A REENCARNAÇÃO DE BENJAMIN BREEG
PARTE 2 — As Mãos Assassinas de Benjamin Breeg
Os dias seguintes
se passaram em tranquilidade, embora Harry soubesse que se devia muito mais a
sua atitude de evitar aborrecimentos que propriamente à naturalidade.
Seu contato com a
esposa diminuíra muito, já que tentava a todo custo não machucá-la, e para
tanto, esperava que esta fase ruim de sua vida passasse sem danos. Para ele era
apenas uma questão de tempo, de readaptação à sua nova vida.
Porém, houve um
dia que Harry acordou com ondas de calor pelo corpo, e com o desejo
irresistível de fazer sexo. Com sua esposa não poderia, já que temia
machucá-la. E, assim, pôs-se imediatamente à procura de alguém, que
satisfizesse seus desejos incontroláveis.
Naquele dia,
Harry se relacionou com várias mulheres, pagando-as várias vezes. E embora, nada
parecia satisfazê-lo, isto, tornou-se, para ele, um vício irresistível.
Com passar do
tempo, Harry conseguia cada vez menos satisfazer-se. Em alguns dias, não
conseguia se satisfazer nem com dez mulheres. Tinha relações sexuais até seu
pênis ferir e sangrar.
Durante uma de
suas fugas noturnas, Harry avistou de seu táxi, uma jovem mulher solitária que
aguardava seu ônibus. Desceu do táxi, pois teve a ideia de convencê-la a sair
com ele. Sob a recusa da mulher, Harry esganou-a ferozmente, causando sua total
inconsciência.
Ele não podia
acreditar no que tinha feito, sob um misto de inconsciência e prazer, a teria
matado, estuprado e a carregado, sobre os muros e telhados das casas que
abundavam em tal lugar, com a força de suas mãos, que agora pareciam terem duplicado.
E mesmo estando inconsciente, desenhou nela símbolos que lhe pareciam serem
incompreensíveis, em seu corpo nu.
Harry, então,
descobriu que o que mais o excitava era quando resistiam à sua investida, à sua
cantada, ou ao seu dinheiro. Isto, para ele tinha um sabor especial, a
violência era um poderoso afrodisíaco, agora, para ele.
A partir de
agora, ele era uma criatura noturna que se esgueirava atrás de novas presas,
pelas ruas poucas movimentadas, que abrigavam um grande número de prostitutas
da cidade. Era uma espécie de versão nova de “O MÉDICO E O MONSTRO”, ou de
JACK, O ESTRIPADOR, uma criatura dupla que trazia em si um instinto
incontrolável e demoníaco, com uma parte negra que tentava incansavelmente
dominá-lo.
Ele estivera
enganado, suas mãos agora pareciam comandá-lo, pareciam terem vontade própria,
e por mais que tentasse dominá-las, não conseguia. O seu lado negro parecia
cada vez mais comandá-lo.
Suas novas mãos
sabiam matar, e nada podia ser feito por si próprio para ajudá-lo, as mãos lhe
interrompiam. Mesmo quando tentava relatar seus novos segredos, as mãos lhe
impediam, com movimentos bruscos, tapando-lhe a boca, mantendo-o imóvel, ou
causando-lhe dores insuportáveis pelo corpo.
Harry tentara
escrever, inutilmente, um recado para Helen, e em vão adormeceu sobre a
escrivaninha... Ao acordar sob pequenas tapas em seu rosto, imaginou serem de
sua esposa, mas as tapas vinham de suas novas mãos, que sacudiam-no, tentando
acordá-lo.
As mãos
puseram-se, então, a escrever-lhe um recado, ao qual Harry leu estarrecido:
Eu sou Benjamin
Breeg. Preciso de seu corpo e de novas almas.
Havia noites que
matava duas, três, prostitutas por noite, sempre com seu mesmo “modus
operandi”, estrangulava, desenhando símbolos enigmáticos por seus corpos.
Sua vida mudara
totalmente; sua vida social se resumia agora apenas em frequentar as ruas
escuras e estreitas da parte mais baixa da cidade. Seu diálogo com Helen se
resumia apenas à frases monossilábicas. O que certamente despertou a
preocupação da esposa, mas para Helen era apenas um período que Harry clamava
por privacidade, para poder botar as coisas em ordem. Porém, o que Helen não
sabia era que seus crimes se multiplicavam a cada dia, com seus crimes ganhando
notoriedade, principalmente da imprensa.
Até que, ao sair
para o trabalho, Helen ouvi, a seguinte notícia, no rádio:
Assassinatos se
sucedem com enorme frequência nos bairros pobres da cidade. Mulheres, em sua
grande maioria prostitutas, são mortas estranguladas, e têm seus corpos
tatuados.
O modo de agir do
assassino, ou mais provável dos assassinos, se assemelha muito ao modo de agir
de Benjamin Breeg, mais conhecido como “O Tatuador”, morto na cadeira elétrica
de Cottonfield.
Breeg tatuava
suas vítimas com símbolos esotéricos, após estrangulá-las e estuprá-las.
A polícia não
descarta a possibilidade de que fanáticos, ou admiradores de Breeg, estejam por
trás de tais crimes, já que o esforço expedido para tais crimes supera a força
de um homem.
Helen também
ouvira no rádio que os ataques sempre aconteciam à noite, e subitamente
lembrou-se das misteriosas saídas do marido; lembrou-se também que algumas
vezes Harry ostentava marcas no pescoço, como provocadas por unhas, ou algo
parecido.
Sentiu-se culpada
por tal associação em um momento tão frágil de suas vidas, mas nada podia
evitar associá-las, como as manchas de tintas que Harry trazia em suas camisas.
Helen foi para o
trabalho extremamente pensativa.
Ao chegar em
casa, lembrou-se que dias atrás Shubb tinha ligado. Fazia anos que Harry
perdera seu contato, por isso imaginou do que se tratava.
Sabia da vida
conturbada que Shubb vivia, o que aguçou ainda mais sua curiosidade.
Ao procurar por
uma agenda telefônica, encontrou, por acaso, o papel que Shubb havia entregado.
E ao pegá-lo, leu assustada, que seu doador era o assassino Benjamin Breeg.
Por alguns
instantes, não pôde acreditar, mas todos os dados estavam corretos: as datas, o
hospital, o médico, etc. Tudo estava exato e correto. Tudo em seu devido lugar.
Até mesmo o número e o nome de Thomas Shubb. Agora sabia por que Harry o
contactara.
Seriam meras
coincidências ou Harry teria incorporado à mente doentia e assassina de
Benjamin Breeg. Havia um modo melhor de saber:
Imediatamente pôs
se a ligar e contactar Thomas Shubb...
Encontraram-se,
então, em uma parte remota da cidade.
— Shubb, sei que
você fez um trabalho para o meu marido.
— Trabalho,
Helen?
— Vamos, não
adianta mentir, tenho-o em mãos, veja — Helen tirou-o de sua bolsa,
mostrando-o.
— Sim. Mas calma
Helen, a discrição é a chave de meu trabalho. E como vai Harry?
— Gostaria que
fizesse um trabalho para mim. Gostaria de saber tudo sobre quem foi Benjamin
Breeg.
— Por quê?
— Harry está
impressionado com os últimos fatos.
— Sim, eu sei, há
um grupo de assassinos que estão matando em nome de Benjamin Breeg. O cara
tinha discípulos.
— E é fácil
alguém se impressionar com isso.
— Ligarei assim
que tiver notícias, Helen.
Continua...
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