sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"AGORA, QUE TAL SEM AS DENTADURAS, HEIN?" (de Bosco Silva)



NAQUELA MANHÃ, ELE HAVIA ACORDADO, como todos os dias, no mesmo horário de sempre, porém um sentimento estranho de saudade lhe havia tomado a alma, que fez com que este ficasse alguns minutos a mais deitado na cama a reclamar da vida. Paulo, por fim, resolveu levantar-se; coçou as nádegas com os dedos; soltou gases que haviam se acumulado durante a noite, e foi para o banheiro.
Ao olhar-se no espelho, pôde ver, surpreso, centenas de cabelos brancos que despontavam de sua farta cabeleira. Cabelos que até pouco tempo não haviam aparecido, ou que Paulo se recusava em vê-los. Sentiu-se estranho. Recusava-se em acreditar que aquele em sua frente era ele mesmo. Sentia-se velho, ultrapassado. Paulo pensou então em sua idade: tinha 43 anos. Sim, era ele mesmo que estava em sua frente, não podia mentir, nem fugir de si mesmo.
Pôs-se então a pensar em sua juventude. Lembrou-se que quando era jovem, tinha verdadeira tara por mulheres mais velhas, bem mais velhas que ele. Quando tinha quinze, sonhava em ser chupado por alguém de trinta; quando tinha vinte, queria que alguém de quarenta lambesse suas bolas, e assim por diante. O que iria desejar agora? Pensou indignado consigo.
Contudo, o sentimento de saudade continuava forte nele. Pôs-se então a assoviar músicas que ouvia quando tinha vinte anos, enquanto tomava banho. Em seguida, pensou em suas namoradas de outrora, onde andariam elas? Deviam estar todas casadas e velhas como ele, com suas rugas e seus seios caídos.
Paulo vestiu-se depressa para o trabalho. Fechou a porta de casa, e pôs-se a andar na rua, enquanto continuava a assoviar as músicas de outrora, até que ao passar enfrente de um asilo de idosos teve uma ideia. Tomou coragem e entrou. E, minutos depois, se estivéssemos lá, poderíamos ouvi-lo, ofegante, a dizer:
- Agora, que tal sem as dentaduras?
Paulo havia, finalmente, descoberto um modo de voltar a juventude!!! 

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