quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ORGASMOS LITERÁRIOS (por Bosco Silva)



LER OS CONTOS ERÓTICOS DO BORNAL É TER VERDADEIROS ORGASMOS LITERÁRIOS!!!

E como prova que o BORNAL incentiva a literatura e o orgasmo temos, abaixo, a pornostar americana Stoya demonstrando como é ler tendo um vibrador entre as pernas.



A ESPECIALIDADE DE LILÓ (de Hilda Hilst)



Conheça Liló, "o lambe fundo".
Um belo conto sacana da premiadíssima escritora Hilda Hilst.

A ESPECIALIDADE DE LILÓ

Antes da fala da igreja vou falar do bordel a 30 quilômetros da Gota do Touro. No bordel todo mundo gostava de ver Liló lamber as putas. E ele adorava que o vissem. Era um sujeito atarracado, elegante, doidão por xereca de puta. Tomava três ou quatro cálices de cachaça puríssima que as mulheres encomendavam lá de Minas, e aí começava um ritual danado. Dizia: quem é a primeira hoje? As mulheres riam, os homens davam seus palpites. Nessa noite havia uma moça novata, chamada Bina. 18 anos, a cabeleira opulenta até a cintura, ancas avantajadas, seios delicados, boca de mulata, polpuda, e que dentes! Liló só estava interessado na cona da moça. Todo mundo começou a gritar Bina! Bina! Ela riu dengosa, fez muxoxo de acanhadinha e liló foi ajeitando a cadeira de veludo rosa, fofa, porque era naquela cadeira que ele gostava de examinar qualidade, espessura e tamanho das cricas. 

O pessoal ficava à volta bebericando, ele mandava a mulher se sentar, fazia vênias, perguntava se não queria um gole de vinho doce, era gentil feito embaixador. Nesse dia, então, foi Bina. Liló gostava da moça vestida. Ele ficava só de cuecas. Um cuecão muito branco, largo, a caceta pra dentro. Bina sentou-se. Alguns homens já ficavam de pau duro logo nesse pedaço. Outros não aguentavam ver até o fim e ejaculavam ali mesmo encostados nas outras donas. Liló ajoelhava-se. Ia levantando devagarinho a saia da moça dizendo “abre lindinha, abre um pouco mais, vem mais pra frente da cadeira, não fica nervosa bichinha”. O prazer de Liló era o acanhamento postiço da mulher. Todas sabiam que ele só gostava se a mulher fingisse pudor, um pouco de receio no início, um tantinho de apreensão. 



Quem ia ser chupada já sabia disso. Gostava também que usassem calcinha. Ia empurrando o tecido da calcinha para a virilha da mulher e esticava os pentelhos devagar. Depois tirava a calcinha e começava a examinar a boceta. Vejam, ele dizia, esta é de cona gorda, peitudinha de boca. Os homens se inclinavam. Alguém dizia: deixa eu dar uma lambida, Liló? Calma, cara, o assunto é comigo agora. Algumas ficavam logo molhadas e aí ele gostava muito, punha o dedo lá dentro e mostrava: vê, gente, já tá empapada. Dona Loura, a gerente (era assim que era chamada a cafetina), trazia uma almofadinha de cetim azul e punha debaixo das coxas da mulher. E Liló começava o trabalho. De início dava uma grande lambida e parava. Bina se torcia inteira. Ele perguntava: “quer mais?” Ela dava um gemido de assentimento. “Então fala que quer mais, senão não lambo mais.” “Quero mais, Liló, Por favor.” 

A caceta de liló era um talo duro e gotejante. Uma das putas deitava ao lado dele e começava a chupá-lo. Ele ia lambendo Bina igual à cadela que lambe a cria, o linguão de fora. Parava de vez em quando. As mulheres seguravam a cabeça da que estava sendo chupada e alguns homens a beijavam na boca outros nos seios. Tinha jeito de mesa de cirurgia aquilo tudo (sorry, médicos). Liló só queria a cona e ejaculava espasmódico na boca da outra no tapete, enquanto Bina gozava na boca de Liló. Em seguida Liló levantava-se com um grande sorriso e dizia: “Meu nome é liló, o lambefundo. E mais uma rodada pessoal, de cachaça especial, dona Loura!” Depois não queria mais mulher alguma. Tomava dois cálices no balcão do bar do puteiro e saía com passadas rapidinhas, ereto e sempre muito elegante.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

EXTRATOS NOCTÍVAGOS III (de Renê Romana)

by Helmut Newton


Eu que nunca fui santa e nunca fui puta;
Eu que sempre tive um controle sobre minha libido;
Eu que sempre achei que amar não rima com pecar e amor não rima com dor;
Eu que sempre fui tão coerente tão consciente em relação a essa coisa de se entregar, 
me sinto carente e querendo coisas indecentes no Seu colchão de amar;
Eu que nunca senti tremores pelas artérias de forma tão gratuita me vejo assim, 
perdida por um louco que não tem rosto, que não tem alma, que não tem memória...
mas esse louco tem o que eu mais quero; Sexo, puro sexo correndo pelas suas veias!

Enjoy Mister!
eis-me aqui,  a notívaga quase suicida, quase louca, quase nua, quase tua...
um simples toque teu e terás o meu melhor sabor, servido na tua bandeja, 
em cima do teu colchão, derretendo em gozos pela tuas mãos.

HOMEM SEM FÉ (de Ageu Pazoud)

by Arthur Fellig "Weegee"



Por trás de tudo isso
Velado e com a emergência cínica
da palavra
ora está...ora e se vai...
tristonha...medonha...
mas também risonha.
Aqui, ali, acolá,
E não mais...
Aquele existir que nunca
Consegui dizer-te.
Que nunca consegui, em verdade
te contar como foi, como se deu.

A sentença: “a palavra não basta!”.
Que angústia em minh’alma!
Falta de fé na palavra.

Afinal, estou um homem sem fé.
Sou um homem sem fé
no fim da vida.


TEXTO DA REDENÇÃO (de Haroldo Brandão)

by Saul Leiter


O texto foi escrito na cidade de Redenção-Pa.

Como se fosse uma luta ele se rendeu, rendeu-se a mediocridade, a decadência, a hipocrisia, apesar de ter lutado para superar todas as batalhas que tentou vencer na sua vida burguesinha de merda. Dobrou na Dr.Assis e deitou lenha, ninguém segura o bonde, não é o bonde da esperança, é um bonde da barra pesada, do beco. Apesar de tudo é preciso comer, apesar de tudo é preciso viver, apesar de é preciso amar, apesar de...  todos vão morrer um dia. As receitas ensinadas são sempre as piores, embora embaladas em papeis de seda que esgazeiam os olhos embaçando a realidade, mas quem quer viver a realidade....todos continuam a sonhar pesadelos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A MENTE HUMANA E A BUSCA DA VERDADE (de Bosco Silva)





CRENÇA E CONHECIMENTO

Viver, inevitavelmente, requer que obtenhamos respostas para algumas perguntas de natureza extremamente práticas e vitais, como onde e como encontrar alimentos, como evitar acidentes, como obtermos proteção contra as intempéries da natureza, etc.

E nessa busca incessante por respostas verdadeiras, a mente humana se depara com um primeiro obstáculo: a confusão entre CRENÇA e CONHECIMENTO.

Embora muitas vezes estas ideias se confundam, elas não são, de modo algum, sinônimas. Ambas possuem origens diferentes.

A confusão entre CRENÇA e CONHECIMENTO é uma consequência de outra, entre QUERER e PODER, também bastante popular, que apesar do alerta do ditado, “QUERER NÃO É PODER”, são incessantemente confundidas, já que tanto CRER quanto QUERER parecem estarem muito mais ligados a sentimentos, desejos, vontades, do que ao conhecimento. Enquanto CONHECER e PODER, por sua vez, parecem estarem muito mais ligados a realidade.

E assim, como o ditado anterior, podemos também dizer: CRER NÃO É CONHECER.

De fato, para se CRER em algo não é necessário que tenhamos CONHECIMENTO sobre este algo, muitas vezes basta apenas que este algo nos traga algum benefício psicológico, ou emocional, para se crer nele, como, por exemplo, na experiência chamada EFEITO PLACEBO, em que alguns pacientes são enganados, quanto as propriedades de determinado remédio, isto é, crêem verdadeiramente que estão tomando determinado remédio, embora estejam tomando apenas bolinhas de trigo, afim de testar se o suposto efeito saudável de algum medicamento se deve ao efeito psicológico do paciente, ou, de fato,  a própria eficácia do medicamento. Em muitos casos o efeito saudável tem apenas origens psicológicas. E assim, tais pacientes passam a crer em tal medicamento, não por terem o conhecimento que este é verdadeiro, e faz bem, mas apenas porque houve um efeito benéfico, embora tenha sido apenas psicológico.

Ou como na crença em Papai Noel:

As crianças crêem em Papai Noel não por terem conhecimento dele, mas apenas por confiarem em seus pais, na autoridade do que dizem a respeito do “bom velhinho”, etc.

Ou, ainda, como a crença em alguma religião, pois muitas vezes cremos numa determinada religião apenas porque nossos pais, avós, acreditam nela, isto é, acreditamos nela apenas por tradição. Assim a crença em tal religião se assemelha muito ao uso de nossa linguagem, que herdando de nossos familiares, herdamos apenas por HÁBITO e REPETIÇÃO. Origens que nada têm haver com o conhecimento. E que, por sua vez, não origina nenhuma forma de conhecimento, mas apenas crenças sem fundamentos, ou preconceitos.

Portanto, CRER possui origens diferentes de CONHECER.

Por outro lado, diferentemente de CRER, CONHECER, requer origens bem diferentes, como objetividade, imparcialidade, independência com relação a toda tradição ingenuamente aceita, etc.

ORIGEM DO CONHECIMENTO

Embora a inteligência, a razão, sejam qualidades comuns aos homens, nem sempre, porém, estas foram privilegiadas nas sociedades humanas, no modo de ver as coisas.

No passado, como ainda em grande parte no presente, outra qualidade, também, comum aos homens, dominou, e teve um privilégio maior, no modo de ver as coisas: a CRENÇA.

Era a norma, a crença, por exemplo, que o funcionamento do mundo, com todos os seus fenômenos, fosse o fruto de uma vontade quase humana: o mundo e o seu funcionamento eram frutos da vontade dos deuses.

Deste modo, para povos antigos, como os gregos, os raios e trovões eram resultados da ira dos deuses, assim como as tempestades; as erupções de vulcões; ou a calmaria dos mares, etc.

Todos os fenômenos naturais eram explicados por meio de tais vontades, por meio de uma tradição e autoridade de alguns, que se diziam como intérpretes de tais vontades, e que, por isso mesmo, ninguém poderia contestá-los.

Porém, vozes surgiram nessa época que discordaram de tais idéias, e que em detrimento da CRENÇA, botaram a inteligência, a razão, em primeiro plano, como modo de interpretar e conhecer o mundo.

Estes primeiros pensadores, ou cientistas, com base nos conhecimentos adquiridos de outros povos, como os egípcios, que eram capazes de preverem por meio da matemática eclipses do sol, perceberam que o sol, que nesta época era visto como um deus, não existia, ao contrário do que era dito na época, à sua bel vontade, mas, sim, seguia regras que se repetiam com freqüência, e que podiam, por meio do conhecimento matemático, ser calculada.

Conta-se, por exemplo, que o matemático grego Tales de Mileto, cinco séculos antes de Cristo, assombrou seus contemporâneos ao prever o eclipse solar com tal precisão que, para tal povo, parecia ser inconcebível que um simples mortal fosse capaz de tal feito. O que motivou a muitos verem nisso um ato divino, levando, por sua vez, certamente, a verem em Tales um deus, ou como alguém que possuísse poder divino.

Logo, passaram também a interpretar outros seres e fenômenos matematicamente, descobrindo, pouco a pouco, que estes também obedeciam a determinadas regras físicas e matemáticas. Por fim, descobriram que o próprio pensamento possui suas regras, as chamadas regras lógicas.

Foi justamente neste momento que a ciência surgiu, quando os homens perceberam que a natureza, ao contrário do que era dito, obedecia a certas regras, que poderiam ser descobertas, e que graças a essas o mundo funcionaria. Regras que, diferentemente das CRENÇAS, são independentes de vontades, tradição, autoridade, religião, moral, opiniões, etc. Eis aí, a grande diferença entre CRENÇA e CONHECIMENTO.

Isto foi uma verdadeira revolução para aqueles que buscavam a verdade, pois como foi dito, pela primeira vez a idéia de verdade, tornou-se independente da mera opinião humana, limitada à determinado lugar e tempo.

Antes, quando alguém falava sobre a idéia de verdade, esta idéia tinha sempre como base alguma religião, sentimento, tradição, autoridade,... enfim, alguma crença. O que causava infinitas disputas, já que cada qual achava que sua religião, seu sentimento, sua crença era a única verdadeira, e isto fazia com que a verdade não pudesse ser universal.

Porém, com o advento da ciência, baseada em leis físicas necessárias e universais, isto é, leis físicas que sempre são as mesmas em todo lugar e em todos os tempos, pôde-se pensar em uma verdade universal, que todos os homens poderiam aceitar.  

Esta nova forma de pensar, ao contrário da antiga, tornou-se, não apenas, tão eficaz na interpretação do mundo, como útil à vida humana, já que o homem percebeu, também, que CONHECER É PODER.  Poder de, conhecendo as leis da natureza, o modo como as coisas funcionam, usar tais leis para o benefício do homem, e assim dando ao ser humano um tempo de vida extremamente longo, se comparado com o antigo; curando, ou amenizando, todos os males físicos, etc.

Hoje, tem-se um conforto, dado ao homem comum, que mesmo os mais poderosos reis antigos não possuíam.

VERDADE E RELIGIÃO

Se a ciência é o ápice do CONHECIMENTO humano, a religião, por outro lado, o é da CRENÇA.

Fica difícil, por exemplo, dissociar a religião de sua base emocional, que é em grande parte inconsciente e irracional.

Muitos, por exemplo, estão prontos a abraçar qualquer crença que lhes dê certo conforto emocional, que lhes possa amenizar o medo da morte, do desconhecido, da solidão, da total falta de sentido da vida, ou da morte de entes queridos, sem ter a mínima preocupação em saber se é verdadeira, pois o que lhes interessa em primeiro lugar é o conforto obtido. Tanto que muitas vezes estes reagem com VIOLÊNCIA àqueles que lhes tentam alertar sobre o perigo de sua falta de critério de verdade, como se quisessem manter-se, por livre e espontânea vontade, em tal erro, ou evitarem demonstrarem a fragilidade de tal crença. O que explica bem porque muitos, embora tendo um privilegiado intelecto, e bastante conhecimento, possuem superstições religiosas.

Porém, sem um critério de verdade, que deve ser necessário e universal, como as leis físicas, não se pode decidir-se por uma crença verdadeira.

Como, por exemplo, crer que a religião que se acredita agora é verdadeira em relação a tantas outras que desapareceram no passado, embora estas sejam contraditórias entre si?

Todavia, quando a crença, mesma a adquirida por tradição, quando testadas por critérios de verdade, e não negadas, por estas, tornam-se, por sua vez, crenças racionais.

Porém, quem se entrega a uma crença, simplesmente porque esta lhe faz um bem psicológico, sem outro atrativo que não seja a verdade, renuncia a esta.

Contudo, aquele que quer conhecer a verdade deve estar preparado para ela, pois o verdadeiro, não significa, de modo algum, que este seja reconfortante. A verdade pode chocar, ofender, traumatizar, como um cadáver putrefato, por isso, nem todos estão preparados para ela. Mas, certamente, pode libertar as mentes das falsas aparências daqueles que a conhece.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A BARATA OU SOB A LEI DE MURPHY (de Bosco Silva)




Este conto é uma singela homenagem antecipada ao centenário do livro “A Metamorfose” de Franz Kafka, escrito em novembro de 1912. Um dos primeiros livros que li.

A BARATA OU SOB A LEI DE MURPHY

(Lei de Murphy: Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais: dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.)


O SUOR JÁ MOLHAVA SEU ROSTO, neste momento contraído pela dor dilacerante que sentia. Precisava urgentemente de um banheiro. O banheiro mais próximo estava apenas a alguns metros.

Era um daqueles sujos, fétidos e nauseantes banheiros de bar, em que os excrementos pareciam se acumular a anos.

Ao sentar-se e sentir as primeiras sensações de alívio, algo lhe chama a atenção: uma barata passeia livremente pelo chão imundo e salpicado de excrementos humanos.

Uma barata, inseto que desde pequeno lhe causava repulsa, não tanto como efeito do medo, ou da fobia de ser atacado e devorado por terríveis animais, mas pelo nojo que tal ser lhe inspirava. Ser que estava tão bem adaptado e à vontade em tão inóspito lugar.

Como se não bastasse as dezenas de moscas, que incansavelmente tentavam penetrar-lhe os orifícios, havia esta nova ameaça. Porém, sentia-se um pouco como parte daquele lugar. Afinal, sua vida até aquele momento tinha sido uma grande merda! Sentia vontade de acabar, ao puxar a descarga, com tudo aquilo. Porém, mesmo que pudesse não conseguiria, já que ali nada parecia funcionar.

O inseto parecia olhá-lo, desafiá-lo. Interpretava isto como uma forma do inseto demonstrar sua superioridade, sua maravilhosa adaptação àquele lugar. Já não sabia se defecava ou se vigiava a ameaça ali existente. Sentia-se humilhado e prostrado por tal ser, afinal, este parecia bem mais adaptado àquele banheiro, que ele à sua vida.

De repente, o inseto ensaia um voo em sua direção, contorna-o e pousa em meio ao chão. Desesperadamente tenta esmagá-lo com os pés... não consegue.

Mirando-o de longe, o inseto parece ruminar um próximo ataque...

 Ao lembrar-se de sua infância, recorda-se, desesperadamente, que era ótimo em cuspe à distância. Prepara-se e tenta uma, duas, três, quatro vezes, mas, novamente, não consegue acertá-lo.

Um novo voo rasante... Desta vez tenta esmagá-lo com um livro que ganhara: A METAMORFOSE de FRANZ KAFKA. A idéia parecia ter dado certo, pois a barata aparentemente sumira. Procura-a na parede, no chão, entre as folhas do livro, não a encontra.


Ao menos por algum momento a paz tão procurada! Volta novamente a concentrar-se em seu ato escatológico.

Inesperadamente, sente uns espetar entre suas nádegas, como pequenos espinhos levemente pressionados contra a pele, que caminham a esmo. Não tem dúvida, a barata não está morta. Pula desesperado de sua latrina, com movimentos frenéticos. Durante os quais deixa cair sua aliança sob os dejetos, que agora aumentara grandemente. Enlouquecido por tal ato tenta um último ataque definitivo. Vasculha cada palmo de chão; lambuza-se de excrementos, ao vasculhar cada buraco, cada brecha no chão. A loucura parece mesmo ter invadido sua alma; e novamente, não a encontra!

Ao tentar recuperar sua aliança, encontra o inseto maldito entre seus excrementos. Orgulhoso, rindo às gargalhadas, despeja seus últimos excrementos sobre tal ser, como forma de afogá-lo. Porém o inseto ainda se mantém vivo. Atormentado por tal visão encontra casualmente uma velha lata de inseticida, escondida entre o lixo no chão. Para sua felicidade ela ainda possui um pouco de seu conteúdo. E ao despejar o conteúdo na criatura, contempla com prazer a criatura debater-se.

Finalmente, ao esvaziar toda a lata em tal ser, obtém a morte tão esperada. Senta-se, e respira tranquilamente. Senti-se como um grande e poderoso rei em seu trono, ao final de uma longa e terrível batalha.

Encontra um último cigarro na carteira em seu bolso. Como prêmio, o acende, tragando-o vagarosamente, enquanto relembra, às gargalhadas, todo o ocorrido.

Após o último trago, joga a ponta de cigarro na privada que, ao contato com o inseticida inflamável, incendeia, queimando sua bunda, com queimaduras de terceiro grau.

Este foi mais um dia sobre a lei de Murphy!
     


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TRIPAS (de Chuck Palahniuk)



O conto narra os PERIGOS da MASTURBAÇÃO masculina. Uma atividade que, como narra o autor, às vezes, chega ser mortal.
Durante sua leitura em 2003, feita pelo autor, para promover seu livro, "35 pessoas desmaiaram ao ouvir a leitura". Então, CUIDADO!!!


TRIPAS
Inspire.
Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.
Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.
Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.
Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.
Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.
Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.
Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.
Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.
Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome. 
As pessoas na França possuem uma expressão: “sagacidade de escadas.” Em francês: esprit de l’escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa…. 
Enquanto você desce as escadas, então – mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.
Esse é o espírito da escada.
O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.
Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.
Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.
Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui.
Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem. 
Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.
Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha.
Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.
Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.
Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.
O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau.
Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.
Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.
O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.
Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.
O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos mais velho da Marinha escreveu.
No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.
Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado.
Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas.
O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d’água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos. 
Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.
Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.
Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nas quais você não se preocupa que te pegam.
A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.
Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cu chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.
Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.
Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.
Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.
Faço isso de novo, e de novo.
Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cu sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.
E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa. 
Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.
As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.
Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.
As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás… mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.
Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.
Então… eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cu. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.
Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.
Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.
Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.
Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.
O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.
Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.
Deus proíba que meus pais vejam meu pau.
Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.
Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d’água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.
Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.
Você então vê contra o que eu lutava.
Se eu largo, sai tudo.
Se eu nado para a superfície, sai tudo. Se eu não nadar, me afogo.
É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.
O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.
Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.
Algo sobre o qual nem os franceses falam.
Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos “Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça…,” os russos dizem, “Preciso disso como preciso de dentes no meu cu……
Mne eto nado kak zuby v zadnitse.
Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.
Droga… mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.
Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cu. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.
Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.
É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque.” E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.
Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim….
Precisava disso como precisaria de dentes no cu.
Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.
Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.
Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela porra daquele cachorro era maluco.”
Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, “Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo….”E então a menstruação da minha irmã atrasou. Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.
Nunca.
Essa é a nossa cenoura invisível.
Você. Agora você pode respirar.
Eu ainda não.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

AS MÃOS ASSASSINAS DE BENJAMIN BREEG (de Bosco Silva)




Um conto para os fãs da banda IRON MAIDEN, inspirado na música The Reincarnation of Benjamin Breeg (A Reencarnação de Benjamin Breeg).




PARTE 1 – HARRY E SEUS NOVOS ANTEBRAÇOS



Quando o telefone tocou, naquela madrugada, foi para uma agradável surpresa:

- Alô – com sua prótese mecânica, Harry atende com enorme dificuldade o telefone.
- Harry, aqui é seu médico, temos uma boa notícia para você. Recebemos a notícia de um doador, que tem aproximadamente a sua idade e o mesmo biótipo seu. Precisamos que você esteja no hospital imediatamente.
- Sim! Esta é uma agradável surpresa para mim, doutor. Estarei o mais rápido possível, aí.

Havia seis anos que Harry havia perdido os antebraços em um acidente automobilístico. E nesses seis anos, muitas foram as vezes que tentara o uso de várias formas de próteses, mas os resultados nunca foram os melhores. Elas machucavam seus braços. E por mais que tentassem imitar o formato e a cor da pele humana, sempre tinha alguém que lhe perguntava se queria ajuda, ou quando tinha perdido os antebraços. De modo que, aquelas próteses estavam longe de substituírem verdadeiramente seus antebraços. Por isso, tinha entrado para o programa de transplante de membros humanos. Um programa que se iniciava, e que ainda estava em testes, pois o perigo de rejeição de tecidos era enorme; além da dificuldade, claro, de se encontrar um doador que tivesse as mesmas características de quem receberia seus membros.

* * *

A cirurgia foi um sucesso, e logo Harry estava pronto para começar sua série de seções de fisioterapia. 

A possibilidade de rejeição lhe obrigaria a tomar medicamentos para o resto de sua vida, pelo menos enquanto não houvesse outro modo melhor. E os meses de fisioterapia se passavam com enormes progressos, muito acima das expectativas. Porém, foi quando coisas estranhas começaram a acontecer...

A primeira sensação estranha que sentiu, ao mover suas mãos e cariciar sua esposa, foi como se quem a cariciasse não fosse ele, mas uma outra pessoa. Havia nisso um misto excitante de alegria, por ter de volta o poder de cariciar novamente sua jovem esposa, com mãos verdadeiras, e a sensação de traição, por estas mãos serem de um outro homem. Sensação que Harry, com passar do tempo, não podia negar que apimentava seu relacionamento, trazendo um elemento novo para seu tão desgastado casamento.

Porém, com todas essas pequenas dificuldades de readaptação, sua vida transcorria agora em alegria, com sua esposa sempre pronta a lhe reconfortar a qualquer hora.

- Helen, você se lembra de como eram as palmas das minhas mãos antigas?
- Sim. Eram como essas – com Helen a cariciar suas novas mãos.
- Não falo do formato, mas sim de suas linhas. Não tinham uma linha da vida menor?
- Sim, querido, me parece que sim. E agora são melhores, você não acha? Significa que você viverá muito mais!
- É. Pena que não foram de muita serventia para seu antigo dono.
- Sim, mas para você será.

A vida transcorreria normal para Harry, se não fosse alguns pequenos inconvenientes.

Harry passou a se masturbar muito, bem mais que antes. E ao acordar quase sempre tinha a mão sobre o seu sexo, ou de sua esposa. O que para ele era natural, já que se devia ao ato de ter de volta tais possibilidades, mesmo que só fossem possíveis por mãos alheias, sendo, por isso, extremamente perturbador, já que o deixava demasiadamente confuso, pois era como se as mãos estivessem descobrindo seus corpos. O que o levou a consultar um psicólogo.

- Bem, senhor Harry, alguns pacientes parecem sentir que ao receberem partes de corpos que não são seus, também juntos destes lhes parecem vir uma parte da personalidade de seus antigos donos. Isso me parece ser, sem sombra de dúvida, um produto de suas mentes, de suas imaginações. O que não deve lhe preocupar. E assim como há uma readaptação destes órgãos aos corpos de seus novos donos, deve haver também uma readaptação psicológica relativo aos mesmos. O que pode ser ilustrado, claramente, no caso de membros amputados, em que o paciente continua sentindo dor mesmo após os membros terem sido amputados. Com o tempo, portanto, estas sensações devem desaparecer. Não se preocupe – disse-lhe o psicólogo.

Por mais que tais palavras fossem confortadoras, e de um especialista, a sensação de ter partes de outra pessoa era uma idéia estranha. E Harry sempre achou que poderia vencê-la e se adaptar a esta nova realidade dos tempos modernos. Mas a verdade é que Harry sentia-se cada vez mais impressionado com o fato. Não poucas vezes tentou imaginar o velho dono de tais partes, chegando mesmo a sonhar com tal fato. Um sonho recorrente passou a dominá-lo nesta época, em que o morto, sem braços, vinha-lhe pedir seus antebraços de volta. Harry acordava em pânico.

Foi também nesta época que um novo comportamento estranho começou a dominá-lo.

Durante suas relações sexuais com sua esposa, o clímax de tal ato era inevitavelmente acompanhado pela esganadura da esposa, por suas novas mãos. Tais atos deixaram-no profundamente preocupado e triste, ao ponto de evitá-la, sempre. E embora as palavras do psicólogo, não obstante, ecoassem em sua mente, a idéia anterior ainda lhe perturbava terrivelmente. O que o levou ao desejo mórbido de conhecer a história do dono de tais mãos.

Contudo, esta tarefa não era nada fácil. O hospital possuía uma política extremamente forte de privacidade. Os doadores tinham seus nomes, como o resto de seus dados, guardados sob sete chaves. Porém, não parecia a ele ser de tal forma que não pudesse ser tentado, ou que não pudesse ser comprado.

Harry lembrou-se então de um velho amigo de escola, exímio arrombador e que agora se entregara integralmente ao uso de tal arte, Thomas Shubb. E imediatamente pôs-se a procurá-lo, encontrando-o em um bar.

- Oi, Shubb, como vai?
- Ao sabor das estações. Soube que sofreste uma operação, qual foi?
- Transplante.
- Transplante! Coração?
- Sim.
- Menos mau.
- Por quê?
- Pior seria algo que mantêsse contato com outra pessoa, como um pênis, por exemplo. Não suportaria; seria como se houvesse outro entre eu e minha parceira, embora minha mulher, certamente, adoraria. Sabe como é, não pelo tamanho, mas pela novidade, após alguns anos elas tendem a desejarem outros – disse Shubb ostentando tímido sorriso amarelo nos lábios.
- Sim, mas a questão é outra.
- Diga.
- Gostaria que fizesse um trabalho para mim.
- Somente um trabalho sujo traria você até mim, Harry. Se é sobre sua mulher, perdoe meu comentário antes – com Shubb ostentando novamente um novo sorriso amarelo nos lábios e pensando que se tratasse de um caso de traição.
- Não há de quê; o assunto é bem outro, embora a hipótese do trabalho sujo você tenha acertado em cheio!
- Então, diga.
- Gostaria que você obtivesse o nome do doador. Seus dados só podem ser obtidos de forma ilegal.
- Política de privacidade. Não aceitam devolução, hein? – risos.
- Gostaria muito de agradecer à família. Seria possível?
- Nada que um bom dinheiro não compre.
- Evidentemente. Quanto?
- Dez mil dólares. Metade antes metade depois.

Harry assinou um check e, junto com seus dados, deu-o a Shubb.

- Bem, nos encontraremos brevemente, Harry.
- Então, tenha uma bela noite!
- Igualmente.

Os dias transcorreram, sem nenhuma novidade, com Harry e seus inconvenientes, até que finalmente Shubb ligou:

- Alô, Harry, venha cá imediatamente, no mesmo lugar; traga o pagamento, temos novidade.

Harry pôs-se imediatamente à caminho, e com a ajuda de um táxi estava agora no lugar escolhido.

- Quais são as novidades, Shubb?
- Bem, antes quero que saiba que não foi nada fácil. A coisa, mesmo, é bem guardada, mas nada que alguns subornos, e arrombamentos, não resolvessem.
- Qual o nome?
- Seu nome era Benjamin Breeg. Um doador da cadeia de Cottonfield – disse Shubb, e continuou:
- Bem, parece que o cara não era um bom sujeito: foi morto na cadeira elétrica. Pelo menos, pode-se dizer que você ganhou uma carga nova de energia, literalmente, de vida, não acha Harry? – com Shubb às gargalhadas.
- Bem, tome seu pagamento.
- E aqui está todas as informações que me foram possíveis.
- Obrigado, Shubb.
- Boa sorte com sua nova família.
- Como?
- Com a família do doador.
- Ah, sim, claro, claro...

Enquanto Harry ia em busca de um novo táxi, algumas coisas agora pareciam fazerem sentido, como as marcas leves que haviam em seus pulsos, ou melhor, do morto. Pareciam serem de queimaduras, como aquelas que se viam em filmes, ou mesmo em documentários, sobre pena de morte na cadeira elétrica, devido a condução da eletricidade por meio das gotas de suor.

Harry entendia agora ainda mais porque tudo era feito sob extremo sigilo. Era muito fácil alguém se impressionar com a história do morto. Parecia que ele não tinha dado a devida atenção às palavras do psicólogo. Afinal, qual a diferença que havia entre as mãos de um assassino e as que eram suas? Todas foram ou eram agora comandadas pelo mesmo cérebro, seu, e isso que agora importava. Todas eram apenas instrumentos de algo mais importante, onde, de fato, residia a consciência, a personalidade e a vontade. Além do mais, o tratamento ia tão bem, ele podia fazer coisas que antes não poderia, coisas simples, mais extremamente importante, como escovar os dentes, ou acariciar sua bela esposa. E havia também a possibilidade de outros como ele, se darem bem. Não era correto atrapalhar uma pesquisa que ia tão bem, com seus medos infantis. E talvez Shubb não fosse um idiota completo, Helen nunca tivera outro homem, casou-se com seu primeiro namorado, e a possibilidade de estar com um homem que é a mescla de um outro, talvez atiçasse inconscientemente suas taras, como um ménage atroi inconsciente... mas isso é algo doentio, mórbido, pois isso é o  mesmo que transar com um morto, ou pelo menos com as partes de um, é pura necrofilia! – pensou.

Harry nunca pensara nisso, nunca meditara sobre tantas possibilidades, ou perversidades conseqüentes, talvez a possibilidade de ter uma vida normal obscurecia todas elas. E era nisso apenas que devia pensar agora.     

Então, Harry, ao chegar em casa, desprezou aquele papel dentro de um fundo escuro de uma gaveta qualquer.

PARTE 2 – “O MÉDICO E O MONSTRO”



Os dias seguintes se passaram em tranqüilidade, embora Harry soubesse que se devia muito mais a sua atitude de evitar aborrecimentos que propriamente à naturalidade.

Seu contato com a esposa diminuíra muito, já que tentava a todo custo não machucá-la, e para tanto, esperava que esta fase ruim de sua vida passasse sem danos. Para ele era apenas uma questão de tempo, de readaptação à sua nova vida.

Porém, houve um dia que Harry acordou com ondas de calor pelo corpo, e com o desejo irresistível de fazer sexo. Com sua esposa não poderia, já que temia machucá-la. E, assim, pôs-se imediatamente à procura de alguém, que satisfizesse seus desejos incontroláveis.

Naquele dia, Harry se relacionou com várias mulheres, pagando-as várias vezes. E embora, nada parecia satisfazê-lo, isto, tornou-se, para ele, um vício irresistível.

Com passar do tempo, Harry conseguia cada vez menos satisfazer-se. Em alguns dias, não conseguia se satisfazer nem com dez mulheres. Tinha relações sexuais até seu pênis ferir e sangrar.

Durante uma de suas fugas noturnas, Harry avistou de seu táxi, uma jovem mulher solitária que aguardava seu ônibus. Desceu do táxi, pois teve a idéia de convencê-la a sair com ele. Sob a recusa da mulher, Harry esganou-a ferozmente, causando sua total inconsciência.

Ele não podia acreditar no que tinha feito, sob um misto de inconsciência e prazer, a teria matado, estuprado e a carregado, sobre os muros e telhados das casas que abundavam em tal lugar, com a força de suas mãos, que agora pareciam terem duplicado. E mesmo estando inconsciente, desenhou nela símbolos que lhe pareciam serem incompreensíveis, em seu corpo nu.

Harry, então, descobriu que o que mais o excitava era quando resistiam à sua investida, à sua cantada, ou ao seu dinheiro. Isto, para ele tinha um sabor especial, a violência era um poderoso afrodisíaco, agora, para ele.

A partir de agora, ele era uma criatura noturna que se esgueirava atrás de novas presas, pelas ruas poucas movimentadas, que abrigavam um grande número de prostitutas da cidade. Era uma espécie de versão nova de “O MÉDICO E O MONSTRO”, ou de JACK, O ESTRIPADOR, uma criatura dupla que trazia em si um instinto incontrolável e demoníaco, com uma parte negra que tentava incansavelmente dominá-lo.

Ele estivera enganado, suas mãos agora pareciam comandá-lo, pareciam terem vontade própria, e por mais que tentasse dominá-las, não conseguia. O seu lado negro parecia cada vez mais comandá-lo.

Suas novas mãos sabiam matar, e nada podia ser feito por si próprio para ajudá-lo, as mãos lhe interrompiam. Mesmo quando tentava relatar seus novos segredos, as mãos lhe impediam, com movimentos bruscos, tapando-lhe a boca, mantendo-o imóvel, ou causando-lhe dores insuportáveis pelo corpo.

Harry tentara escrever, inutilmente, um recado para Helen, e em vão adormeceu sobre a escrivaninha... Ao acordar sob pequenas tapas em seu rosto, imaginou serem de sua esposa, mas as tapas vinham de suas novas mãos, que sacudiam-no, tentando acordá-lo.

As mãos puseram-se, então, a escrever-lhe um recado, ao qual Harry leu estarrecido:

Eu sou Benjamin Breeg. Preciso de seu corpo e de novas almas.

*  *  *

Havia noites que matava duas, três, prostitutas por noite, sempre com seu mesmo “modus operandi”, estrangulava, desenhando símbolos enigmáticos por seus corpos.

Sua vida mudara totalmente; sua vida social se resumia agora apenas em freqüentar as ruas escuras e estreitas da parte mais baixa da cidade. Seu diálogo com Helen se resumia apenas à frases monossilábicas. O que certamente despertou a preocupação da esposa, mas para Helen era apenas um período que Harry clamava por privacidade, para poder botar as coisas em ordem. Porém, o que Helen não sabia era que seus crimes se multiplicavam a cada dia, com seus crimes ganhando notoriedade, principalmente da imprensa.

Até que, ao sair para o trabalho, Helen ouvi, a seguinte notícia, no rádio:

Assassinatos se sucedem com enorme freqüência nos bairros pobres da cidade. Mulheres, em sua grande maioria prostitutas, são mortas estranguladas, e têm seus corpos tatuados.

O modo de agir do assassino, ou mais provável dos assassinos, se assemelha muito ao modo de agir de Benjamin Breeg, mais conhecido como “O Tatuador”, morto na cadeira elétrica de Cottonfield.

Breeg tatuava suas vítimas com símbolos esotéricos, após estrangulá-las e estuprá-las.

A polícia não descarta a possibilidade de que fanáticos, ou admiradores de Breeg, estejam por trás de tais crimes, já que o esforço expedido para tais crimes supera a força de um homem.

*  *  *

Helen também ouvira no rádio que os ataques sempre aconteciam à noite, e subitamente lembrou-se das misteriosas saídas do marido; lembrou-se também que algumas vezes Harry ostentava marcas no pescoço, como provocadas por unhas, ou algo parecido.

Sentiu-se culpada por tal associação em um momento tão frágil de suas vidas, mas nada podia evitar associá-las, como as manchas de tintas que Harry trazia em suas camisas.

Helen foi para o trabalho extremamente pensativa.

Ao chegar em casa, lembrou-se que dias atrás Shubb tinha ligado. Fazia anos que Harry perdera seu contato, por isso imaginou do que se tratava.

Sabia da vida conturbada que Shubb vivia, o que aguçou ainda mais sua curiosidade.

Ao procurar por uma agenda telefônica, encontrou, por acaso, o papel que Shubb havia entregado. E ao pegá-lo, leu assustada, que seu doador era o assassino Benjamin Breeg.

Por alguns instantes, não pôde acreditar, mas todos os dados estavam corretos: as datas, o hospital, o médico, etc. Tudo estava exato e correto. Tudo em seu devido lugar. Até mesmo o número e o nome de Thomas Shubb. Agora sabia por que Harry o contactara.

Seriam meras coincidências ou Harry teria incorporado a mente doentia e assassina de Benjamin Breeg. Havia um modo melhor de saber:

Imediatamente pôs se a ligar e contactar Thomas Shubb...

Encontraram-se, então, em uma parte remota da cidade.

- Shubb, sei que você fez um trabalho para o meu marido.
- Trabalho, Helen?
- Vamos, não adianta mentir, tenho-o em mãos, veja – Helen tirou-o de sua bolsa, mostrando-o.
- Sim. Mas calma Helen, a discrição é a chave de meu trabalho. E como vai Harry?
- Gostaria que fizesse um trabalho para mim. Gostaria de saber tudo sobre quem foi Benjamin Breeg.
- Por quê?
- Harry está impressionado com os últimos fatos.
- Sim, eu sei, há um grupo de assassinos que estão matando em nome de Benjamin Breeg. O cara tinha discípulos.
- E é fácil alguém se impressionar com isso.
- Ligarei assim que tiver notícias, Helen.

PARTE 3 – O DIÁRIO DE BENJAMIN BREEG



Enquanto Helen passava as últimas horas aguardando ansiosamente uma ligação de Thomas Shubb, Harry lutava ferozmente, com o que ainda restava de seu eu, contra o lado negro de sua mente...

Após alguns dias, Shubb ligou, e conversaram em um bar distante da cidade:

- Benjamin Breeg foi um homem atormentado, que minutos antes de morrer na cadeira elétrica de Cottonfields, jurou que voltaria, novamente – disse Shubb, com a voz baixa. – Ele era mesmo um homem esquisito, não aparentava a idade que tinha, pelo menos foi o que disse o senhor que tomava conta das casas, entre as quais a que morou, antes de Cottonfields.

Praticava estas coisas esquisitas, como magia sexual. Acreditava que através do sexo a alma podia se libertar, ou tornar-se cativa. Morrer para ele era libertar-se, por isso acreditava estar fazendo um favor para aqueles que escolia.

Foi preso pela morte de uma jovem que lhe implorou ser morta; Breeg a matou após ter tido relações sexuais com ela. O júri não acreditou em seus argumentos, também não acreditaram que fosse um homem louco. Foi condenado por estupro seguido de morte.

Muitos o consideravam um mestre, um homem bastante inteligente e sábio, um discípulo tardio de Aleister Crowley. Todos que o conheciam o amavam.
    
Desde menino, diziam que possuía poderes sobrenaturais, como o poder da clarividência. Via imagens atormentadoras, em seus sonhos, sobre o futuro da humanidade. Ficou órfão muito cedo, seus pais morreram em um incêndio na própria casa, alguns dizem que devido aos seus próprios poderes, pois Benjamin estava lá, e nada sofrera.

Portanto, Helen, não há razão para tanta loucura, a loucura estava apenas na mente de Benjamin Breeg, não em seus braços.
- Sim, obrigada Shubb. Quanto lhe devo?
- Não há de que Helen fica pelos velhos tempos. Dê lembranças à Harry.
- Ok.
- Ah, já ia esquecendo, Benjamin escreveu alguns livros, tome este livro de notas que encontrei em meio das coisas do velho senhor, pode lhe ser útil.
- Sim, Shubb, obrigada.

Em quanto Shubb se dirigia ao seu destino, Helen pôs-se a folhear as folhas do velho livro de Benjamin, vendo os mesmos símbolos que tinha visto nos jornais, desenhados nos corpos mortos de suas vítimas.

Ao retornar à sua casa, vê Harry deitado sobre a escrivaninha, como de costume. Vê aquela maldita mão ostentando sua aliança de casamento. E ao ver aquele dedo indigno a carregar tal símbolo, lembrou-se de como era suas vidas, antes que Benjamin Breeg se interpo-se entre elas. Subitamente um ódio extremo subiu-lhe a alma, e um pensamento fixou-se em sua mente, imaginando que havia um modo de retornar aquela paz antiga. Dirigiu-se, então, para a cozinha pegando um belo facão que ganhara de casamento. Parecia-lhe que quem lhe dera havia premeditado seu uso naquele dia. Aproximou-se e desferiu golpes e mais golpes, naquela mão indigna, fazendo com que os dedos voassem por sobre sua cabeça, e Harry acordasse aos gritos.

Harry levantou-se, desarmou-a e estrangulou-a, com a força de dez homens, matando-a instantaneamente. E pôs-se em fuga.

*  *  *

Antes de pegar a auto-estrada, parou o carro de Helen para tomar um ultimo drink, em um bar à beira da estrada que o conduziria para fora da cidade.

Ao passar pela porta, que conduzia aos banheiros, foi inadvertidamente esbarrado de modo brusco por uma mulher que acabara de sair do banheiro.

- Desculpa, posso lhe ser útil – vendo a jovem a mão mecânica que Harry voltava a usar em sua mão esquerda. – Meu nome é Elizabeth Denver. E o seu?
- Meu nome é Benjamin Breeg – batendo a porta bruscamente em seguida.



THE REINCARNATION OF BENJAMIN BREEG

Tradução: A reencarnação de Benjamin Breeg

IRON MAIDEN

Deixe eu te contar sobre minha vida
Deixe eu te contar sobre meus sonhos
Deixe eu te contar sobre coisas que aconteceram
Tudo é tão real para mim

Deixe eu contar sobre a minha esperança
Sobre minha necessidade de alcançar o céu
Me deixe te levar em uma desgraciosa jornada
Me deixe te dizer o porque

Porque estas maldições tiveram que ser impostas sobre mim?
Eu não serei perdoado até eu poder me libertar
O que fiz para merecer toda esta culpa?
Eu pago pelos meus pecados com a venda da minha alma
Demônios estão presos dentro da minha cabeça
Minhas esperanças se foram, eu tento alcançar o Paraíso e o Inferno

Meus pecados são muitos, minha culpa é pesada demais
A pressão de saber, de esconder o que eu sei
Sou capaz de ver coisas, coisas que não quero ver
As vidas de milhares de almas pesam sobre mim

Sei que eles clamam por ajuda e tentam me alcançar
O fardo deles irá me levar para baixo também
O pecado de milhares de almas não morreram em vão
Reencarnação minha, viver novamente

Alguém para me salvar
Algo para me salvar de mim mesmo
Para trazer salvação
Para exorcisar esse inferno

Alguém para me salvar
Algo para me salvar do meu inferno
Um destino
Fora deste pesadelo

Alguém para me salvar
Algo para me salvar de mim mesmo
Para trazer salvação
Para exorcisar esse inferno

Gostou? Não? Dei sua opinião.