quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A MENTE ASSASSINA OU REFLEXÕES SOBRE A CRUELDADE HUMANA



ATENÇÃO: este texto é desaconselhável a pessoas sensíveis.


A criatividade humana para a maldade parece mesmo não ter limites: no Paraguai o castigo para delatores ou para quem vende drogas para atravessadores concorrentes, são de várias formas, mas duas são as formas prazerosamente preferidas: “Amarrar o condenado com as mãos numa mula e os pés em outra. Os animais são espantados para correr em direções opostas. Apreciam, também, amarrar o sentenciado pelo pescoço num cabo de náilon na traseira de uma caminhonete e acelerar por cerca de trinta quilômetros, em média. Quando o veículo pára de puxar o esfolado vivo, pouco resta do que foi um ser humano.” E ainda: “Nas rebeliões orquestradas passaram a ser vistas cabeças cortadas exibidas como se fossem troféus. [...]. Cabeças espetadas em pontas de ferro nas lajes de presídio. Corações arrancados do peito, fritos e comidos pelos principais inimigos no interior de São Paulo. Olhos extirpados, forçando-se o novo cego a comê-los para, em seguida, decepar-lhe a cabeça e atravessá-la por uma corda fina, entrando por um ouvido e saindo pelo outro, a fim de exibi-la para presos e reféns apavorados.”1

AS DUAS FORMAS DE ASSASSINOS
Com relação à legalidade, há duas formas de assassinos: uma legalizada pelo estado, pelos governos, ou por instituições, como a religião, em que tais assassinos transferem de si, para uma instituição, a responsabilidade por seus atos. Assim, temos soldados de guerra, policiais, homens-bomba, etc. E outra, uma forma ilegal, não acolhida pelas instituições, aqui referidas, como os soldados do tráfico:

A ESCOLA DA MORTE:
UMA AULA DE VIOLÊNCIA
O jornalista Percival de Souza, ainda nos brinda com uma fria, bizarra e sangrenta descrição de um acerto de contas:2 “...Um homem, com um saco de estopa enterrado na cabeça e que o cobria até a cintura surgiu dos fundos da casa, sendo conduzido aos empurrões até a entrada da propriedade, repleta de árvores, de vários tamanhos. Os convidados foram informados de que poderiam se acomodar porque a surpresa, conforme o prometido, seria muito boa.”
“A surpresa estava ali. Seria um espetáculo.”
“Lentamente, o saco de estopa foi retirado da cabeça do tal homem, revelando – surpresa mesmo! – quem era aquela enigmática pessoa, identidade oculta durante longos sete minutos.”
“Ali estava, manietado no centro de uma platéia, o traidor do carregamento de uma tonelada de drogas que caíra nas mãos da polícia. O anfitrião conduziu um rápido interrogatório, [...].”
“- Merece morrer?”
“- Peço perdão. Uma chance. Não vai acontecer nunca mais.”
“A voz suplicante não sensibilizou o anfitrião, que balançou a cabeça negativamente e consultou a platéia.”
“- Ele merece uma chance?”
“Uma longa vaia marcou a posição dos convidados, que começaram a se aproximar mais, escolhendo uma boa posição para contemplar as cenas seguintes. [...]. A um gesto que o anfitrião fez com a mão direita foi chegando, a passos curtos, compondo uma coreografia aparentemente ensaiada, um homem vestindo avental branco impecavelmente engomado, brandindo nas mãos um punhal reluzente. O homem do pedido negado, que já se sabia ser um condenado, foi colocado de joelhos, enquanto quatro troncos de madeira eram arrastados. O carrasco ficou de pé, do lado esquerdo, aguardando instruções, enquanto o anfitrião mandava servir uma nova porção de carne, que o indiferente churrasqueiro, virando-se rapidamente e por instantes, anunciava estar pronta. A surpresa excitava os convidados, que dispensaram pratos e talheres, apanhando a carne do espeto com as mãos e comendo animalescamente. O condenado foi amarrado com a barriga para cima, sem camisa, sobre os quatro troncos.”
“O anfitrião fez sinal de negativo, com o polegar direito, como se fosse um imperador poderoso no Coliseu do tráfico, o que bastou para o homem de avental branco dar um corte, em diagonal, mas sem profundidade, no peito do condenado.”
“O carrasco era mesmo habilidoso no manejo do punhal cintilante. Seus movimentos eram lentos, espaçados, para dar tempo de cada convidado pegar sem olhar uma nova porção de carne, não perdendo um só momento da execução, que prometia empolgação e detalhes nunca vistos. A punhalada seguinte foi mais forte, na altura do ombro, e a arma foi girando, penetrante, num vaivém circulante - o que provoca dores terríveis -, enquanto o condenado berrava e gemia, contorcendo-se, e o vermelho pingando na terra fazia contraponto ao vermelho do céu. O matador, então, livrou o mal-aventureiro das amarras de couro nas mãos.”
“Um corte no pescoço. Uma punhalada nas pernas. A arma aproximou-se do umbigo e penetrou. Fortemente. Foi deixada ali por alguns minutos, tempo suficiente para cada convidado saborear uma nova dose de uísque e preparar-se para o que haveria de vir, enquanto o anfitrião sussurrava entre os convidados que aquela cerimônia tinha o nome de estripamento, embora o nome correto seja estripação. O condenado se esvaía em sangue, balbuciava por clemência, e sua dor provocava apenas gargalhadas. Nenhuma compaixão. Nada de misericórdia. Os intestinos foram sendo puxados pela ponta da faca, lentamente. O condenado assistia sua própria agonia. O carniceiro-executor, com concentrada expressão glacial no rosto, examinava sem pressa o corpo, escolhendo onde iria desferir, se necessário, o próximo golpe, sendo aplaudido a cada movimento em que seu punhal penetrava um pouco mais, girava e era retirado do corpo do homem soltando pingos vermelhos. A arma era limpa no avental, o executor era impecável e elegante, sem movimentos bruscos e nenhum gesto que pudesse ser interpretado como constrangimento e, menos ainda piedade.”
“Foi aí, então, que o carrasco ensaiou o bote final. Passou a rodear o condenado, e seus passos foram sendo acompanhados por palmas e gritos ferozes (“uh! Vai morrer!, uh! Vai morrer!”). O matador segurou a vítima pelos cabelos, dando a impressão de que pretendia arrancar um escalpo. Segurou firme o punhal, olhou de perto para a barriga do condenado, já com as vísceras totalmente para fora, e nela foi colocando marcações a ponta de faca. Deu seis golpes sucessivos, com toda a força, sendo aplaudido de pé pelo bando ensandecido. Depois, ergueu-se e colocou as mãos para trás, segurando o punhal mais uma vez limpo no avental. [...].”
“Voluntários carregaram o corpo com vísceras expostas para um lago atrás da casa. O anfitrião fez sinal para todos a acompanharem. O corpo foi arremessado no lago, de onde emergiram jacarés até então imperceptíveis. Caudas e mandíbulas agitaram as águas, [...]”

O ALUNO 
Fernandinho Beira-Mar: um Matador à Brasileira

Um dos convidados presente ao sangrento ritual, pôs em prática, tempos depois, a sangrenta lição que teria aprendido. Seu nome: Fernandinho Beira-Mar. “Primeiro, cortaram-lhe lentamente os dedos das mãos, um a um, que foram sendo pendurados num varal. Beira-Mar, acompanhando por telefone tudo o que acontecia dentro do cativeiro da morte, gostou de ouvir a descrição e sorriu satisfeito. Depois, foi a vez dos dedos dos pés. Michel tinha de sofrer com os cortes e a assistir a tudo. A seguir, os próprios pés. Os assassinos, em câmera lenta, obrigaram o infeliz a andar sobre os tocos, dolorosamente, enquanto outras partes do corpo continuavam sendo cortadas. Pelo telefone, Beira-Mar perguntava: ‘Já tiraram os pés? E os dedinhos?’Extirpadas as orelhas, agonia terrível aproximando-se do fim, o traficante ordenou, pelo telefone, que encostassem o aparelho junto ao que restou do ouvido direito e perguntou com sarcasmo: ‘Tudo bem?’Ouviu apenas gemidos. Disse, então: ‘Isso é para você aprender a não sair com mulher de vagabundo”. E “finalmente, os tiros que já não eram mais de misericórdia. O ritual da morte já havia cansado e angustiado os próprios encarregados de matar. Beira-Mar ouviu o barulho dos tiros disparados seguidamente e deu por cumpridas as suas ordens.” 3

GUERRA: A GRANDE
LEGITIMADORA DE ASSASSINATOS
E não é apenas entre  Países pobres, ou entre traficantes, que a crueldade e o desprezo pela vida são praticados, mas também em países cultos e poderosos, como na Alemanha nazista.

Aproximadamente 6 milhões de Judeus foram Mortos na Alemanha Nazista

Doutores nazistas, como Josef Mengele, eram encarregados de pesquisar novos modos de aliviar ou reanimar soldados alemães, que se feriam em batalha, bem como de encontrar evidências da superioridade do povo alemão. Para tanto, usou prisioneiros como cobaias para as suas experiências. Experiências responsáveis por 400 mil mortes em Auschwitz.  Injetou tinta azul nos olhos de crianças, jogou pessoas em caldeirões com água fervente, para testar suas reações, dissecou corpos de prisioneiros ainda vivos, fez centenas de experiências com gêmeos, que logo após eram mortos e dissecados, etc.
Homens como Heinrich Himmler, 2° na escala do poder na Alemanha nazista, considerado como a encarnação do mal, e um dos grandes responsável pelo genocídio judeu, capaz de proferir pérolas como em seu discurso à soldados alemãs: “Se na construção de uma trincheira 10000 mulheres russas morram ou não de exaustão, isso só me interessa na medida que a trincheira fique pronta para a Alemanha.”4 Vinha de uma boa formação, culta e civilizada, não provinha de um sub-mundo pobre e sem estrutura. Educado numa das melhores escolas alemãs, que tinha como base as grandes qualidades do espírito humano, freqüentada por futuras grandes personalidades da poesia e filosofia alemã.
Torna-se difícil sabermos se homens como Josef Mengele e Heinrich Himmler, manteve, ou manteriam, seu sadismo e seus atos cruéis em tempos de paz. Contudo, é certo que são nas guerras que homens comuns, não criminosos, tornam-se assassinos. Porém, são justamente nestas em que o número de assassinatos e atrocidades cresce de modo exponencial, superando, em barbaridade, crimes cometidos por uma pequena minoria tida como genuinamente criminosa, como os psicopatas.
E por que justamente nestas, feitas em sua grande maioria por pessoas comuns, não criminosas, se instalaria os genocídios e as grandes atrocidades?

EVOLUÇÃO, GUERRAS E ASSASSINATOS
Nosso Bifinho de Todos os Dias
Todos temos condições e possibilidades de nos tornarmos assassinos, seja por nos mantermos vivos, ou defendendo o que ou aquém amamos, ou ainda por saciarmos nossos instintos, como predadores. E para aqueles que não acreditam nisso, lembrem-se, que milhares de animais são torturados e mortos todos os dias, pelo o único objetivo de abastecer nossas mesas - o que se evidencia, de modo claro, nossa natureza. Contudo, nem todos nós nos tornaremos assassinos. Não havendo mesmo o chamado instinto assassino, como podemos ver em muitos casos: se compararmos, por exemplo, os casos de alguém que briga instintivamente, com quem aprendeu a brigar, anulando seu instinto, e portanto direcionando melhor seu corpo contra o adversário, notaremos que o primeiro dificilmente machucará o oponente fatalmente, pois este, diferente do segundo, não aprendeu a golpear nos pontos fracos do inimigo. Outro fato sabido é que nas guerras mais de 70% dos soldados, em seu primeiro combate, são incapazes de ferir seus adversários mortalmente. É preciso muito treinamento para que estes possam obedecer as ordens de ataque, mais facilmente.5
E se, portanto, não há o instinto assassino, o que levaria a alguns, mais facilmente a matar, que a outros?
Ao longo dos milhares de anos, a mente humana evoluiu muito pouco, uma grande parte de nós ainda vive mentalmente, como na idade da pedra. Sentimentos como dor, medo, ciúmes, inveja, solidão, ódio, vingança, etc... Se embatem em nós, como há quinhentos mil anos. Nossa evolução material tem se dado à longos passos, em quanto a evolução mental se dá a passos de formiga! Matamos, hoje, por motivos tão primitivos como nos séculos passados, com armas extremamente evoluídas. E em muitos casos a mente não somente não evoluiu, como regrediu. E nos tornamos mais primitivos que o mais primitivo dos animais. Matar é tão primitivo quanto respirar.
Somos ainda, como a milhares de anos atrás, seres sociais, seres que vivem em grupos, e se não há o instinto assassino, há, certamente, os instintos sociais. Um desses instintos é uma predisposição para obedecer a líderes. O que, certamente, foi de extrema importância para nossa sobrevivência, já que menos brigas por status sociais, representava mais corpos saudáveis para a caça ou para a proteção do grupo. “Era especialmente importante que machos solteiros, entre 15 e 25 anos obedecessem ordens até mesmo quando essas ordens envolvessem risco e matança. Estes solteiros eram os caçadores da tribo, guerreiros, exploradores e aqueles que se arriscavam; um bando sobreviveria melhor se eles fossem tanto agressivos para com estranhos de fora quanto amenos ao controle social.” 6 O que tem ainda vigorado nas grandes guerras modernas, pois, o instinto que tem facilitado as grandes atrocidades das guerras, não é (e não foi) tanto o prazer em praticar o mal, mas, a submissão, sem nenhuma crítica, a ordens de seus líderes. O que explica, por sua vez, que homens comuns, sem nenhum instinto assassino, colaborem, em tempos de guerras, com atrocidades, e se tornem assassinos, bastando que um pequeno punhado de líderes os estimule, para tanto. Pois, “seres humanos não são assassinos natos; muito, muito poucos aprendem a desfrutar do assassinato ou tortura. Porém, os seres humanos são suficientemente dóceis para que muitos possam ser eventualmente ensinados a matar, apoiar a matança ou consentir a matar sob o comando de um macho alfa, dissociando-se completamente da responsabilidade pelo ato. Nosso pecado original não é nenhuma vontade de assassinar--- é a obediência.” 7
O que explica, em grande parte, que muitos médicos nazistas encarassem suas pesquisas com naturalidade, como simples cumprimentos de ordens, não relacionada com a responsabilidade pelos seus atos. E, por isso, mesmo, fora de seu trabalho, ser pessoas extremamente éticas, carinhosas e respeitosas. O que, por outro lado, também explica, como um país, com uma imensa tradição cultural humanista, no nível, então, mais alto de civilização, tenha submergido na barbárie nazista, pois, “O homem que vê todos seus vizinhos como assassinos em potencial abdicará de quase qualquer coisa para ser protegido deles. Ele pedirá por uma mão forte de cima; ele se tornará um instrumento disposto na opressão dos seus companheiros. Ele pode até permitir ser transformado ele mesmo em um assassino. A sociedade será atomizada em milhões de fragmentos medrosos, cada um reagindo ao medo de violência individual fantasiada ao patrocinar as condições políticas para uma real violência em grande escala.” 8 Em suma, continuamos agindo como a quinhentos mil anos atrás.

HItler, o Líder Nazista, Responsável por um dos Maiores Genocídios da Humanidade

HIRARQUIA DE VALORES
Deste modo, há um ponto em comum, entre assassinos legais, como assassinos de guerra, e os ilegais, como os assassinos do tráfico de drogas: “no hábito de matar sobre ordens”. O que, de modo geral, contrasta, essencialmente, com outras formas de assassinos. Porém, talvez, excetuando os insanos, todos obedecem a uma hierarquia de valores.
Hierarquizamos nossos valores, priorizamos por importância uns mais que outros. E embora os sentimentos não evoluam, por uma necessidade biológica, ao longo dos anos, sua hierarquia, sim. E, quanto mais priorizamos valores egoístas, mais nos tornamos aptos a crueldade, ou ao assassínio.

FONTES:
1. O Sindicato do crime - PCC e Outros Grupos / Percival de Souza
2. Idem
3. Idem
4. Discurso De Posen de Himmler
5. O Mito do Homem Assassino / Eric Raymond
6. Idem
7. Idem
8. Idem

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