terça-feira, 14 de agosto de 2012

UMA ENTREVISTA COM O DIABO (de Bosco Silva)




CARTA AO LEITOR

Caro leitor, aqui, finalmente, está o que tenho guardado há alguns anos. São segredos que me foram revelados há poucos anos. E que não poderia deixá-los encobertos por puro egoísmo. Por isso, aqui venho, por meio desta, dividi-lo com você, pelo grande valor de seus conhecimentos.

Nela estão algumas revelações, que após anos de pesquisas, foram-me possíveis pelo contato com uma estranha entidade ancestral, que presidiu a própria criação do mundo.

Peço-lhe que julgue por si próprio a veracidade de tal história, sempre levando em conta o bom senso em tal investida. E mesmo que creia não ser verdadeira, atente para o conhecimento que nela está contido, pois são conhecimentos reveladores, que podem ser vistos como independentes de sua história.

O Autor.


ENTREVISTA COM O DIABO

“É doloroso, mas o mundo é do Diabo, assim como o Céu é dos tolos”
(Palavras de Satã, personagem da obra Macário de) Álvarez de Azevedo

Estávamos todos bêbados naquela noite, e, quando isso acontece, quase sempre alguém inventa a brincadeira do copo.

Para aqueles que não a conhece, ela chama-se assim por utilizarmos um copo como apoio para nossas mãos, e também como seta, que indicará letras, que formarão palavras por meio dos movimentos involuntários de nossas mãos sobre um tabuleiro, tendo todas as letras do alfabeto.

Esta é uma velha brincadeira, que não assusta mais, com sua ideia que um espírito ao redor da mesa irá responder todas as nossas perguntas, já que todos sabemos, como já foi dito, que se deve a movimentos involuntários, ou a vontade, bastante voluntária, de alguém engraçadamente intencionado.

Mas, não ligando para isso, e tendo apenas o intuito de diversão, nos entregamos a tal brincadeira.

Em um dado momento, as letras se conjugaram e formaram a palavra Belzebu, e logo em seguida a palavra telefone, seguida por meu nome.

As risadas imediatamente se alastraram pelo ar. Senti-me logo como o escolhido, para as próximas brincadeiras que dali surgiriam, naquela noite.

E, malgrado meus avisos que não iria me assustar com tal brincadeira, o telefone tocou imediatamente.

Era para mim. E aos risos fui atendê-lo.

Do outro lado, uma voz bastante grave me dizia:

- Aqui é Belzebu. Meu mestre, o Diabo, gostaria de contactá-lo.

Eu, admirado pela organização e rapidez da brincadeira, fiz questão em participar dela.

Disse-lhe, então:

- Qual o motivo de tão magnífico convite?
- Os dois artigos que escreveste sobre o Diabo.
- Ah!, sim, O Diabo e o Rock* e A Verdadeira História do Diabo**.
- Sim. Ele gostou muito. E após milhares de anos, Ele encontrou alguém a quem pudesse dar uma entrevista. Alguém que conhece os erros e as injustiças que lhe tem sido atribuído.
- Então, serei para Ele uma espécie de advogado, um advogado do Diabo?
- Sim.
- E o que receberei em troca?
- Conhecimento e paciência para suportar as idiotices dos religiosos.
- Bem, já é um bom começo, pena que em meu país o conhecimento vale tão pouco!
- Irei contactá-lo novamente. E darei o local e a data do encontro. Aguarde – disse-me.
- Ok. Dê lembranças ao Diabo. Diga que Ele tem bom gosto – e desliguei o telefone às gargalhadas.

Os dias passaram, e esqueci totalmente da brincadeira. Porém, um dia, enquanto estava enfrente à televisão, recebi um telefonema:

- Alô.
- Você ainda se recorda de nossa última conversa? – disse alguém do outro lado da linha.
- Que conversa?
- Do encontro programado.
- Que encontro?
- Do encontro com o Diabo.
- Ah, sim, desculpa.

A brincadeira passada ainda fazia-se render. E eu ainda continuava a mantê-la viva. Disse-lhe, então:

- Continuo aguardando.
- Finalmente, hoje nos encontraremos. Aguarde um táxi em frente de sua casa, às três horas em ponto da madrugada. Ele lhe trará até nós.
- Sim, vou aguardar.

Um táxi preto, com vidro fumê, parou enfrente ao meu prédio, como o combinado, ás três horas da madrugada. A placa, curiosamente, ostentava o número 666.

A noite e a brincadeira bem produzida, prometiam – então, pensei.

Ao entrar no carro, eu não conseguia ver o motorista, pois um vidro escuro nos separava. O táxi rumou, então, para o centro da cidade. E logo estávamos enfrente a principal igreja da cidade: Basílica de Nazaré.

Ao lado dela um sujeito de preto me aguardava.

Era um sujeito alto, bem apessoado, que tirando os óculos escuros, nada de diferente aparentava.

Disse-me, com voz extremamente grave: - Seja bem-vindo. Meu nome é Belzebu.

E em seguida entramos por uma portinhola que havia ao lado da igreja.

Comentei a ele que jamais tinha visto tal portinhola, mesmo passando por ali quase todos os dias. O qual me respondeu de imediato: - O Diabo tem seus segredos!

A pequena porta nos conduziu a um longo corredor iluminado por tochas em todos seus lados. Ao fundo do corredor uma imensa sala, iluminada por luz de velas negras, tendo no centro uma grande mesa, em que se encontrava um sujeito, sentado, trajando um longo hábito, com capuz. E sem levantar a cabeça, saldou-me ao entrar:

- Seja bem-vindo ao meu último exílio. SOU AQUELE QUE TODOS TEMEM SEM CONHECER. Sou a luz e a treva. O Grande Todo. Aquele que a própria morte teme.
- Eu, sou apenas aquele que escreve: um simples escriba.

Olhava discretamente para todos os lados, para ver as pessoas que deveriam estar escondidas a nos observar. Mas, por mais que olhasse atentamente, nada via. A brincadeira parecia, mesmo, ser muito bem feita, tanto que não via a hora de perguntar pela aquela produção cenográfica. Por seus detalhes muito bem feitos.

Ficava a pensar de quem era a obra, quem a teria organizado, quem a teria planejado. Pensei por um momento que poderia ser uma festa surpresa. Mas não era um dia especial em minha vida, como aniversário. O que então seria?!

O que melhor poderia fazer era segui-la e ver em que daria.

Disse-lhe, então:

- Observei que a placa do carro é 666, então estava errado, este é mesmo o número do Diabo?
- É o que dizem, mas para mim não tem o menor sentido. Uso-o apenas para identificar-me, mas poderia ser qualquer outra coisa. Embora você esteja correto em seu texto.
- A tradição o associa ao sol, e figurativamente aos seres iluminados, pois 666 é a soma dos números de 1 a 36, dos números do quadrado mágico, que representa o sol. Representa, portanto, também Lúcifer, palavra que em sua origem, latim, significa aquele que traz a luz. Nada há nisso de mal, pois é um belo título, que tem sua origem no nome da estrela da manhã, o planeta Vênus, que antecede sempre ao amanhecer e pôr do sol.

Cristo também o usou, a se referir como estrela da manhã, como aquele que traz a luz, como o iluminado, enfim, como Lúcifer:Eu, Jesus,... Eu sou a raiz e o descendente de Davi, sou a ESTRELA RADIOSA DA MANHÃ.” (Apocalipse 22:16). Mas para Você, certamente, é apenas mais uma velha história.

Nesse momento, notando que seguia a cena à sério de mais, enveredei para um tom mais jocoso, pois aquilo era para se divertir, e eu deveria me divertir mais. Então, perguntei:

- É verdade que és a criatura mais velha que existe, até bem mais que minha avó?

De imediato aquele sujeito pareceu se inflamar de ódio, soltando um grito ensurdecedor, ao qual nada deu para ver seu rosto, mas apenas sua imensa boca, que fez tremer a mesa e a parede. E em seguida, pôs-se falar palavras incompreensíveis, que pareciam ser latim. Pensei comigo, ainda bem que não perguntei sobre seus chifres! E ri em silêncio.

Em seguida, me respondeu:

- SOMENTE AQUILO QUE MORRE POSSUI IDADE. PORÉM, EU SOU O PRÓPRIO TEMPO, A ETERNIDADE.

E após algum tempo em silêncio, em um momento mais calmo, tal brincadeira trouxe-me à memória uma velha lenda de minha cidade, que afirma que uma imensa cobra dorme à anos sob a velha igreja, e todas as vezes que esta levemente se acorda faz tremer a cidade. Perguntei-lhe, então:

- Qual o motivo de se encontrar em uma igreja católica, e não em outra, como em um templo evangélico?
- Pelo menos aqui não usam tanto meu nome para ganhar dinheiro. Além disso, há o vinho! Dois mil anos de Cristianismo, pelo menos valeram para criar o gosto por um bom vinho. E o vinho dos padres são os melhores!

E enquanto saboreava o vinho, tirando gosto com as hóstias, suspendeu a grande taça, brindando a mim. E como por um passo de mágica, soltou a taça deixando-a parada no ar, enquanto folheava o grande livro que havia na mesa. Disse-me, então:

- Sei que não acreditas em mim. Mas, veja, eis o livro da vida e da morte. Seu nome, como os de todos, está aqui. Bem como grande parte de sua vida.

E após falar isso, levantou-se em direção a mim. Pôs sua mão sobre minha cabeça, e com uma grande nitidez, pude ver toda a história do mundo, de seu princípio àquele momento que me encontrava ali. Em seguida, pôs-se a contar segredos da minha vida, que nem mesmo eu sabia. Bem como fantasmas de meus entes queridos, alguns que eu nem mesmo conhecia, puseram-se a contornar-me dizendo segredos aos meus ouvidos. E assim, pude ver, finalmente, de que se tratava. Tudo era absolutamente verdade. E caí de joelhos...

Ele em seguida, perguntou-me:

- Queres saber algum segredo?
- Sim, o maior de todos. Conte-me sobre a morte. Há vida após a morte?
- Nada posso dizer-lhe.
- Mas, Você não conhece tudo?
- Sim. Conheço. Mas pense na morte como num final de um grande livro: se eu contar-lhe o segredo, o final, estraga a história! Pois sou também o autor deste Grande Livro. E tudo que posso lhe dizer é: não se assuste, a morte é um grande alívio!
Mas, você pode descobrir por si próprio.
- Mas dizem que não é possível ter certeza, em tal assunto.
- Besteira – disse-me, Ele.
- Olhe.

Neste momento, o corpo de um homem apareceu entre nós.

- Quem é ele? – perguntei ao Diabo.
- Não importa. O que importa é que está morto.
- E o que diria este sobre a própria morte? Poderia este corpo nos relatar algo?
- Muitíssimo, meu caro.

E após isto, o corpo começou a apodrecer, em nossa frente, mudando de tonalidade, inchando, se liquidificando, sendo absorvido por bilhares de bactérias e vermes, tornando-se apenas ossos. E, finalmente, secando, até ao pó.

Em seguida, o Diabo, disse-me:

- Um cadáver conserva sua estrutura de organismo vivo por pura inércia de seu material. Pouco a pouco seu material é absorvido pelo todo. Pois, “o cadáver não é senão o conjunto dos materiais da vida: um pouco de água, de carvão, de azoto, de ferro”, como já foi bem dito.
A vida é “o que mantém, direta ou indiretamente, a própria forma do organismo”, em sua luta diária para não se entregar ao todo. A vida, pois, é o extremo da morte.
- Sim, mas nada há de novo nisso.
- Calma, meu amigo – disse-me, com a voz extremamente calma. E continuou:
- Por outro lado, há na natureza um ponto de equilíbrio, em que os extremos se assemelham e se completam, mantendo o universo, sua unidade (uni), apesar de sua infinita variedade (verso), fazendo com que este não se destrua, mantendo o equilíbrio de seus elementos e de seus excessos, e conservando em todas as coisas sua identidade.
Por isso, não é de estranhar semelhanças nas coisas e em seus excessos. O que faz com que a mais alta e a mais baixa temperatura, queimem; que a falta e o excesso, façam mal; que o imensamente grande e o pequeno, se assemelhem, como no átomo e em seu semelhante sistema solar; que a infância e a velhice tenham pontos em comuns, na diminuta quantidade de pêlos e dentes, na pele enrugada, etc; que o silêncio e o mais alto som sejam inaudíveis; que o grande e o pequeno, sejam extremamente mortais, como um elefante e um vírus; que a mais extrema fealdade e beleza chamem atenção; que o zero e o número infinito, não sejam divisores de nenhum outro número; que a falta e o excesso de água, façam mal, o primeiro causando desidratação, o outro afogamento; que a ausência e o excesso de luz, nos torne cegos; que o óbvio e o incomum, torne-se de difícil explicação; etc... e, finalmente, que a vida e a morte possua muito em comum.
Este é o caminho, meu caro, aplique este princípio e entenderás cada vez mais sobre a morte. Isto é tudo que desta posso lhe ensinar.
- E quanto a estas doutrinas que explicam sobre a morte?
- Tudo balela! Meras projeções inconscientes.
- Fico a pensar o que pensariam outras pessoas a ouvir o que dizes. Certamente, não acreditariam em nada que dizes, pois para elas o Diabo é o pai da mentira.
- Certamente. Mas foram seus líderes religiosos que mentiram. Se há um criador da mentira, esse criador é o homem, em sua busca desenfreada por poder.
Primeiro, para aumentar o poder de suas crenças, tentaram destruir os deuses pagãos, distorcendo seus significados para seus seguidores, tornando-os seres negativos, sem nenhum valor positivo. E assim impedindo seus seguidores de conhecerem e respeitarem outras crenças. Associando tais deuses a esta imagem falsa, criada simplesmente para amedrontar seus seguidores, do Diabo, como um ser puramente malévolo. Para tanto, juntaram símbolos, que para outras religiões eram, e são sagrados, criando assim tal imagem.

E enquanto falava isso, abaixou o capuz expondo seu rosto. Ao qual reagi com imenso susto! Pois mesmo conhecendo sua história, me espantou saber que o Diabo possui rosto humano.

Disse-me:

- Por acaso, esperavas pele vermelha, barbicha e chifres? Quanta ignorância! Agis como um homem qualquer!
- É que mesmo sabendo sua história, torna-se difícil livrar-me destas idéias preconceituosas.
- Sempre me surpreendeu que pintassem um quadro horrível de Mim. Imagine: Eu todo-poderoso, querendo capturar novas almas, iria lhes atrair com uma imagem horrível, cheirando a enxofre? Não seria melhor assim...

Neste momento transformou-se em uma linda mulher, como poucas que já vi na vida, com um corpo escultural, esplendoroso!

- Ou assim...

Transformando-se em um belíssimo carro, como aqueles que são intensamente desejados.

- Eu não possuo rosto, nem formas, porém, tomo a forma que quiser. E digo-lhe, jamais tomaria uma horrível forma. Esta foi criada para distorcer outros deuses.
Veja, por exemplo, os chifres, para antigas culturas, estes representavam símbolos de sabedoria, em seus deuses. Assim como outros, como o tridente. Mas que hoje representa esta imagem asquerosa do Diabo. DEPOIS EU QUE SOU O MENTIROSO!
Quanto a isso, esta falsa imagem minha está ligada ao imenso orgulho humano, pois estes crêem que são a coisa mais importante do universo, e que eu apenas teria um único pensamento: tentá-los para possuir suas mentes, e assim ofender a deus, com a idolatria de sua mais importante criatura, como se Eu não tivesse coisas mais importantes a fazer!
Veja estes filmes, em que possuo a mente de jovens meninas, como me retratam idiota! Para que perderia tempo em possuir mentes tão insignificantes, sem nenhum poder, quando poderia possuir mentes poderosas, como as de alguns presidentes, e causar tantos danos. PARA QUE PERDER TEMPO PROVOCANDO TREMELIQUES, SE POSSO CAUSAR TERREMOTOS!, meu caro.
- Então, por que continuas conservando o nome Diabo?
- Como disse antes, é apenas um modo de me identificar, pois Eu mesmo não tenho nome. Assim, nomes como Demônio, Satã, Mefisto, Satanás, Samael, ou os populares, Capiroto, Coisa-Ruim, Sete-Peles, Capeta, Demo, Cão, etc, não têm para mim o menor sentido, são apenas nomes.
- E o termo Lúcifer, teria algum sentido?
- Ah!... este, sim. Lucis Ferre: Lúcifer, AQUELE QUE TRAZ A LUZ. É um belo nome! Com um belo significado. Este sim, cabe à mim. Sou Eu quem traz o conhecimento aos homens.
- Contudo, mesmo este termo tornou-se distorcido para os cristãos.
- Pobres coitados, procuram a luz, enquanto mais se atolam nas trevas da ignorância!
São adultos que possuem temores de criança! Este é mais um erro de seus líderes religiosos. Não vêem que é um magnífico título! Até mesmo seu deus, Cristo, ostentou-o.
- E quanto ao outros deuses?
- Não há outros deuses. Sou o único Deus. Sou a consciência do Cosmo.

Atar, Resheph, Anath, Ashtoreth, Ahura Mazda, Nebo, Melek, Ahijah, Ísis, Ptah, Baal, Baco, Astrarte, Ares, Hadad, Hermes, Hera, Dagon, Yau, Amon-Ra, Ártemis, Apolo, Osíris, Molech, Arianrod, Morrigu, Jupiter, Jano, Sekhmet, Govannon, Gunfled, Geb, Dagda, Dionísio, Geush Urvan, Ogurvan, Dea Dia, Iuno Lucina, Inanna, Saturno, Furrina, Cronos, Engurra, Belus, Ubililu, U-dimmer-na-kia, U-sab-sib, U-Mersi, Tammuz, Vênus, Belis, Nusku, Néftis, Aa, Sin, Apsu, Elali, Mami, Zaraqu, Zagaga, Nuada Argetlam, Nut, Tagd, Goibniu, Odim, Ogma, Marzin, Mitra, Marte, Diana de Éfeso, Ra, Seth, Robigus, Plutão, Ptah, Vesta, Zer-panitu, Zeus, Zam, Merodach, Minerva, Elum, Enki, Marduk, Mah, Nin, Perséfone, Istar, Lagas, Nirig, Nebo, Em-Mersi, Assur, Asalluhi, Beltu, Kusky-banda, Nin-azu, Qarradu, Urano, Ueras, Vesta, Khonsu, Afrodite...

Todos estes deuses - e essa é apenas uma pequena lista de centenas de milhares de deuses - foram deuses de culturas poderosas, em seu tempo. Todos foram cultuados e temidos. Sacrifícios foram feitos em suas homenagens. Pedidos e rezas eram lhes enviados. Gerações se dedicaram a construir-lhes imensos templos. Sacerdotes se dedicaram a lhes interpretar suas vontades, seus desígnios. Desafiar suas vontades era inevitavelmente a morte.  E onde estão agora? Estão todos esquecidos, como seus povos. MAS EU CONTINUO VIVO, POIS SOMENTE O QUE NÃO TEM NOME NÃO PODE SER ESQUECIDO.
- Sim. E agora temos Cristo – disse eu a Ele.
- E o que diferenciaria esta nova crença das antigas? Todas foram e são formas de dominação.
COMO SE PODE CRER EM ALGO QUE LHES FORA IMPOSTO À FERRO E FOGO, A CUSTA DE TANTO SANGUE!!! Da conversão imposta pelo imperador Constantino, aos seus súditos, ao Cristianismo, à conversão dos índios neste tempo. Incluindo as cruzadas que mataram e expulsaram milhares de não-cristãos de Jerusalém, à Inquisição, que matou milhares de pessoas, por não compartilharem de crenças cristãs. Incluindo também a total dominação e manipulação da cultura e do conhecimento, durante centenas de anos, em favor da religião cristã.
QUE CRENÇA É ESSA QUE PRECISA DE TANTA FORÇA PARA CONVENCER OS HOMENS DE SUA VERDADE!!! Não a bastaria por si própria?
As religiões sempre foram usadas para manipular o povo, lhe roubando a energia necessária para transformar a realidade. Os antigos gregos já sabiam disso, para eles religião era coisa para mulheres e escravos. Era um instrumento de poder para acalmar os ânimos dos menos favorecidos, como estes, e assim manter a ordem.   
- Então, não há nada de positivo nelas?
- Há, sonhar é preciso!
- E o tal falado encontro, no deserto, entre Cristo e o Diabo?
- Na verdade nunca houve tal encontro. O que lá se comenta é a luta entre o desejo espiritual do homem e os desejos e necessidades da carne. Tais escritores usaram o Diabo como uma personagem para simbolizar os desejos e a luta contra as tentações da carne.
- Tudo é mentira? – indaguei imediatamente a Ele.
- Seria um exagero afirmar isso – respondeu-me. Mas, pode-se dizer que em grande parte, sim.
Ainda lembro quando começaram: eram apenas um punhado de simples seguidores amedrontados e castigados com a dura realidade. Procurando por todos os cantos por alguém que pudesse lhes dá esperança, como ainda hoje. Até que surgiu um homem, em meio a tantos outros, um certo Josué, ou Jesus, como queira, já que ambos os nomes possuem o mesmo significado: salvador, que os liderou com palavras de conforto.
Sua doutrina se espalhou, como tantas outras, entre o povo humilde. Mas, ao morrer teve sua memória e doutrina traídas pelos que ambicionavam o poder, pois logo viram em sua doutrina um modo de manipular o povo. Aí começaram as mentiras!
Logo, ambicionaram um maior crescimento para tal crença, ambicionando torná-la universal, e assim, criaram uma nova biografia para Cristo, condizente com outras crenças, a fim de seduzirem fiéis de outras culturas. E isto é fácil de ver, por exemplo, compararam Cristo a Moisés, o líder judeu, em seu nascimento, pois como Moisés, fizeram-no ser perseguido por um rei (Herodes), que temeroso por uma profecia, tentou matá-lo para que este não perdesse o poder.
Adaptaram-no, também, à cultura grega, persa e romana, como aos seus imperadores, transformando-o, em deus, como se pode ver em seus próprios escritos cristãos, que tal fato era bastante comum em tais povos, pois um de seus escritores relata claramente isso, quando diz que os próprios cristãos Paulo e Barnabé, foram chamados de deuses por um desses povos.
- Sim, nos Atos dos Apóstolos de Lucas, está descrito.
- Tal fato, era como uma homenagem para os persas, que divinizavam seus líderes políticos e religiosos.
Os gregos já estavam bastante acostumados, em suas mitologias, com seres metade homem metade divino, e mesmo com a divinização total de alguns heróis gregos.
Os imperadores romanos se auto-divinizavam, como uma forma, não apenas de orgulho, mas de manipular o povo, pois a ordem de um deus não poderia ser recusada.
Fizeram-no nascer também de uma virgem, coisa que para os povos egípcio, romano e indiano, não era novidade, por exemplo, o deus indiano Krishna nasceu de uma virgem chamada Devanaguy. O deus egípcio Hórus também teria nascido de uma virgem. Bem como o deus cultuado em Roma, Mitra, de origem persa. E, finalmente, a fim de não Me alongar tanto, na comparação de sua história à história de outros deuses, o associaram aos deuses que venceram a morte, como Mitra, Hórus, Dionísio.
- Quer dizer que transformaram Cristo em um mito?
- Sim. Principalmente para ser um obstáculo ao maior inimigo da cultura Greco-romana, daquele tempo, o Judaísmo, que se expandia assustadoramente, e que ao mesmo tempo se mantinha fechado para outras culturas, como ainda hoje.
E se o que tornava forte a cultura judia era a sua religião, por que não usá-la como arma contra os próprios judeus, distorcendo-a, criando um novo judaísmo capaz de atrair simpatizantes do próprio judaísmo, tornando-o mais passível de influência da cultura Greco-romana.
- E assim nasceu Cristo como mito.
- Sim – disse-me o Diabo, completando:
- E para tanto, tornaram Cristo filho do deus de Israel, a partir de uma própria profecia judaica. Tendo, no final, os próprios judeus optados em levá-lo à cruz, tornando-os, de modo indireto, inimigos dessa nova religião, o Cristianismo.
Bela solução, não acha? Não apenas criaram uma forte contensão à expansão do Judaísmo, como ainda os tornaram inimigos desta nova religião! O que explica em grande medida, por que mesmo ainda hoje, nenhum documento foi achado que comprove a existência de Cristo.
E uma vez estando tudo pronto para dominar outras religiões - incluindo textos, com fatos maravilhosos, como milagres – estavam, consequentemente, prontos para dominar o mundo, sonho tão cultuado por vários imperadores, Dario I, Dario III, Xerxes, César, Felipe da Macedônia, e, finalmente, Alexandre, o grande, ou mesmo Hitler. Porém, para tanto, tal doutrina esperava um imperador, que surgiu na figura de Constantino.
A partir de 315, os primeiros símbolos cristãos começam a aparecer nas moedas do império de Constantino. Em 323 as últimas representações pagãs são destruídas completamente. Tem início aqui, toda a dominação que ainda vemos hoje.
É como eles próprios dizem “não há coisa alguma escondida, que não venha a ser manifesta: nem coisa alguma feita em oculto, que não a ser pública.” (Mc 4:38-21). E Eu completaria, nem que seja pelas mãos do Diabo!

E tendo falado isso, aproximou-se novamente de mim, pondo a mão em minha cabeça, dizendo-me ao ouvido:

- Mas o resto fica para a próxima.

Acordei em um banco da praça em frente à igreja, com um guarda a me chamar. O dia já estava bastante claro. E ao passar ao lado da igreja, procurei pela pequena porta, sem nada encontrar.
Atordoado pelo sol, e o barulho da cidade, caminhei em rumo de minha casa, tendo sempre a sensação da confusão de um sonho em minha mente. E em quanto vasculhava os bolsos, a fim de encontrar algum dinheiro para minha condução, encontrei um cartão, em que estava escrito:

Diabo. Favor, aguardar.


* Artigo publica no site cerebrau.com.br
** Artigo publicado no site cerebrau.com.br  
             

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