domingo, 19 de maio de 2013

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE FLORENCE FOSTER JENKINS, DAQUELA QUE FICOU CONHECIDA COMO “A DIVA DO GRITO” (de Bosco Silva e Wikipédia)



As artes sempre tiveram suas divas, mulheres talentosas, possuidoras de grande talento e beleza quase divina, como Diana Ross, na música, e a estonteante Marilyn Monroe, no cinema, que levaram muitos à beira do prazer infinito, mas nenhuma certamente foi como Florence Foster, aquela que foi um bom exemplo de perseverança absoluta ou de estupidez infinita?


A FORÇA DE UM GRANDE SONHO OU A ESTUPIDEZ DE UM GRANDE ERRO?

    NASCIDA EM 1868, Florence, desde criança, manifestou o desejo de seguir a carreira de cantora lírica. Sonhava em cantar as mais belas árias de óperas de compositores famosos, à frente de um grande público que, em reverência ao seu grande talento, lhe cobriria de rosas. E assim frequentou as aulas dos maiores mestres do canto. Porém, um dia, o pai, um banqueiro bem-sucedido, ao notar o resultado das primeiras aulas de canto da filha, um misto de grunhidos e urros, como uma gata no cio, ou o cacarejar de uma galinha, recusou-se a continuar pagando seus estudos. Contudo, Florence não desistiu. Aos 17 anos, fugiu de casa para continuar dedicando-se à arte de cantar, passou fome e cede em nome de seu grande sonho. Casou-se com o primeiro que a tratou bem, e continuou na pior até o pai aceitá-la de volta, com a terrível condição de que desistisse de cantar. Ela topou e foi assim até completar 41 anos, quando o pai morreu e Florence herdou grande parte de sua fortuna. Com a morte do pai, Florence teve um misto de tristeza e alegria, pois não havia mais empecilho algum para mostrar ao mundo sua indomável voz de soprano.

À SUA ESQUERDA, RETRATO DE FLORENCE E, À DIREITA,
 VESTIDA COM O FAMOSO VESTIDO COM ASAS 

Três anos depois, ela já estava pronta para seu primeiro recital. Tinha inquebrantável segurança de seu talento e dispunha-se a cantar as arias mais difíceis do repertório clássico. Em 1934, conheceu o pianista Cosmé McMoon com quem formou uma dupla até o fim da vida. Porém seu recital foi um grande fiasco, os poucos presentes saíram antes mesmo da primeira música acabar, sob grande gargalhadas e vaias que ecoaram naquele espaço sagrado em que grandes divas tinham dado a alma. Todavia, Florence tinha um grande trunfo, uma riqueza incalculável. E assim disposta a continuar com seu sonho, investiu toda sua riqueza nele: pagou para que o público fosse vê-la.  Neste período, manteve o recital no Ritz, agora com McMoon — ela pessoalmente dava os ingressos a fim de evitar a presença de jornalistas — e gravou dois discos. A renda ia sempre para instituições de caridade. Contudo, surpreendentemente, o público começou a frequentar seus recitas espontaneamente. Não por sua incrível voz ou por seu talento excepcional de canto. Admiravam-se de como alguém podia cantar tão mal. E riam de suas notas desafinadas. Conta-se que a atriz Tallulah Bankhead riu tanto durante uma de suas apresentações que teve que ser retirada do teatro.
Aos 75 anos, viajando num táxi, sofreu um acidente no trânsito. Os amigos tentaram convencê-la a processar o motorista. Ela preferiu enviar-lhe uma caixa de charutos. Adquiriu a crença de que, depois do desastre, conseguia emitir um fá maior melhor do que nunca. Os amigos temeram também a gravação dos discos. Acreditavam que, se ela se ouvisse, perceberia o quanto cantava mal. Mas Florence não se deu conta. Achava que os discos revelariam seu talento para gerações futuras, seriam como um souvenir de sua arte.

ACIMA, SEU ÚNICO DISCO, COM O SUGESTIVO TÍTULO:
A GLÓRIA (???) DA VOZ HUMANA

Tinha 76 anos quando aceitou se apresentar a um público maior que o dos recitais no Ritz e estrelou um concerto no prestigioso Carnegie Hall. Feito o anúncio, os ingressos se esgotaram em poucas horas. Mais de duas mil pessoas voltaram da porta do teatro, na noite de 25 de outubro de 1944, depois de tentar comprar algum ingresso de desistentes. Quem viu garante que foi uma apresentação inesquecível. E interminável. Entre uma música e outra havia intervalos enormes para Florence mudar de figurino. Sua roupa com asas — ela chamava de “Angel of inspiration” (anjo da Inspiração) — tornou-se um clássico.
Um mês depois do grande e rebatador concerto, Florence morreu. Há quem atribua a morte à depressão por, enfim, dar-se conta, ao ouvir seus discos, de como cantava mal. Florence foi uma estrela que sabia como tornar sua plateia feliz.

Abaixo, a "singular" interpretação de uma ária de Mozart. A conselhamos que prepararem seus ouvidos!!!


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