sexta-feira, 22 de março de 2019

SEU NÚMERO É SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

SEU NÚMERO É SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
Naquela noite, saí sozinho, minha mente estava vazia, precisava de tempo para pensar e tirar as memórias da minha mente.

O que eu vi, posso acreditar, que aquilo que vi naquela noite era real e não apenas fantasia: tudo está tão confuso em minha mente, mas posso lhe dizer que eu estava lá quando tudo aquilo começou; aquela coisa horrível, que ainda tremo só de pensar.


Eles têm me seguido dia e noite desde que os mortos retornaram à vida. Há dias que não durmo a me rastejar pelas noites vazias; a fugir dos que me interpelam nas ruas, após o sumiço repentino e inexplicável de Joshua Nazareno, a quem um pequeno grupo de  discípulos chamava-o de "mestre".


Joshua havia nos dito que, finalmente, iria nos revelar seu grande segredo, um número, o verdadeiro número da besta, em um jantar para seus doze discípulos.


Estávamos todos reunidos, como prometido. Tochas queimavam e cânticos sagrados eram louvados; mãos estendidas ao céu. Fogos queimavam brilhantes noite adentro. O ritual havia começado... Sacrifícios iriam acontecer nesta noite.

Estávamos todos sentados à mesa. Não pude evitar seus olhos: eles pareciam me queimar por dentro; inferno e fogo pareciam terem se libertados. Foi quando ele tomou do cálice vazios nas mãos, e disse:

"Hoje vós digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num abrir e fechar de olhos. Nós seremos transformados. Pois é necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade... E então se cumprirá a palavra que está escrito: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu grilhão?".



Dito isto, pôs-se a cortar os pulsos com a faca que estava sobre a mesa, colhendo o sangue no cálice vazio. E, após enchê-lo, disse a seus discípulos:

"esta é minha nova aliança que vos faço. Este é meu sangue, bebei-o em meu nome e da imortalidade".

O cálice foi passado de boca em boca, e cada um tomou um gole de seu conteúdo. E após terem tomado de seu líquido, Joshua então nos disse: "agora sou parte de cada um de vós".

De imediato, seus olhos ficaram vermelhos; seus dentes cresceram em formas de presas. Foi impossível fugir do terror que se seguiu, da fera que havia se instalado ao meu lado. Contudo foi inútil fugir. Joshua cravou seus espessos dentes em cada um de nós.

Desse momento a diante, éramos filhos das trevas, criaturas noturnas, a se rastejar pelas noites vazias, sedentas de sangue e de vida. Foi quando ele, por fim, nos disse:

"Após terem bebido do vinho da vida, comei agora o pão da eternidade, meus filhos".

E nós o devoramos.



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