sábado, 30 de maio de 2020

RELATO DO LEITOR: A Assombração de Cotijuba (por Marcus Saraiva)

RELATO DO LEITOR: A Assombração de Cotijuba (por Marcus Saraiva)  
O ANO era 1996 ou 97. Era um domingo comum de verão. Fomos eu e um amigo aproveitar o dia na Ilha de Cotijuba. E como o dia estava tão bom, as horas passaram tão rápido que perdemos o último barco pra voltar. Então decidimos dormir pela praia do Farol, mesmo. Quando caminhávamos próximo ao Cotijubar (conhecido bar da época), decidimos descer por uma escada natural até a praia. A mais ou menos uns 100 metros dessa escada avistamos uma pessoa em pé olhando em direção a praia. Era uma pessoa alta, magra, cabelos compridos e nua. Estava já escuro e não dava pra saber se era um homem ou uma mulher. Foi quando nos olhamos, nos perguntando: "você está vendo o que eu estou vendo?". Meu amigo disse que aquela pessoa parecia bastante esquisita. A pessoa pareceu ouvir nossas vozes. Foi quando se moveu numa velocidade impressionante, que parecia voar, pois seus pés pareciam não tocar o chão, e correu para dentro de um pequeno matagal e sumiu. Fomos embora dali e dormimos no trapiche.

De manhã cedo, fomos tomar café com um nativo, e ele nos disse que aquilo que nós vimos já tinha sido visto por muitas outras pessoas, que tinham relatado a mesma experiência.

terça-feira, 26 de maio de 2020

RELATO DO LEITOR: A Promessa Feita para Zezinho e Cícero do Cemitério da Soledade (Por Grazi Andrade)

A PROMESSA FEITA PARA OS ESPÍRITOS DE ZEZINHO E CÍCERO DO CEMITÉRIO DA SOLEDADE
Quando eu era estudante do ensino fundamental, uma das minhas professoras, a professora Cláudia, já casada há alguns anos, não conseguia engravidar, passou então a recorrer a tratamentos para poder realizar seu sonho de ser mãe. Porém, o tratamento não parecia estar dando resultado, Cláudia continuava a não realizar seu sonho materno. Foi então que algumas pessoas lhe contaram dos espíritos milagreiros dos meninos Zezinho e Cícero, que há anos estão sepultados no velho Cemitério da Soledade, em Belém, e que o povo recorre a eles para realizações de suas promessas.

Numa segunda-feira, então, aproveitando que o velho cemitério é aberto para a visitação pública, chamado de Culto das Almas, em que o povo acende velas para os santos populares, Cláudia foi até as sepulturas dos meninos Zezinho e Cícero, e lhes pediu que realizassem seu sonho de ser mãe.

Foi então que no dia do folclore, na escola, Cláudia falou para alguns alunos sobre sua promessa, mas a gente achava que era brincadeira dela... Depois de 4 meses, veio a surpresa. Ela nos anunciou que iria se afastar de nossa turma, pois estava grávida. E a surpresa maior: que estava grávida de gêmeos.

Lembro que chegamos a ver os filhos dela quando nasceram: um tinha o cabelo meio loiro e outro era bem pretinho, ambos tinham a pele branca. Ela colocou o nome dos dois de Zezinho e Cícero.

Teria sido mesmo uma interseção dos dois? E cada um teria nascido com as características físicas de cada um dos espíritos dos meninos milagreiros?

Bem, não tenho certeza, o certo é que depois disso passei a alimentar a curiosidade de saber como eram as características físicas de Zezinho e Cícero quando vivos. Mas, foram crianças que há muito tempo deixaram a vida sem deixarem qualquer registro de suas fisionomias. Alguém aí sabe?

* A Foto, Acima, é apenas Ilustrativa.

Grazi Andrade

domingo, 17 de maio de 2020

DESVENDANDO AS LENDAS DO PALACETE BOLONHA

DESVENDANDO AS LENDAS DO PALACETE BOLONHA
Lendas são histórias criadas anonimamente pelo povo, que sempre acrescentam novos fatos maravilhosos aos já conhecidos, tendo a intenção ou não de aumentar o aspecto fantástico delas. Geralmente começam com as expressões: um amigo do primo de um amigo meu, contou que..., ou conta-se que…, ou a forma mais honesta: Reza a lenda que... Por isso as lendas sempre possuem variantes, devido a interpretações diferentes dadas a elas, ou novos detalhes acrescentados a elas, todas as vezes que são contadas por pessoas diferentes. Em geral, as lendas surgem de mal entendidos, más interpretações de fatos concretos, ou da pura superstição e ignorância do povo.

Palacete Bolonha

Em Belém, o belo Palacete Bolonha é cercado delas. Uma dessas (que até virou título de livro: Palacete Bolonha: uma Promessa de Amor, 2007), diz que o palacete foi construído pelo engenheiro e arquiteto Francisco Bolonha (1873 - 1938) como um presente de amor para a carioca Alice Tem-Brink, para convencer a sua futura esposa a vir morar em Belém após o casamento. Teria ele dito a ela: “Se você se casar e vir morar comigo, eu lhe construo um palacete”. Essa suposta história é sempre contada como sendo uma prova de amor, ou uma manifestação de carinho, mas se pararmos para pensar, veremos que, na verdade, a tal proposta de Francisco Bolonha soa muito mal para o casal, já que mostraria ser Alice uma mulher interesseira que teria se juntado a um homem somente por seu palacete; e também faz de Bolonha um sujeito sem nenhum atrativo, além da riqueza, capaz de fazer Alice casar-se com ele. 

Alice e Francisco Bolonha

Ao verificarmos o ano de casamento do casal, mais o ano de construção do palacete, descobrimos que, na verdade, tal proposta foi criação anônimo e alimentada pelo povo, que achou bom dar ao palacete ares de uma história de amor, pois segundo documentos contidos na tese de mestrado de Adriana Coimbra, "A cidade como narrativa: Francisco Bolonha e o papel da arquitetura e da engenharia no processo de modernização da cidade de Belém - 1897 - 1938" (ver na internet), o palacete não foi construído em 1905, mas, sim, seu terreno que foi adquirido por Bolonha nessa data, ´depois construído a Vila Bolonha, e, por último, em 1915, o palacete. Então, sabendo que Bolonha e Alice se casaram em 1895, vê-se que a construção do palacete está muito longe da data do casamento para ter sido um presente de casamento; se caso fosse, teria sido construído um ou dois anos após o casamento. E, sendo Bolonha nascido em uma tradicional família rica de Belém, falta de dinheiro não teria sido obstáculo para que o palacete fosse construído somente vinte anos depois do casamento; tempo mais do que suficiente para que Alice visse que tinha sido enganada. Nesses vinte anos, Alice morou com o esposo na casa onde Bolonha nasceu --- entre Av. Assis de Vasconcelos e Av. Nazaré. Além disso, há o testemunho da senhora Nahir, que quando criança fora adotada pelo casal Bolonha, que diz nunca ter ficado sabendo que o palacete teria sido um presente de Bolonha a sua mãe adotiva para convencê-la de vir morar em Belém.

Dizem também que o terreno do palacete, antes de sua construção, servia de descarte de cadáveres, disso tiraram a ideia da má influência do palacete, originando a visão de vultos e o suposto fato do piano de Alice tocar sozinho. Isto também não parece ser convincente, já que o terreno tão próximo ao movimentado Largo da Pólvora (hoje Praça da República), centro de Belém, se prestasse a ser o local preferido de desova dos assassinos da época. Embora seja verdadeiro, que o terreno era um alagadiço, como podemos ver na tese de mestrado já referida, por meio de documento de Francisco Bolonha havia escrito, em 1906, para intendência, requerendo luz pública ao local, já drenado por ele. O que pelo menos, retira o tom de exagero de desova dado ao terreno.

Imagem do Cão do Palacete Bolonha

Quanto a imagem do cão da entrada do palacete, feito de ladrilhos, com a expressão em latim “Cave Canem” (cuidado com o cão), que também tem servido para gerar histórias fantasiosas ligando a figura do cão negro do piso a um suposto pacto de Bolonha com forças diabólicas. (Até mesmo eu escrevi um conto de mistério sobre a controversa imagem: A Lenda do Cão Fantasma do Palacete Bolonha). Uma rápida pesquisa sobre o tema, revela que compor a figura de um cão em mosaico (com o palacete tendo vários mosaicos contendo imagens de ninfas e musas greco-romano) e com o alerta em latim, era bastante comum na Roma antiga. Isto é, era usado como aviso, como as placas de hoje, escrita "Cuidado: cão bravo", não contendo nada de sobrenatural, ou misterioso. E  sendo Bolonha um grande amante de ladrilhos e mosaicos e sendo um homem culto, não é de surpreender que ele tenha usado tal forma artística como meio de se referir a um cão de guarda seu.

Abaixo, imagens de mosaicos do império romano, com a frase "Cave Canem".