quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CRÍTICA DO LIVRO: "AS VIDAS DE CHICO XAVIER"



RESUMO: O presente artigo tenta separar o homem Chico Xavier do mito, por meio da análise crítica do livro As Vidas de Chico Xavier do jornalista Marcel Souto Maior.

Deus, espírito, vida após a morte, alma, reencarnação, sempre foram questões que despertaram em mim interesse profundo desde muito novo, principalmente ao ver quanto tais ideias têm poder sobre tantas pessoas ao ponto de deixarem-se enganar por aqueles que tão bem sabem manipulá-las, ou fazer com que muitas dediquem seu precioso tempo e vida a estas. E nascido em uma família que, como a grande maioria das famílias brasileiras, mistura várias formas de crenças religiosas, catolicismo e espiritismo - tendo inclusive os chamados médiuns na família -, dando pouca importância a coerência, passei a pesquisá-las com maior empenho. E logo me deparei com a figura de um simpático senhorzinho que dizia falar com os mortos, Chico Xavier, que causava tanta admiração a minha família quanto a milhares de brasileiros, isto ainda nos anos 80. Dediquei-me a conhecer mais sobre este homem e suas ideias. E tendo sido reconhecido, ontem (3/10/12), por meio de votos, via internet, como “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, achei oportuno expor, aqui, minha a analise de suas ideias e comportamento. Comecemos então analisando o livro que ultimamente é reconhecido como o melhor meio de conhecer Chico:


AS VIDAS DE CHICO XAVIER

Marcel Souto Maior

EM SEU LIVRO “AS VIDAS DE CHICO XAVIER, Marcel Souto Maior conta a história do famoso médium brasileiro Francisco Cândido Xavier (1910 – 2002): uma história recheada de detalhes extraordinários de uma vida que foi cercada por mistérios, de fenômenos sobrenaturais e, como a grande maioria das famílias brasileiras da época, de extrema pobreza também, que tinha como uma de suas principais características a comunicação com os mortos, por meio do que é conhecido como “psicografia”: o poder da comunicação com o além por meio da escrita. O autor nos transmite a ideia de um ser humano com poderes sobre-humanos, que via e ouvia mortos desde criança, como quando o autor nos relata que quando Chico possuía apenas quatro anos de idade, ao ouvir a conversa de seus pais, repreendendo o aborto ocorrido com uma vizinha, disse ao pai:
“- O senhor está desinformado sobre o assunto. O que houve foi um problema de nidação inadequada do ovo, de modo que a criança adquiriu posição ectópica.”
E ao ser interpelado pelo pai, “o que é nidação?” e “o que é ectópica?”, o pequeno Chico não sabia responder, pois apenas tinha repetido o que tinha ouvido de um espírito. 
Este homem que, em fevereiro do ano 2000, já havia sido eleito o mineiro do século, e que recentemente foi eleito “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, é descrito por seu biógrafo como uma grande figura religiosa como as do passado, que possuíam poderes de cura e feitos milagrosos, como Jesus Cristo ou Buda, porém com uma grande diferença, Chico, ao contrário das grandes figuras religiosas de então, possui uma vida muito bem documentada, em todos os aparatos tecnológicos do presente: televisão, fotografia, revista, jornais etc, facilitando análises mais acuradas a seu respeito. E o que tem chamado bastante atenção para o livro foram as declarações do autor feitas em palestras e entrevistas, afirmando que antes de sua pesquisa, “tinha sérias dúvidas sobre questões como vida depois da morte e encarava o líder espírita com o habitual distanciamento jornalístico”, mas que durante a feitura deste e de outros livros seus dedicados ao tema, viu-se transformado em um crente nos fenômenos espirituais.
Assim, já no início de seu livro Marcel descreve fenômenos que aconteceram com ele próprio em presença do médium, como quando diz: “Eu não sabia nem como nem por que, mas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto sem que eu sentisse qualquer coisa especial. Desabavam à minha revelia, aos borbotões, sem nenhum controle.” Ou quando afirma que quando estando na casa de Chico “um calor insuportável tomou conta da minha mão direita – era como se ela estivesse pegando fogo. Uma sensação tão nítida que me fez largar a caneta, saltar do sofá, ir até a porta, girar a maçaneta e correr para o quintal.”
“Fiquei ali fora sacudindo a mão de uma lado pro outro na noite fria...”

Chico Xavier (O Filme)
O que tem também chamado bastante a atenção dos leitores para o livro, além da transformação do mesmo em filme, é que Marcel afirma ter escrito a biografia de Chico de modo jornalístico, imparcial, como ainda não havia sido feita, sendo mesmo apontada por muitos espíritas como uma das “fontes mais sólidas” para se conhecer o fenômeno Chico Xavier. Porém, não foi essa a sensação que tive ao ler o livro. A impressão que tive foi que Marcel, ao escrevê-la, pretendeu muito mais dar atenção aos “fatos” miraculosos tornando a vida de Chico tão empolgante quanto aquelas histórias romanescas em que o personagem principal após sofrer tanto com toda sorte de dificuldades, pobreza, desconfiança da família e do público, etc., tem no fim seu valor reconhecido; ou tornando-a semelhante às vidas de renúncia e sofrimento dos santos católicos. Em suma, Marcel escolheu, intencionalmente, esta velha fórmula aproveitando bem os “fatos” marcantes do mito Chico, misturando-os com doses precisas de humor, o que fez também da narrativa leitura bastante atrativa, e assim, agradando, automaticamente, aos milhões de brasileiros ávidos por conhecer e manter a imagem de um Chico mitificado, com poderes sobrenaturais e santo, garantindo assim o sucesso de seu livro, do que apresentar um Chico humano, passível de erro e de críticas, que se envolveu com pessoas e fatos que não mereceram credibilidade, como plágios, falsificações, etc. Fatos que Marcel Souto Maior passou bastante longe, apenas dedicando poucas linhas aos mesmos.
E são esses fatos, que o autor preferiu não dedicar-se a eles, que a série de textos seguintes, dedicados ao tema, pretendem, de modo sucinto, vasculhar sua autenticidade, abordando as questões com evidências inquestionáveis, mantendo sempre assim a imparcialidade em suas linhas.

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