CARTA
AO LEITOR
Caro leitor, aqui, finalmente, está o que
tenho guardado há alguns anos. São segredos que me foram revelados há poucos
anos, e que não poderia deixá-los encobertos por puro egoísmo. Por isso, aqui
venho, por meio desta, dividi-lo com você, pelo grande valor de seus
conhecimentos.
Nela estão algumas revelações, que após anos
de pesquisas, foram-me possíveis pelo contato com uma estranha entidade
ancestral, que presidiu a própria criação do mundo.
Peço-lhe que julgue por si próprio a
veracidade de tal história, sempre levando em conta o bom senso em tal
investida. E mesmo que creia não ser verdadeira, atente para o conhecimento que
nela está contido, pois são conhecimentos reveladores, que podem ser vistos
como independentes de sua história.
ENTREVISTA
COM O DIABO
“É doloroso, mas o mundo é do Diabo, assim como o Céu é dos tolos”
(Palavras de Satã, personagem da obra Macário
de) Álvarez de Azevedo
Estávamos todos bêbados naquela noite, e, quando isso acontece, quase sempre alguém inventa a brincadeira do copo.
Para aqueles que não a conhece, ela chama-se
assim por utilizarmos um copo como apoio para nossas mãos, e também como seta,
que indicará letras, que formarão palavras por meio dos movimentos
involuntários de nossas mãos sobre um tabuleiro, tendo todas as letras do
alfabeto.
Esta é uma velha brincadeira, que não assusta mais, com sua ideia de que
um espírito ao redor da mesa irá responder todas as nossas perguntas, já que todos
sabem, como já foi dito, que se deve a movimentos involuntários, ou a vontade
bastante voluntária de alguém, engraçadamente, intencionado. Mas, não ligando
para isso, e tendo apenas o intuito de diversão, nos entregamos a tal
brincadeira.
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Em um dado momento, as letras se conjugaram e
formaram a palavra Belzebu, e logo em seguida a palavra telefone, seguida por
meu nome. As risadas, imediatamente, se alastraram pelo ar. Senti-me logo como
o escolhido para as próximas brincadeiras que dalí surgiriam, naquela noite. E,
malgrado meus avisos que não iria me assustar com tal brincadeira, o telefone
tocou imediatamente. Era para mim. E aos risos fui atendê-lo. Do outro lado,
uma voz bastante grave me dizia:
— Aqui é Belzebu. Meu mestre, o Diabo,
gostaria de contactá-lo.
Eu, admirado pela organização e rapidez da
brincadeira, fiz questão em participar dela.
Disse-lhe, então:
— Qual o motivo de tão magnífico convite?
— Os dois artigos que escreveste sobre o
Diabo.
— Ah!, sim, “O Diabo e o Rock”* e “A
Verdadeira História do Diabo”**.
— Sim. Ele gostou muito. E após milhares de
anos, Ele encontrou alguém a quem pudesse dar uma entrevista. Alguém que
conhece os erros e as injustiças que lhe tem sido atribuído.
— Então, serei para Ele uma espécie de
advogado, um “advogado do Diabo”?
— Sim.
— E o que receberei em troca?
— Conhecimento e paciência para suportar as
idiotices dos religiosos.
— Bem, já é um bom começo, pena que em meu
país o conhecimento vale tão pouco!
— Irei contactá-lo novamente. E darei o local
e a data do encontro. Aguarde — disse-me.
— Ok. Dê lembranças ao Diabo. Diga que Ele tem
bom gosto. — E desliguei o telefone às gargalhadas.
Os dias passaram, e esqueci totalmente da
brincadeira. Porém, um dia, enquanto estava enfrente à televisão, recebi um
telefonema:
— Alô.
— Você ainda se recorda de nossa última
conversa? — disse alguém do outro lado da linha.
— Que conversa?
— Do encontro programado.
— Que encontro?
— Do encontro com o Diabo.
— Ah, sim, desculpa!
A brincadeira passada ainda rendia. E eu ainda
continuava a mantê-la viva. Disse-lhe, então:
— Continuo aguardando.
— Finalmente, hoje, nos encontraremos. Aguarde
um táxi em frente de sua casa, às três horas em ponto da madrugada. Ele lhe
trará até nós.
— Sim, vou aguardar.
Um táxi preto, com vidros escuros parou
enfrente ao meu prédio, como o combinado, ás três horas da madrugada. A placa,
curiosamente, ostentava o temido número 666.
A noite e a brincadeira bem produzida
prometiam — pensei.
Ao entrar no carro, eu não conseguia ver o
motorista, pois um vidro escuro nos separava. O táxi rumou para o centro da
cidade. E logo estávamos enfrente a principal igreja da cidade: Basílica de
Nazaré.
Ao lado dela um sujeito de preto me aguardava.
Era um sujeito alto, bem apessoado, que tirando os óculos escuros, nada de
diferente aparentava. Disse-me, com voz extremamente grave: — Seja bem-vindo.
Meu nome é Belzebu. Em seguida entramos por uma portinhola que havia ao lado da
igreja. Comentei a ele que jamais tinha visto tal portinhola mesmo passando por
ali quase todos os dias. O qual me respondeu de imediato: — O Diabo tem seus
segredos!
A pequena porta nos conduziu a um longo
corredor iluminado por tochas em todos seus lados. Ao fundo do corredor uma
imensa sala, iluminada por luz de velas negras, tendo, no centro, uma grande
mesa, em que se encontrava um sujeito sentado, trajando um longo hábito, com
capuz.
E que, sem levantar a cabeça, saldou-me ao entrar:
— Seja bem-vindo ao meu último exílio. SOU
AQUELE QUE TODOS TEMEM SEM CONHECER; Sou a luz e a treva; o Grande Todo. Aquele
que a própria morte teme.
— E eu sou apenas aquele que escreve: um
simples escriba.
Olhava, discretamente, para todos os lados,
para ver as pessoas que deveriam estar escondidas a nos observar. Mas, por mais
que olhasse atentamente, nada via. A brincadeira parecia, mesmo, ser muito bem
feita, tanto que não via a hora de perguntar por aquela produção cenográfica; por
seus detalhes muito bem feitos. Ficava a pensar de quem teria sido a ideia;
quem a teria organizado; quem a teria planejado. Pensei por um momento que
poderia ser uma festa surpresa, mas não era um dia especial em minha vida, como
aniversário. O que então seria?! O que de melhor poderia fazer era segui-la, e
ver em que daria...
Disse-lhe, então:
— Observei que a placa do carro é 666, então
estava errado, este é mesmo o número do Diabo?
— É o que dizem, mas para Mim não tem o menor
sentido. Uso-o apenas para identificar-me, mas poderia ser qualquer outra
coisa. Embora você esteja correto em seu texto.
— A tradição o associa ao sol, e,
figurativamente, aos seres iluminados, pois 666 é a soma dos números de 1 a 36
dos números do quadrado mágico que representa o sol. Representa, portanto,
também Lúcifer, palavra que em sua origem, latim, significa “aquele que traz a luz”.
Nada há nisso de mal, pois é um belo título, que tem sua origem em um dos nomes
do planeta Vênus, a estrela da manhã, que antecede sempre ao amanhecer e pôr do
sol. Cristo também o usou, a se referir como estrela da manhã, como aquele que
traz a luz, como o iluminado, enfim, como Lúcifer: “Eu, Jesus,... Eu sou a raiz
e o descendente de Davi, sou a ESTRELA RADIOSA DA MANHÃ.” (Apocalipse 22:16).
Mas para Você, certamente, é apenas mais uma velha história.
Notando que seguia a cena a sério de mais,
enveredei para um tom mais engraçado, pois aquilo era para se divertir, e eu
deveria me divertir mais. Então, perguntei:
— É verdade que és a criatura mais velha que
existe, até bem mais que minha avó?
De imediato, aquele sujeito pareceu se
inflamar de ódio, soltando um grito ensurdecedor, não mostrando seu rosto, mas
apenas sua imensa boca, que fez tremer a mesa e a parede. Em seguida, pôs-se
falar palavras incompreensíveis, que pareciam latim. Pensei comigo, ainda bem
que não perguntei sobre seus chifres! E ri em silêncio.
Em resposta, disse-me:
— SOMENTE AQUILO QUE MORRE POSSUI IDADE.
PORÉM, EU SOU O PRÓPRIO TEMPO, A ETERNIDADE.
E após algum tempo em silêncio, em um momento
mais calmo, tal brincadeira trouxe-me à memória uma velha lenda de minha
cidade, que afirma que uma imensa cobra dorme há anos sob a velha igreja, e
todas as vezes que esta levemente se acorda faz tremer a cidade. Perguntei-lhe,
então:
— Qual o motivo para se encontrar em uma
igreja católica, e não em outra, como em um templo evangélico?
— Pelo menos, aqui, não usam tanto meu nome
para ganhar dinheiro. Além disso, há o vinho! Dois mil anos de Cristianismo,
pelo menos valeram para criar o gosto por um bom vinho. E o vinho dos padres
são os melhores!
E enquanto saboreava o vinho, tirando gosto
com as hóstias, suspendeu a grande taça, brindando a mim. E como por um passo
de mágica, soltou a taça deixando-a parada no ar, enquanto folheava o grande
livro que havia na mesa. Disse-me, então:
— Sei que não acreditas em Mim. Mas, veja, eis
o livro da vida e da morte. Seu nome, como os de todos, está aqui. Bem como
grande parte de sua vida.
E após falar isso, levantou-se em direção a
mim. Pôs sua mão sobre minha cabeça e, com uma grande nitidez, pude ver toda a
história do mundo, de seu princípio àquele momento que me encontrava ali. Em
seguida, pôs-se a contar segredos da minha vida, que nem mesmo eu sabia. E
fantasmas de meus entes queridos, alguns que eu nem mesmo conhecia, puseram-se
a contornar-me dizendo segredos aos meus ouvidos. E assim, pude ver,
finalmente, de que se tratava. Tudo era absolutamente verdade. E caí de
joelhos...
Ele perguntou-me:
— Queres saber algum segredo?
— Sim, o maior de todos. Conte-me sobre a
morte. Há vida após a morte?
— Nada posso dizer-lhe.
— Mas, Você não conhece tudo?
— Sim. Conheço. Mas pense na morte como num
final de um grande livro: se eu contar-lhe o segredo, o final, estraga a
história! Pois Sou também o Autor deste Grande Livro. E tudo que posso lhe
dizer é: não se assuste a morte é um grande alívio! Mas você pode descobrir por
si próprio.
—Dizem que não é possível ter certeza, em tal
assunto.
— Besteira — disse-me Ele. — Olhe.
Neste momento, o corpo de um homem apareceu
entre nós.
— Quem é ele? — perguntei ao Diabo.
— Não importa. O que importa é que está morto.
— E o que diria este sobre a própria morte?
Poderia este corpo nos relatar algo?
— Muitíssimo, meu caro.
E após isto, o corpo começou a apodrecer em
nossa frente, mudando de tonalidade, inchando, se liquidificando, sendo
absorvido por bilhares de bactérias e vermes, tornando-se apenas ossos. E,
finalmente, secando, até ao pó.
— Um cadáver conserva sua estrutura de
organismo vivo por pura inércia de seu material. Pouco a pouco seu material é
absorvido pelo todo. Pois, “o cadáver não é senão o conjunto dos materiais da
vida: um pouco de água, de carvão, de azoto, de ferro”, como já foi bem dito —
disse Ele. — A vida é “o que mantém, direta ou indiretamente, a própria forma
do organismo”, em sua luta diária para não se entregar ao todo. A vida, pois, é
o extremo da morte.
—Nada há de novo nisso.
— Calma, meu amigo — disse-me, com a voz
calma. E continuou:
— Por outro lado, há na natureza um ponto de
equilíbrio em que os extremos se assemelham e se completam, mantendo o
universo, sua unidade (uni), apesar de sua infinita variedade (verso), fazendo
com que este não se destrua, mantendo o equilíbrio de seus elementos e de seus
excessos, e conservando em todas as coisas sua identidade. Por isso, não é de
estranhar semelhanças nas coisas e em seus excessos. O que faz com que a mais
alta e a mais baixa temperatura, queimem; que a falta e o excesso, façam mal;
que o imensamente grande e o pequeno, se assemelhem, como o átomo e o sistema
solar; que a infância e a velhice tenham pontos em comuns, na diminuta
quantidade de pelos e dentes, na pele enrugada, etc; que o silêncio e o mais
alto som sejam inaudíveis; que o grande e o pequeno, sejam extremamente
mortais, como um elefante e um vírus; que a mais extrema fealdade e beleza
chamem atenção; que o zero e o número infinito não sejam divisores de nenhum
outro número; que a falta e o excesso de água, façam mal, o primeiro causando
desidratação, o outro afogamento; que a ausência e o excesso de luz, nos torne
cegos; que o óbvio e o incomum, torne-se de difícil explicação; etc... E,
finalmente, que a vida e a morte possuam muito em comum. Este é o caminho, aplique
este princípio e entenderás cada vez mais sobre a morte. Isto é tudo que desta
posso lhe ensinar.
— E quanto a estas doutrinas que explicam
sobre a morte?
— Tudo balela! Meras projeções inconscientes.
— Fico a imaginar o que pensariam outras
pessoas a ouvir o que dizes. Certamente, não acreditariam em nada que dizes,
pois para elas o Diabo é o pai da mentira.
— Certamente. Mas foram seus líderes
religiosos que mentiram. Se há um criador da mentira, esse criador é o homem,
em sua busca desenfreada por poder. Primeiro, para aumentar o poder de suas
crenças, tentaram destruir os deuses pagãos, distorcendo seus significados para
seus seguidores, tornando-os seres negativos, sem nenhum valor positivo. E
assim impedindo seus seguidores de conhecerem e respeitarem outras crenças.
Associando tais deuses a esta imagem falsa do Diabo, criada simplesmente para
amedrontar seus seguidores, como um ser puramente malévolo. Para tanto,
juntaram símbolos, que para outras religiões eram, e são sagrados, criando
assim tal imagem.
E enquanto falava isso, suspendeu o capuz
expondo seu rosto. Ao qual reagi com imenso susto! Pois, mesmo conhecendo sua
história, me espantou saber que o Diabo possui rosto humano.
Disse-me:
— Por acaso, esperavas pele vermelha, barbicha
e chifres? Quanta ignorância! Agis como um homem qualquer!
— É que mesmo sabendo sua história, torna-se
difícil livrar-me de ideias preconceituosas.
— Sempre me surpreendeu que pintassem um quadro
horrível de Mim. Imagine: Eu Todo-poderoso, querendo capturar novas almas iria
lhes atrair com uma imagem horrível, cheirando a enxofre? Não seria melhor
assim...
Neste momento transformou-se em uma linda
mulher, como poucas que já vi na vida, com um corpo escultural, esplendoroso!
— Ou assim...
E transformou-se em um belíssimo carro, como
aqueles que são intensamente desejados.
— Eu não possuo rosto, nem formas, porém, tomo
a forma que quiser. E digo-lhe, jamais tomaria uma horrível forma. Esta foi
criada para distorcer outros deuses. Veja, por exemplo, os chifres, para
antigas culturas estes representavam símbolos de sabedoria em seus deuses.
Assim como o tridente. Mas hoje representa esta imagem asquerosa do Diabo.
DEPOIS EU QUE SOU O MENTIROSO! Quanto a isso, esta falsa imagem minha está
ligada ao imenso orgulho humano, pois estes creem que são a coisa mais
importante do universo, e que eu apenas teria um único pensamento: tentá-los
para possuir suas almas, e assim ofender a deus, com a idolatria de sua mais
importante criatura, como se Eu não tivesse coisas mais importantes a fazer! Veja
estes filmes, em que possuo a mente de jovens meninas, como me retratam idiota!
Para que perderia tempo em possuir mentes tão insignificantes, sem nenhum
poder, quando poderia possuir mentes poderosas, e causar tantos danos. PARA QUE
PERDER TEMPO PROVOCANDO TREMELIQUES, SE POSSO CAUSAR TERREMOTOS!
— Então, por que continuas conservando o nome
Diabo?
— Apenas um modo de identificar-Me, pois Eu
mesmo não tenho nome. Assim, nomes como Demônio, Satã, Mefisto, Satanás,
Samael, ou os populares, Capiroto, Coisa-Ruim, Sete-Peles, Capeta, Demo, Cão,
etc, não têm para mim o menor sentido, são apenas nomes qualquer.
— E o termo Lúcifer, teria algum sentido?
— Ah!... este, sim. Lucis Ferre: Lúcifer,
AQUELE QUE TRAZ A LUZ. É um belo nome! Com um belo significado. Este sim, cabe a
mim. Sou Eu quem traz o conhecimento aos homens.
— Contudo, mesmo este termo tornou-se
distorcido para os cristãos.
— Pobres coitados, procuram a luz, enquanto
mais se atolam nas trevas da ignorância! São adultos que possuem temores de
criança! Este é mais um erro de seus líderes religiosos. Não veem que é um
magnífico título! Até mesmo seu deus, Cristo, ostentou-o.
— E quanto ao outros deuses?
— Não há outros deuses. Sou o único Deus. Sou
a consciência do Cosmo.
Atar, Resheph, Anath, Ashtoreth, Ahura Mazda,
Nebo, Melek, Ahijah, Ísis, Ptah, Baal, Baco, Astrarte, Ares, Hadad, Hermes,
Hera, Dagon, Yau, Amon-Ra, Ártemis, Apolo, Osíris, Molech, Arianrod, Morrigu,
Jupiter, Jano, Sekhmet, Govannon, Gunfled, Geb, Dagda, Dionísio, Geush Urvan,
Ogurvan, Dea Dia, Iuno Lucina, Inanna, Saturno, Furrina, Cronos, Engurra,
Belus, Ubililu, U-dimmer-na-kia, U-sab-sib, U-Mersi, Tammuz, Vênus, Belis,
Nusku, Néftis, Aa, Sin, Apsu, Elali, Mami, Zaraqu, Zagaga, Nuada Argetlam, Nut,
Tagd, Goibniu, Odim, Ogma, Marzin, Mitra, Marte, Diana de Éfeso, Ra, Seth,
Robigus, Plutão, Ptah, Vesta, Zer-panitu, Zeus, Zam, Merodach, Minerva, Elum,
Enki, Marduk, Mah, Nin, Perséfone, Istar, Lagas, Nirig, Nebo, Em-Mersi, Assur,
Asalluhi, Beltu, Kusky-banda, Nin-azu, Qarradu, Urano, Ueras, Vesta, Khonsu,
Afrodite...
Todos estes deuses - e essa é apenas uma
pequena lista de centenas de milhares de deuses - foram deuses de culturas
poderosas, em seu tempo. Todos foram cultuados e temidos. Sacrifícios foram
feitos em suas homenagens. Pedidos e rezas eram lhes enviados. Gerações se
dedicaram a construir-lhes imensos templos. Sacerdotes se dedicaram a lhes
interpretar suas vontades, seus desígnios. Desafiar suas vontades era
inevitavelmente a morte. E onde estão
agora? Estão todos esquecidos, como seus povos. MAS EU CONTINUO VIVO, POIS
SOMENTE O QUE NÃO TEM NOME NÃO PODE SER ESQUECIDO.
— Sim. E agora temos Cristo — disse eu a Ele.
— E o que diferenciaria esta nova crença das
antigas? Todas foram e são formas de dominação. COMO SE PODE CRER EM ALGO QUE
LHES FORA IMPOSTO À FERRO E FOGO, A CUSTA DE TANTO SANGUE!!! Da conversão
imposta pelo imperador Constantino, aos seus súditos, ao Cristianismo, à
conversão dos índios neste tempo. Incluindo as cruzadas que mataram e
expulsaram milhares de não-cristãos de Jerusalém, à Inquisição, que matou
milhares de pessoas, por não compartilharem de crenças cristãs. Incluindo
também a total dominação e manipulação da cultura e do conhecimento, durante
centenas de anos, em favor da religião cristã.
QUE CRENÇA É ESSA QUE PRECISA DE TANTA FORÇA
PARA CONVENCER OS HOMENS DE SUA VERDADE!!! Não a bastaria por si própria?
As religiões sempre foram usadas para
manipular o povo, lhe roubando a energia necessária para transformar a realidade.
Os antigos gregos já sabiam disso, para eles religião era coisa para mulheres e
escravos. Era um instrumento de poder para acalmar os ânimos dos menos
favorecidos, como estes, e assim manter a ordem.
— Então, não há nada de positivo nelas?
— Há, sonhar é preciso!
— E o tal falado encontro, no deserto, entre
Cristo e o Diabo?
— Na verdade nunca houve tal encontro. O que
lá se comenta é a luta entre o desejo espiritual do homem e os desejos e
necessidades da carne. Tais escritores usaram o Diabo como uma personagem para
simbolizar os desejos e a luta contra as tentações da carne.
— Tudo é mentira? — indaguei imediatamente a
Ele.
— Seria um exagero afirmar isso —
respondeu-me. Mas, pode-se dizer que em grande parte, sim.
Ainda lembro quando começaram: eram apenas um
punhado de simples seguidores amedrontados e castigados com a dura realidade.
Procurando por todos os cantos por alguém que pudesse lhes dá esperança, como
ainda hoje. Até que surgiu um homem, em meio a tantos outros, um certo Josué,
ou Jesus, como queira, já que ambos os nomes possuem o mesmo significado:
salvador, que os liderou com palavras de conforto.
Sua doutrina se espalhou, como tantas outras,
entre o povo humilde. Mas, ao morrer teve sua memória e doutrina traídas pelos
que ambicionavam o poder, pois logo viram em sua doutrina um modo de manipular
o povo. Aí começaram as mentiras!
Logo, ambicionaram um maior crescimento para
tal crença, ambicionando torná-la universal, e assim, criaram uma nova
biografia para Cristo, condizente com outras crenças, a fim de seduzirem fiéis
de outras culturas. E isto é fácil de ver, por exemplo, compararam Cristo a
Moisés, o líder judeu, em seu nascimento, pois como Moisés, fizeram-no ser
perseguido por um rei (Herodes), que temeroso por uma profecia, tentou matá-lo
para que este não perdesse o poder.
Adaptaram-no, também, à cultura grega, persa e
romana, como aos seus imperadores, transformando-o, em deus, como se pode ver
em seus próprios escritos cristãos, que tal fato era bastante comum em tais povos,
pois um de seus escritores relata claramente isso, quando diz que os próprios
cristãos Paulo e Barnabé, foram chamados de deuses por um desses povos.
— Sim, nos Atos dos Apóstolos de Lucas, está
descrito.
— Tal fato, era como uma homenagem para os persas,
que divinizavam seus líderes políticos e religiosos.
Os gregos já estavam bastante acostumados, em
suas mitologias, com seres metade homem metade divino, e mesmo com a
divinização total de alguns heróis gregos.
Os imperadores romanos se auto-divinizavam,
como uma forma, não apenas de orgulho, mas de manipular o povo, pois a ordem de
um deus não poderia ser recusada.
Fizeram-no nascer também de uma virgem, coisa
que para os povos egípcio, romano e indiano, não era novidade, por exemplo, o
deus indiano Krishna nasceu de uma virgem chamada Devanaguy. O deus egípcio
Hórus também teria nascido de uma virgem. Bem como o deus cultuado em Roma,
Mitra, de origem persa. E, finalmente, a fim de não Me alongar tanto, na
comparação de sua história à história de outros deuses, o associaram aos deuses
que venceram a morte, como Mitra, Hórus, Dionísio.
— Quer dizer que transformaram Cristo em um
mito?
— Sim. Principalmente para ser um obstáculo ao
maior inimigo da cultura Greco-romana, daquele tempo, o Judaísmo, que se
expandia assustadoramente, e que ao mesmo tempo se mantinha fechado para outras
culturas, como ainda hoje.
E se o que tornava forte a cultura judia era a
sua religião, por que não usá-la como arma contra os próprios judeus,
distorcendo-a, criando um novo judaísmo capaz de atrair simpatizantes do
próprio judaísmo, tornando-o mais passível de influência da cultura
Greco-romana.
— E assim nasceu Cristo como mito.
— Sim — disse-me o Diabo, completando:
— E para tanto, tornaram Cristo filho do deus
de Israel, a partir de uma própria profecia judaica. Tendo, no final, os
próprios judeus optados em levá-lo à cruz, tornando-os, de modo indireto,
inimigos dessa nova religião, o Cristianismo.
Bela solução, não acha? Não apenas criaram uma
forte contensão à expansão do Judaísmo, como ainda os tornaram inimigos desta
nova religião! O que explica em grande medida, por que mesmo ainda hoje, nenhum
documento foi achado que comprove a existência de Cristo.
E uma vez estando tudo pronto para dominar
outras religiões - incluindo textos, com fatos maravilhosos, como milagres –
estavam, consequentemente, prontos para dominar o mundo, sonho tão cultuado por
vários imperadores, Dario I, Dario III, Xerxes, César, Felipe da Macedônia, e,
finalmente, Alexandre, o grande, ou mesmo Hitler. Porém, para tanto, tal
doutrina esperava um imperador, que surgiu na figura de Constantino.
A partir de 315, os primeiros símbolos
cristãos começam a aparecer nas moedas do império de Constantino. Em 323 as
últimas representações pagãs são destruídas completamente. Tem início aqui,
toda a dominação que ainda vemos hoje.
É como eles próprios dizem “não há coisa
alguma escondida, que não venha a ser manifesta: nem coisa alguma feita em
oculto, que não a ser pública.” (Mc 4:38-21). E Eu completaria, nem que seja
pelas mãos do Diabo!
E tendo falado isso, aproximou-se novamente de
mim, pondo a mão em minha cabeça, dizendo-me ao ouvido:
— Mas o resto fica para a próxima.
Acordei em um banco da praça em frente à
igreja, com um guarda a me chamar. O dia já estava bastante claro. E ao passar
ao lado da igreja, procurei pela pequena porta, sem nada encontrar.
Atordoado pelo sol, e o barulho da cidade,
caminhei em rumo de minha casa, tendo sempre a sensação da confusão de um sonho
em minha mente. E em quanto vasculhava os bolsos, a fim de encontrar algum
dinheiro para minha condução, encontrei um cartão, em que estava escrito:
Diabo. Favor, aguardar.
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