O LADO DOENTIO DOS SANTOS
CATÓLICOS
Ao
longo da história da humanidade, religiosos tem identificado na alma humana o
supremo bem, a morada dos deuses, enquanto no corpo estaria o mal, a fonte de todos
os pecados, originados dos desejos “inferiores” deste. O corpo humano era visto
então como a morada do diabo.
Durante
a idade média, época em que os homens tinham uma profunda visão religiosa do
mundo, e dirigiam suas vidas, por meio de crenças religiosas e pela superstição,
essas ideias se acirraram. Foi uma época
em que alguém poderia ser levado a morrer na fogueira pelo simples fato de não
seguir as crenças religiosas da maioria; e em que as doenças do corpo eram vistas
como castigo divino, e as doenças mentais como possessões demoníacas.
A igreja
católica dirigia o mundo com mãos de ferro. E sendo o corpo concebido como a
morada do diabo, era natural que pessoas fossem estimuladas por meio de jejuns,
açoites, solidão etc., a castigar seus corpos como forma de abafarem os desejos
destes (como os desejos sexuais, a beleza, a higiene etc.), privilegiando, assim,
apenas as qualidades da alma.
Nesse
mundo perverso, em que o diabo poderia estar por trás de um simples desejo ou gesto
de curiosidade, os santos católicos se destacavam como exemplos de vida e de fé,
com sua dedicação e mortificação de seus corpos, e em que, mais do que em
qualquer outra pessoa, muitos distúrbios mentais eram vistos como grandes
virtudes, atos supremos de caridade, humildade e dedicação aos pobres. É o que
podemos ver através dos atos monstruosos praticados por alguns santos
católicos.
CATARINA
DE SIENA (1347 – 1380)
Catarina
foi uma santa italiana, estudiosa de filosofia e teologia. Ela foi também
fundamental para restauração da paz das cidades italiana de seu tempo. Foi
nomeada uma das seis padroeiras da Europa.
Catarina
teve a primeira de suas visões de Jesus Cristo quando tinha apenas cinco ou
seis anos de idade.
Cabeça de Santa Catarina Conservada na Basílica de São Domingos, Siena |
Como
muitas das religiosas de seu tempo, Catarina de Siena imponha a si formas severas
de castigar o corpo, sendo um dos preferidos o jejum. A falta de alimentação e
de autoestima, associado ao desejo incomensurável do sofrimento imposto a si
próprio, a estimulou a delírios e a práticas monstruosas e bizarras, a uma
forma radical de masoquismo, levando-a afirmar, certa vez, não ter comido nada
mais delicioso do que o pus dos seios de uma mulher cancerosa.
SÃO
JOÃO DA CRUZ (1542 - 1591)
Tendo
recebido o nome de Juan de Yepes y Álvarez, São joão da Cruz foi um padre
católico espanhol da ordem Carmelita, que ajudou doentes e pessoas
desfavorecidas. Considerado santo pelos católicos, são João foi um místico,
também conhecido por suas obras literárias e poesia mística, tendo como tema o
crescimento da alma. Foi declarado santo em 1726.
O
que assusta nesse homem tão bondoso e dedicado aos pobres e doentes, foi ele
ter declarado, certa vez, que sentia prazer em lamber feridas de leprosos.
“Prazer” que, certamente, São João deve ter praticado muitas e muitas vezes,
prática que deve ter sido visto na época, não como um comportamento horrível e
degradante, certamente, fruto do mais alto masoquismo, mas como um belo ato de
bondade e dedicação aos doentes, uma forma de compartilhar o sofrimento do
próximo.
MARGUERITE-MARIE
ALACOQUE (1647 - 1690)
Após
a morte do pai, Marguerite e a mãe passaram por necessidade e humilhações.
Passou a ter visões de Jesus Cristo. Conta-se que Jesus lhe apareceu uma vez
com o peito aberto, lhe apontando seu coração, e lhe dizendo: "Eis o
Coração que tem amado tanto aos homens a ponto de nada poupar até exaurir-se e
consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento não recebo
senão ingratidão da maior parte deles".
Esta
benévola santa francesa, canonizada em 1920, via nas impurezas, nas secreções
corporais dos doentes, em que tentava sarar suas enfermidades, um modo de
degradar seu corpo, ao ponto de ver nisso uma verdadeira prova de seu amor a
Cristo. Sua degradação física e psicológica era tanto que Marguerite chegou ao
ponto de se alimentar dos vômitos e do material fecal de doentes. Ao praticar
tais atos isto suscitava nela a ideia de estar colada com a boca nas feridas de
Cristo. “Se eu tivesse mil corpos, mil amores, mil vidas, os imolaria para lhe
ser submissa” - dizia ela.
SANTA
TERESA d’ÁVILA (1515 - 1582)
Nascida
em Ávila, Reino de Castela, hoje, Espanha, Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada,
foi uma freira carmelita, mística e santa católica, tendo escrito famosas
poesias e uma autobiografia. Foi também importante por sua atuação durante a
Contra Reforma. Reformou a Ordem Carmelita e é considerada co-fundadora da
Ordem dos Carmelitas Descalços, juntamente com São João da Cruz.
O
que chama atenção no caso de Santa Teresa d’Ávila é que ela descreve seus
momentos de êxtase religioso, com tanto erotismo que se assemelha, de certa
forma, a uma relação sexual; quase um orgasmo religioso; diz-nos ela em uma
parte de seus escritos, durante a visitação de um anjo:
“Vi
na sua mão uma comprida lança de ouro, em cuja ponta de ferro havia um pequeno
fogo. Ele parecia enfiá-la de vez em quando no meu coração, até perfurar minhas
entranhas; e quando a puxava para fora arrastava tudo consigo, e me deixava em
chamas, com um grande amor por Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e
no entanto era tão extraordinária a doçura dessa dor excessiva que eu não
queria que ela parasse”.
Detalhe da Escultura do Italiano Bernini, Mostrando Santa Teresa em Êxtase |
Se
trocarmos a lança do anjo e o coração de Santa Teresa por órgãos sexuais
humanos, respectivamente, masculino e feminino, podemos conceber a imagem de
uma relação sexual. E nenhuma atividade humana tem proibido mais o sexo do que
a religião: dos padres e freiras celibatários, passando pela ideia do sexo
tolerado somente como meio de procriação pela igreja. Porém, tudo que é
proibido tende a ser mais estimulado. Não seria, então, as visões de Santa
Teresa d’Ávila manifestações de uma sexualidade latente e obstruída, que
encontrou formas de manifestação por meio de um comportamento histérico, de
alguém que cresceu e sempre lidou com a ideia de que sua sexualidade deveria
ser proibida, pois seria a manifestação de uma força demoníaca?
SANTA
LIDUÍNA (1380 - 1433)
Liduína
foi uma devota católica holandesa, padroeira dos doentes incuráveis.
Em
1890 seu culto foi autorizado pelo papa Leão XIII e em sua cidade natal
(Schiedam) foi construído um santuário em sua homenagem.
Até
aos 15 anos de idade Liduína era uma adolescente como outra qualquer. E durante
um inverno enquanto patinava com amigos, sofreu um acidente que lhe quebrou a
coluna e a feriu internamente. Deixando-a inválida na cama, com muitas doenças e
tristeza. Até que ela recebeu a visita de um padre, que lhe acalmou o espírito
com grandes dozes de masoquismo cristão; disse-lhe ele: "Deus só poda a
árvore que mais gosta, para que produza mais frutos; e aos filhos que mais ama,
mais os deixa sofrer". Essas palavras a fez ver seu sofrimento como uma
grande benção de Deus, e em vez de tentar amenizá-lo, Liduína procurou cada vez
por mais sofrimento. À noite ela rezava para que Deus lhe mandasse mais
sofrimento, passando a ter visões de cristo.
Com
a morte da mãe, se desfez de seus bens e de sua cama, e passou a dormir sobre
uma tábua coberta de suas fezes e urinas acumuladas, tendo uma correia de crina
amarrada a si, que provocava uma ferida purulenta. Muitos iam até ela com a
esperança que as os curasse de suas enfermidades.
Mesmo
humilde e estando em tal situação Liduína foi suspeita de heresia pela igreja,
já que se mantinha viva apesar de tantas doenças.
Ao
morrer Liduína pediu que sua casa fosse transformada em um hospital para os
pobres.
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