quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

AS VÁRIAS FACES DA MALDADE (de Bosco Silva)



Quando se pensa na maldade é natural que venha logo à mente a violência física desferida contra um inocente ou a prepotência de um indivíduo em relação a outro por motivos que o faz sentir-se superior aquele, inferiorizando e subjugando o outro. Mas a maldade tem várias faces, e esquecemos que ela também está presente em atos que para muitos são insignificantes, ou que, escondida em hábitos culturais, passa despercebida.
E penso que a pior forma de maldade é aquela que tem o poder de transvestir-se de bondade, ocultando-se anonimamente, por meio da mentira, omissão e ganância, como a do grande comerciante que usa a frase "Você freguês em primeiro lugar!", como propaganda.
Nos últimos dias tivemos um bom exemplo de quanto esta forma de maldade transvestida de pequenos atos "insignificantes" é capaz de grandes tragédias, chegando a ser comparada, em efeito, as câmaras de gás dos campos de concentração nazista (sendo este, sim, identificado imediatamente como um simbolo de maldade, embora não o outro):


FOTO DA BOATE KISS
O incêndio de uma boate na cidade de Santa Maria (RS) demonstrou, de um lado, a falta de vontade em proteger vidas humanas por meio de um governo corrupto e incompetente, composto por pessoas que só pensam em si próprio ou no lucro da próxima eleição, deixando de lado sua função e só voltando a ela após o pior ter acontecido; tomando ares de solidariedade com as vítimas mas evitando reconhecer que o melhor remédio é a prevenção; e estimulando uma onda de preocupação das prefeituras brasileiras apenas com a catástrofe da vez, esquecendo que também mortes podem vir de muitas outras fontes, como prédios sucateados, deslizamento de morros, enchentes, verbas públicas desviadas, etc.


  
Do outro, a ganância de muitos empresários, que por meio do chamado “jeitinho brasileiro” criam meios de lucrarem sempre mais ao trocarem equipamentos com maior poder de proteger seus usuários por equipamentos de qualidade inferior e, por isso mesmo, mais baratos. E para completar, uma imprensa sedenta por sangue; que explora as catástrofes à exaustão; explorando o ocorrido na cidade de Santa Maria diariamente, mesmo que suas matérias, não trouxesse nada de novo ou relevante; que invadem, em nome de audiência cada vez maior, a intimidade das famílias das vítimas com perguntas idiotas e irrelevantes como “O que você está sentindo agora ao enterrar seus filhos?” Mas se há uma impressa sensacionalista é por que também há um público sádico louco por ter seu sadismo satisfeito todos os dias.
E como se tudo isso não fosse suficiente, há ainda aqueles que em nome de crenças religiosas irracionais chegam a culpar as próprias vítimas pela tragédia, pois, como dizem, em vez de estarem cultuando deus se entregavam a atividades erradas.
Bem, este é o Brasil; e o que esperar de um país em que assuntos de futebol são mais importantes e obtém mais espaço de ser discutido que assuntos ligados a saúde pública e a educação? 

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