segunda-feira, 2 de julho de 2012

SEXO E TAPETES (de Bosco Silva)



Neste décimo capítulo do livro “Sexo, Perversões & Assassinatos”, o investigador Moreira, ao reencontrar-se com a ex-prostituta Neusa, que se auto-denomina como sendo uma “sexogenária”, aproveita o encontro para lhe perguntar sobre hábitos estranhos de seus clientes. Neusa conta-lhe as histórias mais escabrosas vividas por uma velha prostituta.

SEXO E TAPETES


Às dez horas da noite, Moreira estaciona seu barulhento carro, um Maverick preto, 1979, próximo ao conjunto de boates que contornam a orla da cidade. Desce do carro e aprecia a multidão ávida por divertimentos noturnos. E como toda cidade turística, esta não era exceção à regra: possuía uma vida noturna agitada, com divertimentos para todos os gostos, incluindo, claro, os ilegais: sete dias por semana.
A multidão se aglomerava em pequenos grupos, ao redor de mesas de bar ou de luxuosos carros, que ostentavam o poder de compra de seus proprietários. Parecia que a noite mexia com suas paixões, com seus desejos. Era como se, à noite, todos fossem suspeitos. A ilegalidade parecia ganhar certo glamour, e dar sentido ao adágio: “à noite, todos os gatos são pardos”.

Moreira dirigiu-se então para um bar, de onde poderia ver quase todo o movimento de bares e boates. Um bar que parecia ser frequentado por quem queria mais um pouco de sossego.
Pergunta a um garçom por Neusa. O garçom lhe informa que ela está em uma mesa à beira da praia. Dirige-se ao seu encontro.

- Oi! Como vai minha bela “sexogenária”?
- Como a natureza quer: às vezes bem, às vezes nem tanto, mas vivendo... Favor, sente-se. E você, meu querido, como vai?
- Dedicado ao trabalho.
- E a investigação, rendeu-lhe frutos?
- Foi apenas alarme falso.
- Não lhe disse, meu querido? O francês parece ser apenas um cliente qualquer, como tantos outros.
- E como se comporta a maioria dos fregueses, Neusa?
- Bem, pelo menos no meu tempo, eram pessoas solitárias e tímidas, ou homens que iam em busca do que suas mulheres não lhes ofereciam em casa. Alguns já estavam cansados da mesma mulher, do mesmo relacionamento sexual. E ainda havia aqueles que simplesmente viam na prostituta um meio de conseguir o que queriam, sem o trabalho da conquista, ou do trabalho de livrarem-se delas, quando se cansavam destas. Sabe, há também não apenas preconceito às prostitutas, mas também aos homens que procuram elas. Muitos acham que quem procura uma prostituta é incapaz de seduzir uma mulher. Mas não é bem assim: às vezes os homens querem apenas sexo, sem compromisso algum. Não é mesmo?
- Sim. Mas, tirando esses, havia coisas muito incomuns, com relação aos desejos, relação sexual, a essas coisas assim?
- Ah! Sempre têm, né?
- Como?
- Ora, desejos estranhos!
- De que tipo?
- Ah, Ivan, sinto-me com vergonha de contar.
- Mas Neusa, eu ficaria extremamente grato se você me relatasse. Iria ajudar muito nas minhas investigações.
- Bem, sendo assim... – disse Neusa, antes de virar toda a bebida de seu copo, goela abaixo, a fim de tomar coragem. - Alguns clientes tinham uns desejos esquisitos. E eram sempre os que pagavam além da conta. Tinha um, por exemplo, que sempre me chamava para que eu ficasse nua, exceto com relação ao calçado. Ele me pedia para calçar dezenas de pares de calçados, que ele guardava na casa dele. Ele morava sozinho, sabe. E toda vez que eu ia lá tinha novos pares de calçados; de todos os tipos e cores, mas sempre calçados de couro. Pois bem... ele se deitava no chão, sobre o tapete, e me pedia para desfilar ao seu lado, com os pares de sapatos que tinha me dado. Depois pedia pra que eu pisasse sobre ele, sobre o rosto e o peito dele. E ele ficava lá, lambendo os sapatos nos meus pés. Às vezes até mesmo me pedia para pisar no negócio dele; lá... tu sabe onde! – relatou Neusa, gargalhando e cutucando Moreira no braço, com o cotovelo.
- Mas era só isso? Não havia algo mais... Não havia sexo?
- Ás vezes, mas era muito raro. E quando acontecia eu estava sempre de bota.
- Estranho!... E esse homem, perdeste logo contato com ele?
- Durou apenas um ano. Deve ter morrido ou viajado. Pois, depois desse tempo, ele nunca mais me procurou.
- E era sempre com você?
- Claro, meu bem, um programa fácil assim, a gente agarra com as unhas. E eu jurei a ele total segredo; apenas pras amigas mais íntimas eu contava – disse Neusa esboçando um leve sorriso.

Houve uma pequena pausa para que a mesa fosse novamente abastecida com bebidas.

- Sim, Neusa, conte-me mais – disse-lhe, Moreira, após a retirada do garçom.
- Bem, tem histórias engraçadas, como essa, assim como as nojentas e tristes. E também as violentas, que uma prostituta tem que passar... Depois ainda dizem que é a profissão mais fácil do mundo!
- É, é uma pena!
- Essa quem me contou foi uma amiga:

Ela estava aperreada pela falta de grana. Então, um cafetão chamou ela, e disse que um de seus melhores clientes estava precisando de uma menina que topasse coisas diferentes. Ela perguntou então o que seria. Ele, pra sacanear, lhe disse que o cliente pagava muito bem, e que apenas queria que ela jogasse sobre ele, e na vagina dela, manteiga de amendoim para que os dois lambessem.
- Ahã – murmurou Moreira, enquanto levava o copo com bebida à boca.
- Quando ela chegou de táxi à casa do sujeito, viu que não era mentira, o cara morava em um palacete, decorado com mobílias caras e quadros na parede, com molduras pesadas de metal, decoradas com relevos que lembravam muito ouro, assinados por alguém que só podiam ser os artistas verdadeiros. Não se aproximavam nem um pouco daquelas cópias de quadros que vendem nas feiras; então, pensou ela, o sujeito devia pagar muito bem, pois o que não parecia faltar, ali, era dinheiro.
- Sim. Continue.
- Um cara, então, veio recebê-la e levou ela ao seu patrão, um sujeito educado, que tratou ela como uma verdadeira dama. Ele pagou antecipado, uma bolada e tanto de dinheiro. Ela quando viu o dinheiro, pensou que faria de tudo pra agradar aquele sujeito e assim conquistar sua confiança, e, também, mais dinheiro com novos programas. Aceitaria então qualquer coisa que ele quisesse: ménage à trois; vibrador nela, ou nele; dedos e lambidinhas na bundinha dele, etc. Manteiga de amendoim na xereca pareceu a ela fichinha a partir do momento em que a grana reluziu em seus olhos.

E após Neusa tomar mais um gole de bebida, continuou a narrativa:

- Após os dois ficarem nus, veio a surpresa, o sujeito queria que ela se ajoelhasse para que ela mijasse nele, em seu rosto e boca, enquanto ele estava deitado sobre o tapete. Ela estranhou o pedido, mas não viu nenhum problema nisso, afinal de contas era a boca dele e o pagamento compensava, por isso, ela pouco se importava. Porém, depois de seu desejo ser realizado, ele imediatamente quis o contrário. Ela relutou, afinal de contas a boca, agora, era a dela. Ele disse, então, que dobraria o pagamento, caso ela permitisse. E assim foi, com ela permitindo imediatamente.
- Caramba! – pronunciou Moreira admirado.
- E a coisa não parou por aí, não, meu amigo.
- Não?!
- Não. Passaram pra excrementos!
- Que nojo! – exclamou Moreira, após interromper o gole de sua bebida.
- Mas de todas as histórias que aconteceram comigo, e mesmo das que tenha apenas ouvido de amigas, esta parece ser a mais estranha e triste:

Um homem convidou-me para sua mesa, em um bar como este, de esquina. Ofereceu-me bebida e pôs-se a comentar sobre sua esposa, que parecia ser bastante querida. Contou-me sobre todos seus anos de vida, vividos em sua companhia. Porém, havia algo de estranho no que dizia. Contou-me, finalmente, o que eu já suspeitava, que ele soube recentemente que ela o havia traído, e que, no entanto, ele jamais a havia, em todos esses anos de matrimônio, traído. O ódio havia invadido aquela boca, agora. Disse-me, então, que finalmente, como vingança, a trairia. E que me pagaria para que juntos fôssemos ter em sua casa, sobre a cama de casal que ele havia tanto prezado, mas que ela havia maculado. Eu aceitei, bem que ela merecia, assim pensei naquele dia. Ao chegar em sua casa, fomos logo para a cama. O homem transava e chorava; e quanto mais transava, mais chorava ainda. E balbuciava o nome dela. Convidou-me para que saíssemos daquela cama. Eu o compreendi imediatamente, o seu arrependimento, naquele instante. Fomos para o chão, ao lado de um tapete enrolado, e lá ficamos transando... Em um dado momento, ele pôs-se a gritar o nome dela: “Eunice... Eunice... Eunice”, e chorava. Olhou para o tapete, e disse: “Tá vendo? É isso que tu merece”. Eu não compreendia nada do que se passava naquele momento. Talvez o tapete fosse presente de casamento e que, por isso, causasse lembranças dela. Foi o que pensei na hora. Só sei que parecia que o homem endoidara. Mas, alguns dias depois, veio a surpresa. Ao ler o jornal li a matéria, espantada:

CRIME DO TAPETE: homem mata esposa a facadas e a esconde enrolando-a no tapete de casa.
- E lá estava a foto dele, e do tapete. Ele havia matado a esposa, e no outro dia se entregado à polícia – disse Neusa.
- Nossa, que história! Parece que me lembro do ocorrido; já faz alguns bons anos, não?
- Ah! Já!... Já se vão alguns bons anos, sim... Pois é, meu filho, por tudo isso uma prostituta passa. Imagine, eu estava ao lado de um cadáver, e não sabia. Que coisa horrível eu ter feito aquilo, estando o cadáver ao lado! Não é mesmo?

Para ler os primeiros capítulos de SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATO, acesse:https://clubedeautores.com.br/book/130007--SEXO_PERVERSOES__ASSASSINATOS


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