terça-feira, 3 de maio de 2016

A REENCARNAÇÃO DE BENJAMIN BREEG - Parte II


A REENCARNAÇÃO DE BENJAMIN BREEG
PARTE 2 — As Mãos Assassinas de Benjamin Breeg


Os dias seguintes se passaram em tranquilidade, embora Harry soubesse que se devia muito mais a sua atitude de evitar aborrecimentos que propriamente à naturalidade.
Seu contato com a esposa diminuíra muito, já que tentava a todo custo não machucá-la, e para tanto, esperava que esta fase ruim de sua vida passasse sem danos. Para ele era apenas uma questão de tempo, de readaptação à sua nova vida.

Porém, houve um dia que Harry acordou com ondas de calor pelo corpo, e com o desejo irresistível de fazer sexo. Com sua esposa não poderia, já que temia machucá-la. E, assim, pôs-se imediatamente à procura de alguém, que satisfizesse seus desejos incontroláveis.
Naquele dia, Harry se relacionou com várias mulheres, pagando-as várias vezes. E embora, nada parecia satisfazê-lo, isto, tornou-se, para ele, um vício irresistível.
Com passar do tempo, Harry conseguia cada vez menos satisfazer-se. Em alguns dias, não conseguia se satisfazer nem com dez mulheres. Tinha relações sexuais até seu pênis ferir e sangrar.
Durante uma de suas fugas noturnas, Harry avistou de seu táxi, uma jovem mulher solitária que aguardava seu ônibus. Desceu do táxi, pois teve a ideia de convencê-la a sair com ele. Sob a recusa da mulher, Harry esganou-a ferozmente, causando sua total inconsciência.
Ele não podia acreditar no que tinha feito, sob um misto de inconsciência e prazer, a teria matado, estuprado e a carregado, sobre os muros e telhados das casas que abundavam em tal lugar, com a força de suas mãos, que agora pareciam terem duplicado. E mesmo estando inconsciente, desenhou nela símbolos que lhe pareciam serem incompreensíveis, em seu corpo nu.
Harry, então, descobriu que o que mais o excitava era quando resistiam à sua investida, à sua cantada, ou ao seu dinheiro. Isto, para ele tinha um sabor especial, a violência era um poderoso afrodisíaco, agora, para ele.
A partir de agora, ele era uma criatura noturna que se esgueirava atrás de novas presas, pelas ruas poucas movimentadas, que abrigavam um grande número de prostitutas da cidade. Era uma espécie de versão nova de “O MÉDICO E O MONSTRO”, ou de JACK, O ESTRIPADOR, uma criatura dupla que trazia em si um instinto incontrolável e demoníaco, com uma parte negra que tentava incansavelmente dominá-lo.
Ele estivera enganado, suas mãos agora pareciam comandá-lo, pareciam terem vontade própria, e por mais que tentasse dominá-las, não conseguia. O seu lado negro parecia cada vez mais comandá-lo.
Suas novas mãos sabiam matar, e nada podia ser feito por si próprio para ajudá-lo, as mãos lhe interrompiam. Mesmo quando tentava relatar seus novos segredos, as mãos lhe impediam, com movimentos bruscos, tapando-lhe a boca, mantendo-o imóvel, ou causando-lhe dores insuportáveis pelo corpo.
Harry tentara escrever, inutilmente, um recado para Helen, e em vão adormeceu sobre a escrivaninha... Ao acordar sob pequenas tapas em seu rosto, imaginou serem de sua esposa, mas as tapas vinham de suas novas mãos, que sacudiam-no, tentando acordá-lo.
As mãos puseram-se, então, a escrever-lhe um recado, ao qual Harry leu estarrecido:
Eu sou Benjamin Breeg. Preciso de seu corpo e de novas almas.
Havia noites que matava duas, três, prostitutas por noite, sempre com seu mesmo “modus operandi”, estrangulava, desenhando símbolos enigmáticos por seus corpos.
Sua vida mudara totalmente; sua vida social se resumia agora apenas em frequentar as ruas escuras e estreitas da parte mais baixa da cidade. Seu diálogo com Helen se resumia apenas à frases monossilábicas. O que certamente despertou a preocupação da esposa, mas para Helen era apenas um período que Harry clamava por privacidade, para poder botar as coisas em ordem. Porém, o que Helen não sabia era que seus crimes se multiplicavam a cada dia, com seus crimes ganhando notoriedade, principalmente da imprensa.
Até que, ao sair para o trabalho, Helen ouvi, a seguinte notícia, no rádio:
Assassinatos se sucedem com enorme frequência nos bairros pobres da cidade. Mulheres, em sua grande maioria prostitutas, são mortas estranguladas, e têm seus corpos tatuados.
O modo de agir do assassino, ou mais provável dos assassinos, se assemelha muito ao modo de agir de Benjamin Breeg, mais conhecido como “O Tatuador”, morto na cadeira elétrica de Cottonfield.
Breeg tatuava suas vítimas com símbolos esotéricos, após estrangulá-las e estuprá-las.
A polícia não descarta a possibilidade de que fanáticos, ou admiradores de Breeg, estejam por trás de tais crimes, já que o esforço expedido para tais crimes supera a força de um homem.
Helen também ouvira no rádio que os ataques sempre aconteciam à noite, e subitamente lembrou-se das misteriosas saídas do marido; lembrou-se também que algumas vezes Harry ostentava marcas no pescoço, como provocadas por unhas, ou algo parecido.
Sentiu-se culpada por tal associação em um momento tão frágil de suas vidas, mas nada podia evitar associá-las, como as manchas de tintas que Harry trazia em suas camisas.
Helen foi para o trabalho extremamente pensativa.
Ao chegar em casa, lembrou-se que dias atrás Shubb tinha ligado. Fazia anos que Harry perdera seu contato, por isso imaginou do que se tratava.
Sabia da vida conturbada que Shubb vivia, o que aguçou ainda mais sua curiosidade.
Ao procurar por uma agenda telefônica, encontrou, por acaso, o papel que Shubb havia entregado. E ao pegá-lo, leu assustada, que seu doador era o assassino Benjamin Breeg.
Por alguns instantes, não pôde acreditar, mas todos os dados estavam corretos: as datas, o hospital, o médico, etc. Tudo estava exato e correto. Tudo em seu devido lugar. Até mesmo o número e o nome de Thomas Shubb. Agora sabia por que Harry o contactara.
Seriam meras coincidências ou Harry teria incorporado à mente doentia e assassina de Benjamin Breeg. Havia um modo melhor de saber:
Imediatamente pôs se a ligar e contactar Thomas Shubb...
Encontraram-se, então, em uma parte remota da cidade.
— Shubb, sei que você fez um trabalho para o meu marido.
— Trabalho, Helen?
— Vamos, não adianta mentir, tenho-o em mãos, veja — Helen tirou-o de sua bolsa, mostrando-o.
— Sim. Mas calma Helen, a discrição é a chave de meu trabalho. E como vai Harry?
— Gostaria que fizesse um trabalho para mim. Gostaria de saber tudo sobre quem foi Benjamin Breeg.
— Por quê?
— Harry está impressionado com os últimos fatos.
— Sim, eu sei, há um grupo de assassinos que estão matando em nome de Benjamin Breeg. O cara tinha discípulos.
— E é fácil alguém se impressionar com isso.

— Ligarei assim que tiver notícias, Helen.

Continua...

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