sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O CASTELO DE SADE (de Bosco Silva)




PARIS, 3 DE ABRIL DE 1768. UM DOMINGO DE PÁSCOA.

Uma luxuosa carruagem segue pelas estreitas ruas de Paris, contrastando com os sujos e fétidos andrajos do povo, que se acumulam em busca de alimentos e de emprego. A fome assola Paris; e as pessoas dividem com os ratos restos de alimentos que caem ao chão.

Uma bela mendiga, que mesmo vestida por sujos e esfarrapados vestidos, que não obliteram sua beleza, se interpõe enfrente a carruagem estendendo a mão, clamando por ajuda, por algo que possa diminuir-lhe a dor de sua miséria. A carruagem para, a porta se abre, e uma mão ostentando grossos anéis de ouro joga-lhe algumas moedas. Em seguida, o nobre cavalheiro lhe oferece emprego; ela então entra na carruagem, e esta segue seu caminho, cortando as fétidas ruas de Paris, seguindo rumo aos negros bosques de pinheiros.

Pelas janelas da carruagem dá ainda para ver o maravilhoso entardecer, que logo é sucedido por uma noite de luar, que parece animar as obscuras criaturas noturnas da floresta. E apenas o trotar dos cavalos é ouvido, quebrando o silêncio da negra floresta, com seus velhos e altos carvalhos e eucaliptos.

O homem, ricamente vestido, mantém-se em silêncio, enquanto a jovem mulher dá pequenos sorrisos de felicidade.

O tempo passa; e percorrendo uma antiga estrada recortada por voos de corujas e morcegos, segue a carruagem, seguida apenas pela imensa lua cheia, que mal consegue clarear a estreita estrada que corta bosques, vales e pequenas montanhas, minadas por pequenos brilhos de vagalumes que se confundem com o brilho das estrelas.

E após transpor um imenso portão, seguem por uma pequena estrada, ladeada por inúmeras estátuas de faunos com enormes falos, que servem de apoio para enormes lampiões, em meio a um grande jardim com inúmeras flores vermelhas de todas as formas; em cujo o final, pode-se entrever uma grandiosa casa, ricamente adornada por grossas colunas e janelas ricamente trabalhadas.
  
Ao chegar, é levada para uma suntuosa sala; e em seguida, guiada por um empregado, por um imenso corredor com dezenas de portas; um corredor negro, repleto de quartos, onde se pode ouvir sussurros e gemidos de corpos que se entregam com imensa devassidão, alguns entreabertos, clareados apenas por grossas velas, como numa masmorra. Num dos quartos, há uma grande cadeira dourada, com o acento e o encosto em cor vermelha, ao qual uma bela mulher está sentada. Ela usa espartilhos e longas botas de couro negro, e também meias de seda negra; tendo, sob seus pés, um homem seminu, de joelhos, que lambi suas botas enquanto se masturba. Mais adiante, em outro quarto, outro homem nu, de cócoras, engaiolado, em uma gaiola de ferro com um enorme cadeado em sua pequena porta. E ao continuarem, encontram, em outro quarto, um casal de lésbicas; uma algemada em uma grossa coluna, apenas vestida por uma longa meia; e enquanto a outra lhe bati nas nádegas com uma grande palmatória, beija-lhe a boca, abafando os gritos.  O cheiro de sexo pareci exalar de todos os cantos e por todos os poros daquele lugar; por fim, chegam a um enorme quarto, luxuosamente decorado, com ricos quadros e cadeiras com pequenos enfeites de ouro incrustrado a madeira. O empregado, antes de deixá-la só, lhe diz que aguardasse seu Patrão.


O homem, um jovem senhor pertencente a uma das mais nobres famílias francesas, adentra o quarto; fecha a porta. Ele a examina, contornando ao seu redor com olhos vidrados de desejos por aquela doce mulher tomada pela miséria; e imediatamente lhe ordena que se dispa; ordem que é tomada entre um misto de apreensão e o desejo pelo trabalho. Sua blusa é então tirada à força de seu corpo, dando-lhe a rapidez que se pede, liberando toda a imensa beleza de seu corpo magro, branco e jovem, com seus mamilos rosados, a cintura sinuosa e sedosos pelos pubianos, que quase escondem por completo uma delicada e rosa vagina, entre duas excitantes coxas bem torneadas. Em seguida, é lhe dado um tapa no rosto, que a faz cair sobre a cama; e sob a débil tentativa de defesa é amarrada de bruços sobre a mesma; seu corpo é chicoteado, enquanto se contorce com dores lancinantes e gritos que são abafados pelas grossas paredes do quarto. E durante o tempo em que é sodomizada, é forçada a se masturbar com o crucifixo e a blasfemar o nome de Cristo. Uma pequena lâmina é então erguida pelo punho de seu algoz, e enquanto acaricia aquele belo corpo feminino estendido sobre a cama, o nobre francês põe-se a lamber o punhal, sua lâmina, o frio e reluzente metal; tão frio quanto o coração de quem a impunha.



O corpo jovem e delicado é, em seguida, picado pelo objeto cortante; o qual derrama múltiplas gotas de sangue, que escorrem sobre a pele branca, entre faixas vermelhas feitas pela ponta do chicote; as gotas de sangue são lentamente lambidas, enquanto o jovem senhor penetra ferozmente em sua vagina. Uma vela vermelha é então tirada de uma pequena gaveta ao lado, e acesa; imediatamente, seu sangue é estancado por pingos de cera quente que caem da vela sobre as feridas abertas; momentos que antecedem a fúria de seu orgasmo, acompanhado por gritos e gestos alucinantes.

Seu algoz é um nobre francês de nome Sade.

Este conto é baseado em fatos reais, neste caso, no sequestro da mendiga Rose Keller, feito pelo escritor francês Marquês de Sade (1740-1814). Caso que, graças a fuga desta, permitiu que Sade fosse posteriormente detido, embora houvesse feito um acordo com sua vítima por meio de pagamento, posteriormente ao caso.

O escritor, Marquês de Sade, passou quase metade de sua vida em prisão ou hospícios, ora por sua vida libertina ora por seus escritos. É o autor do romance OS 120 DIAS DE SODOMA; obra ainda não superada em violência e perversão. Seu nome originou o termo sadismo, dado ao prazer sexual oriundo do ato de agredir e humilhar outro ser-humano.



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