HISTÓRIAS VAMPIRESCAS DE BELÉM
Leia antes: Histórias Vampirescas de Belém - Parte I
... tentei fugir, mas fui impedido pelo terrível cão que pôs-se a rosnar para mim, foi quando, seguro por dezenas de mãos em horrível estado de putrefação, ela se aproximou de meu pescoço, e estando prestes a cravar-lhe os dentes, acordei assustado dando um grande grito, que ecoou pela sala de concerto, interrompendo a música.
... tentei fugir, mas fui impedido pelo terrível cão que pôs-se a rosnar para mim, foi quando, seguro por dezenas de mãos em horrível estado de putrefação, ela se aproximou de meu pescoço, e estando prestes a cravar-lhe os dentes, acordei assustado dando um grande grito, que ecoou pela sala de concerto, interrompendo a música.
Agora
eu estava de volta ao presente; e estando todos a olhar-me, nos retiramos do
recinto, envergonhados, com Leila a dizer-me, em meio a risos: “Sempre dormes
em concertos, porém desta vez exageraste, sonhavas ofegante e assustado!”.
II
Lágrimas de Sangue
A
noite passou-se em angustiante agonia: uma horrível sensação me cercava;
cansado, fui para cama mais cedo, e durante o meu dormir, imagens inoportunas
me incomodavam, suava frio e sonhava... E lá estava ela em meu sonho novamente,
vestida com seu longo vestido negro esvoaçante, enquanto tocava ao piano, à
beira do precipício, a mesma estranha melodia que havia me levado a sonhar
durante o concerto. Aproximei-me dela, de sua pele fria e pálida sob a luz da
lua, foi quando virou-se para mim, e principiou a chorar, lágrimas de sangue
escorreram de seus olhos totalmente negros; levantou-se, veio até a mim e
beijou-me a boca. Em seguida, tomou meu pulso em suas mãos e, como no sonho
anterior, o levou até a boca, e o mordeu lentamente... E como era doce aquela
mordida: um misto de prazer e dor: uma maravilhosa agonia!... Depois, como se
eu já soubesse o que fazer, peguei a taça dourada sobre o piano e colhi nela
meu sangue, oferecendo-a um gole de vida... Por fim, acordei, ofegante e
exaurido. Curioso, após recompor-me, pus-me a saber um pouco mais sobre aquela
estranha e bela música que parecia me seguir até em meus pesadelos.
Jeremiah Clarke |
A
música havia sido composta por um certo Jeremiah Clarke, um obscuro compositor
inglês do século XVII. Os poucos sites especializados que tocavam em seu nome,
falavam pouco sobre ele, demonstrando não ter sido um compositor
importante. Porém, em um, algo de surpreendente dizia: que uma paixão arrebatadora por uma bela mulher, que o desprezara, o levara a cometer
suicídio; e que uma dúvida cruel o assolou profundamente em seus últimos dias:
como se mataria! Clarke estava em dúvida entre enforcar-se ou afogar-se.
Resolveu decidir sua sorte jogando uma moeda para o alto. Todavia a moeda,
estranhamente, caiu em pé na lama. E, não ligando para o que ela lhe dizia,
na manhã seguinte, Jeremiah Clarke fora encontrado morto: havia dado um tiro na
própria cabeça nos jardins da Catedral de St. Paul, em Londres, abreviando
tragicamente sua vida, morrendo aos 33 anos.
Naquele tempo, não se permitia
enterro de suicidas em solo santo, pois estes eram vistos como seres malditos, como
alguém que havia rejeitado o que de mais valioso Deus poderia dar a uma
criatura, o maior dom de todos: a vida. Apesar deste terrível detalhe, Jeremiah
Clarke, estranhamente, fora enterrado na cripta da mesma catedral em que seu
corpo fora achado.
E a música que eu ouvira em meu sonho fora composta, e
dedicada, a mulher que o havia desprezado. E era como se aquela música houvesse
influído comigo, com meu espírito, me atormentado a alma; foi quando lembrei
que frequentaria mais um concerto naquele dia, ao lado de Leila; mas tudo
parecia ser prazeroso em sua companhia; e este não seria
diferente. Porém, eu me perguntava: o que ainda me reservaria!
HISTÓRIAS VAMPIRESCAS DE BELÉM - Parte III: Teatro dos Vampiros
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