Naquela noite, de céu estrelado e com uma bela lua-cheia, que brilhava por sobre os açaizeiros, Maria havia ido, contra vontade, a festa à beira do rio, na Vila de Ponta de Pedras, apenas para acompanhar sua irmã mais nova — tarefa imposta pelo pai, ribeirinho sábio que a julgava experiente e não propensa a cair facilmente aos gracejos frívolos dos rapazes. E enquanto remavam na pequena canoa, sobre as águas morna e misteriosas do igarapé sem nome que brotava da raiz da terra por entre grandiosos miritizeiro, eram acompanhadas por ágeis botos-tucuxi, que lhes serviam de companhia.
No baile, enquanto sua irmã dançava, galanteada pelos rapazes que, incansavelmente, a convidavam a dançar, Maria ficava sentada, olhando exaustivamente o relógio, pedindo para que as horas passassem rápido. Foi quando olhou um moço vestido de branco a olhá-las insistentemente do balcão. O moço era um belo rapaz que, ao contrário dos rapazes da região, não havia tirado o chapéu, demonstrando desconhecer os hábitos da região.
Maria julgava que o rapaz estava a olhar sua irmã, tão disputada pelos rapazes da região. Foi quando ele se aproximou… Maria jamais permitiria que um forasteiro dançasse com sua irmã, naquela noite. E foi com enorme embaraço quando Maria viu que, não era a irmã, mas ela quem o belo moço queria como par para a próxima dança.
Encantada por seu perfume e por seu modo de falar, Maria não resistiu. Dançou com ele por inúmeras vezes, esquecendo da irmã e das horas — o que nunca havia acontecido antes —, rodopiando em seus braços como se flutuasse em um mundo de sonhos e encantos. Por fim, aceitou o convite de conversar sob as estrelas. E o belo luar à beira do igarapé, brilhando nas folhas dos miritizeiros, deu-lhe uma vontade irresistível de mergulhar nas águas escuras do rio com aquele homem sedutor.
Curiosa, ao observar que mesmo em meio às águas, o moço relutava em tirar o chapéu, Maria, ao tirar seu chapéu, se surpreendeu ao ver um estranho furo em sua cabeça, como a narina de um boto, a expelir jatos de água. Foi quando o moço olhou para as próprias mãos, iluminadas pela luz da lua, que alongaram-se adquirindo formas de nadadeiras. Por fim, jogou-se no rio, puxando Maria para suas águas turvas, e dando a ela enormes bolhas de ar vindas de sua narina, que a fazia respirar. As águas tornaram-se então límpidas, e Maria pôde ver uma enorme cidade a esconder-se sob as águas turvas do rio — era a cidade dos Caruanas, dos seres encantados das águas dos rios.
Confusa e atordoada, Maria fora encontrada na manhã seguinte por pescadores à beira do rio, em meio a flores de mururés, que boiavam sobre a espuma da preamar. Teve sete dias de febre. Durante os quais murmurava descrevendo a cidade encantada: suas torres, seus portais, suas paredes compostas de conchas e pérolas. Por fim, permaneceu calada, por dias — estava “enluarada”, como dizia os caboclos antigos, ou “encantada”, como diziam os pajés.
Passou a ser vista, todas as noites, à beira do rio, a acariciar a barriga, e a olhar para as águas do rio, cujo murmúrio lhe fazia lembrar a doce voz do forasteiro. Maria sabia que fora escolhida para ser mãe de um filho “encantado”, com poderes mágicos, um guardião das florestas e dos rios, um mensageiro do mundo dos Caruanas. E quem a via sonhar à beira do rio, como se esperasse alguém, dizia consigo mesmo: “Foi o boto, sinhá!”.
No baile, enquanto sua irmã dançava, galanteada pelos rapazes que, incansavelmente, a convidavam a dançar, Maria ficava sentada, olhando exaustivamente o relógio, pedindo para que as horas passassem rápido. Foi quando olhou um moço vestido de branco a olhá-las insistentemente do balcão. O moço era um belo rapaz que, ao contrário dos rapazes da região, não havia tirado o chapéu, demonstrando desconhecer os hábitos da região.
Maria julgava que o rapaz estava a olhar sua irmã, tão disputada pelos rapazes da região. Foi quando ele se aproximou… Maria jamais permitiria que um forasteiro dançasse com sua irmã, naquela noite. E foi com enorme embaraço quando Maria viu que, não era a irmã, mas ela quem o belo moço queria como par para a próxima dança.
Encantada por seu perfume e por seu modo de falar, Maria não resistiu. Dançou com ele por inúmeras vezes, esquecendo da irmã e das horas — o que nunca havia acontecido antes —, rodopiando em seus braços como se flutuasse em um mundo de sonhos e encantos. Por fim, aceitou o convite de conversar sob as estrelas. E o belo luar à beira do igarapé, brilhando nas folhas dos miritizeiros, deu-lhe uma vontade irresistível de mergulhar nas águas escuras do rio com aquele homem sedutor.
Curiosa, ao observar que mesmo em meio às águas, o moço relutava em tirar o chapéu, Maria, ao tirar seu chapéu, se surpreendeu ao ver um estranho furo em sua cabeça, como a narina de um boto, a expelir jatos de água. Foi quando o moço olhou para as próprias mãos, iluminadas pela luz da lua, que alongaram-se adquirindo formas de nadadeiras. Por fim, jogou-se no rio, puxando Maria para suas águas turvas, e dando a ela enormes bolhas de ar vindas de sua narina, que a fazia respirar. As águas tornaram-se então límpidas, e Maria pôde ver uma enorme cidade a esconder-se sob as águas turvas do rio — era a cidade dos Caruanas, dos seres encantados das águas dos rios.
Passou a ser vista, todas as noites, à beira do rio, a acariciar a barriga, e a olhar para as águas do rio, cujo murmúrio lhe fazia lembrar a doce voz do forasteiro. Maria sabia que fora escolhida para ser mãe de um filho “encantado”, com poderes mágicos, um guardião das florestas e dos rios, um mensageiro do mundo dos Caruanas. E quem a via sonhar à beira do rio, como se esperasse alguém, dizia consigo mesmo: “Foi o boto, sinhá!”.
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