terça-feira, 1 de outubro de 2019

A LENDA DO LAGO DA PRINCESA DE ALGODOAL

A LENDA DO LAGO DA PRINCESA DE ALGODOAL
Em meio às belas paisagens da ilha de Algodoal há uma lenda que hoje apenas seus resquícios ainda é contada pelos nativos da região, e que parece ser sussurrada pelo vento aos ouvidos daqueles que visitam a ilha encantada. E quem frequenta o Lago da Princesa se sente curioso por saber a origem de tal nome.

Dizem os antigos que há muito tempo atrás, em um tempo distante e mítico em que os pajés se dirigiam àquelas bandas para buscar a virtude de curar; um tempo em que as crianças que passassem pela ilha ficavam encantadas, abandonavam suas mães, para sempre, ou para serem encontradas, misteriosamente adormecidas, em alguma praia da ilha, que num piscar de olhos era capaz de nos transportar para vastos mundos míticos, havia uma bela cidade construída sob as águas do rio Mayandeua (nome também dado a ilha onde Algodoal é apenas uma parte desta), com casas de grandes colunas de mármores banhadas constantemente pelas águas do rio e gigantescas pirâmides que se mantinha rígidas diante do vento implacável da região; uma cidade prateada. Essa cidade possuía uma moradora especial, uma mulher com pele mais clara que a areia da praia e cabelos mais dourados que os raios do sol da manhã.



Os pescadores que aportavam na ilha, então deserta, juravam ter visto pela praia o rastro de um pequeno, elegante e mimoso pé de moça, que passaram a chamar de pegadas da  Princesa de Mayandeua.

Ela era sempre vista nua, ao longe, com seu cabelo dourado ao vento, sentada em uma pedra branca. Ou à meia-noite, envergando o seu vestido branco, passeando vagarosamente pela beira do lago e desaparecendo de repente. Ninguém sabe quem é, ou ao que veio. Mas chamaram-lhe a “Princesa do Lago”. Os caboclos a espiavam por entre as moitas, e dão-lhe de ombro, voltavam para suas redes, e sonham com seu reino sob as águas. Não sentiam febre nem dor de cabeça como no caso das uiara. E em noites quando o luar caia sobre a ilha como poeira dourada, eram vistas moças da cor da lúcida espuma d’água, de cabelos loiros, caídos sobre os ombros a contornar a ilha em majestosos navios à vela em meio às ondas do rio. Eram as moradoras da cidade que por ali existia, da cidade encantada dos caruanas.



No meio da ilha, entre pequenos montes de areias brancas, existe um lago de água doce, que se mantém doce mesmo durante as cheias. É um lago encantado, como tudo na ilha, onde, a quem desejar mergulhar tão fundo, pode-se descobrir conchas de todos os tamanhos e cores, provando ser um portal unindo a ilha a cidade encantada do fundo do rio, servindo de passagem para a Princesa do Lago.

Há quem jure que, à meia-noite, após o galo cantar, se pode ouvir o tocar de tambores vindo do fundo do rio, vindo da mítica cidade dos caruanas --- os guias espirituais dos pajés. E a princesa do lago é a senhora que faz as crianças chorar no ventre de suas mães, encantando-as antes de nascer, predestinado-as a tornarem-se futuros pajés, videntes a possuir o poder da cura. Para tanto, após nascidas passam sete anos na companhia das uyaras, dos caruanas, e das boiúnas, que têm o poder de se comunicar com os mortos. E a princesa do lago é a senhora desses servos humildes, que a veem quando querem, como a princesa encantada do Mayandeua, que a estimam como uma amante fiel e dedicada, graças a quem podem ter a magia de curar todas as enfermidades após passarem por seu reinado oculto aos pobres mortais.



Mas isto perdeu-se no tempo, tornou-se como ecos de coisas mortas, e lenda cantada na letra de um carimbó:

Lá na Praia do Farol
Ela é também beleza
Lá fora tem o Canta-Galo
Aonde mora a Princesa
Lá na Praia do Farol
Ela é também beleza
Lá fora tem o Canta-Galo
Aonde mora a Princesa
Os antigos contavam
E hoje eu já ouvi contar
Que viam os navios ancorados
E ouviam o galo cantar
(Carimbó entoado pelo pescador Orlando Muniz Teixeira, em 1994). 

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