos lá, poderíamos ouvi-lo, ofegante, a dizer:
-
Agora, que tal sem as dentaduras?
Paulo havia, finalmente, descoberto um modo de voltar a juventude!!!
Paulo havia, finalmente, descoberto um modo de voltar a juventude!!!
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