O MISTÉRIO DA JOVEM ACHADA MORTA COM ENIGMÁTICO
SORRISO
É
século XIX. E como os jornais da época ainda não usam fotografias em suas
páginas, muitos franceses gostam de incluir em seus passeios o necrotério da
cidade para ver corpos expostos, que aguardam serem identificados, por meio de
uma grande janela de vidro, propiciando aos leitores matar a curiosidade sobre
os casos de assassinatos que tiveram suas histórias contadas nas páginas
policiais.
Necrotério de Paris, Século XIX
No
ano de 1880, um corpo encontrado boiando no Rio Sena chama bastante atenção dos
cidadãos de Paris. Trata-se do corpo de uma bela jovem, de aproximadamente 16
anos, que ostenta um belo sorriso embora esteja morta. O corpo não possui
nenhum ferimento ou machucado, parecia que apenas dormia, fato que a fazia se
destacar em meio a outros cadáveres, que, como ela, eram expostos na janela do
necrotério. E como a Paris do século XIX fora pródiga de suicídio, com centenas
de homens e mulheres que se despediam da vida pulando nas frias águas do Sena.
Logo se sugeriu suicídio por afogamento. Contudo, todos se perguntavam: “Mas
por que aquele sorriso!”; sorriso que se manteve vivo mesmo durante a agonia de
um afogamento, e que parecia ter vencido a própria morte!
A
desconhecida, que passou a ser chamada pelos franceses de L'Inconnue de la
Seine (A Desconhecida do Rio Sena), permaneceu durante dias exposta na sala
refrigerada do necrotério, aguardando que alguém a identificasse. Contudo,
apesar da grande fila de pessoas que se acotovelavam para vê-la, todos os dias,
ninguém a identificou até hoje. E como o corpo apodrecia, foi enterrado sem
identificação.
Porém,
a beleza do cadáver e seu belo e enigmático sorriso, cativou tanto um jovem
médico, responsável pelo necrotério que, não querendo que seu belo sorriso se
perdesse para sempre, registrou-o por meio de uma máscara mortuária. E por
alguma razão desconhecida, tal máscara passou a ser copiada por fábricas da
época, e compradas por pessoas de toda a Europa, nas mais diferentes formas,
como mórbidos enfeites de casa.
A
beleza da jovem morta tornou-se tão popular que passou a inspirar escritores e
poetas, e a inspirar adolescentes da época como o ideal de beleza feminina. E,
por fim, alcançou o máximo de popularidade ao ser tomado como o rosto do
primeiro boneco usado no treinamento de respiração boca a boca, da década de
1960.
Tudo
começou durante a década de 1950 quando o americano Peter Safar, um
especialista em ressuscitação por meio da respiração boca a boca, pretendendo
popularizar sua técnica, precisou de um meio de demonstrar sua técnica. A
princípio ele pensou em usar um cadáver para que outros praticassem, mas logo
viu que isto não seria uma boa ideia, pois o contato entre bocas entre alguém
vivo e um cadáver seria um grande desestímulo. Então foi encomendado ao
fabricante de brinquedo norueguês, Armund Laerdal, que fabricasse um objeto com
traços bem humanos para que as técnica de respiração boca a boca fosse
ensinada. Armund Laerdal acreditando que a figura de um homem iria desestimular
homens a encostar seus lábios na boca de um boneco com características masculinas,
decidiu a favor de um boneco com traços femininos. Armund então se
lembrou da famosa figura da “Desconhecida do Rio Sena” e usou sua feição para o
primeiro boneco que seria usado no ensinamento das técnicas de respiração boca
a boca.
Boneca Usada em Treinamento de Respiração Boca a Boca,
Inspirada na "Desconhecida do Rio Sena"
Quem
diria que a forma dos lábios de uma desconhecida suicida por afogamento seria
tão beijado e acariciado, ao prevenir mortes por afogamento! Mas o mistério
ainda continuava: Por que aquele sorriso em um momento tão terrível da vida?
Teria sido o último ato de alguém sucumbido por um amor desprezado, que
encontrou na morte seu último refúgio? E por que o sorriso não se desfez com a
morte? Ou seria apenas um fenômeno comum à morte, chamado RICTUS, contração dos
músculos faciais dando à face do morto o aspeto de um sorriso? Mas todos que
haviam visto seu belo sorriso diziam que parecia ser tão espontâneo e
incrivelmente vivo!
Mas
teria sido tudo verdade?
Segundo
o experiente Pascal Jacquin, da Brigada Fluvial de Paris, responsável por
centenas de resgates de pessoas afogadas no rio Sena, examinando o misterioso
sorriso estampado em uma das milhares de reprodução do rosto da jovem morta,
disse:
"É surpreendente ver um rosto tão pacífico. Todos que encontramos na água, os afogados e os que cometeram suicídio, nunca parecem em paz. Eles estão inchados, não têm uma boa aparência".
Junte-se
a esta, a opinião de outra pessoa experiente, dessa vez em modelagem, Michel
Lorenzi, que afirma:
"Não me parece o rosto de uma pessoa morta. É muito difícil manter um sorriso enquanto um molde está sendo feito, então eu acho que ela era uma profissional, uma modelo muito boa".
Apesar
de ser uma bela história, misteriosa e cativante, por falta de evidências de
sua veracidade e por contrariar a experiência de experientes profissionais, podemos
afirmar, sem sombra de dúvida, que tudo não tenha passado de uma bela lenda,
criada em uma Paris romântica do final do século XIX.
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