quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A BONDADE DE DEUS E O PODER DOS VERMES (de Bosco Silva)



Uma das conseqüências para aqueles que acreditam em determinada forma de Deus é a crença de que todas as coisas (animais, plantas, minerais, etc.), incluindo o próprio universo, existem unicamente para nos servir.

Contrariando esta forma de pensar, alguns parasitas estão à milhões de anos infestando e sobrevivendo a custa desta “obra prima de Deus”: o homem. O que não apenas contraria o que é dito acima, como a própria forma de pensar religiosa, como veremos, pois a incompatibilidade entre parasitas e religiões é de longa data:

Foi a causa dos essênios (monges judeus) que seguiam restritamente os rituais da TORAH (livro religioso judeu, conhecido também pela cristandade como velho testamento), com relação a purificação após a defecação. Sendo, assim, após defecarem, se banhavam na mesma água parada, pois “os rituais de ‘purificação’ que envolviam imersão total (olhos, boca, etc.) em piscinas de água parada - um excelente caldo para ténias, lombrigas e restantes parasitas - garantiam infectar toda a comunidade!”1. Fato que foi a causa da grande maioria dos essênios não chegarem aos quarenta anos de idade (seis por cento apenas para ser mais exato, ao cansavam os 40 anos).

“Como nota Zias, os essênios [OU MELHOR, NÃO SERIAM OS PARASITAS?] ‘mostram o que acontece quando se leva as coisas bíblicas demasiado fundamentalista ou literalmente, como fazem em muitas partes do mundo, e quais são as consequências últimas [desse fundamentalismo]’”2.

E isto não se prende apenas ao passado. Recentemente, graças a gripe suína, proibiu-se, dentro das igrejas católicas, o recebimento direto, na boca do devoto, da hóstia, dada por seus sacerdotes.

Quem diria que estes pequenos seres são capazes de destruírem crenças vindas do próprio “todo-poderoso Deus”!

OS PARASITAS

Parasitas “são organismos que vivem em associação com outros aos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, um processo conhecido por parasitismo.”3

Somos, como todos sabem, também a morada de vermes e de outros milhares de parasitas, todos providos pela “SÁBIA” e “DIVINA” natureza de meios para que, tal qual nós, concorram de iguais à vida.

Contudo, sei que muitos dirão, mas Deus proveu o homem de razão, este poder de estender os limites do corpo, de melhorar o que nos parece inferior, de antever possíveis futuros, e de, claro, destruírem seus parasitas.

Embora esqueçam disso quando a razão, este dom de Deus, como dizem, entra em choque com suas crenças religiosas, a razão, de fato, é o que nos diferencia de outros animais.

Porém, até que ponto podemos ter este “dom de Deus”, a “razão”, comandada por seres diferentes de nós, não humanos? Como um PARASITA?

Graças a evolução, os parasitas são capazes de meios incríveis para transmitirem sua descendência.

São capazes, como a vespa Ampulex compressa, de após injetar determinada substância no hospedeiro de sua futura cria, a barata comum, levá-la docilmente, puxando pelas suas antenas, como um cachorrinho, para sua casa, para lá parasitá-la com seus ovos, que darão crias, e que mais tarde devorarão a barata.


A evolução lhes ensinara que em vez de forçar ou matar as baratas, com luta feroz, desnecessária, podia simplesmente comandá-las docilmente por meio de suas substâncias.

Já o crustáceo Sacculina carcini, é capaz de controlar o sexo de seu hospedeiro. Suas larvas fêmias são capazes de penetrar, através das brânquias dos caranguejos, e fixar-se dentro destes. Lá este crustáceo se desenvolverá e se alimentará dos tecidos do caranguejo.

“Quando a Sacculina fêmea atinge a maturidade sexual, atrai larvas macho que também vão entrar no caranguejo e dentro dele vão cruzar com ela. Depois de fecundada, a fêmea precisa produzir seus ovos e para cuidar deles ela usa o caranguejo hospedeiro. Ela põe seus ovos no compartimento de ovos da fêmea do caranguejo, e a fêmea cuida dos ovos como se fossem dela. [..].

Agora o ponto alto. Tudo bem, se o caranguejo hospedeiro é uma fêmea, ela normalmente cria os ovos em seu abdome. Mas o que fazer se a Sacculina infectar um macho? Simples, a Sacculina fecundada castra o macho, e feminiliza o comportamento dele. O macho muda o formato de seu abdome, também desenvolve a bolsa de ovos e toma todos os cuidados, protegendo e oxigenando os ovos. Até o comportamento de liberar as larvas recém-nascidas na água através da agitação da bolsa de ovos (a reboladinha com ginga no fim desse vídeo), como se fosse uma fêmea com seus próprios filhotes!”4


Agora o mais dramático e incrível. O verme Paragordius tricuspidatus que parasita os grilos, alimentando-se e desenvolvendo-se nestes, em sua fase adulta, necessita de um local que haja água para que possa encontrar um parceiro, e se reproduzir.

O verme não pode apenas contar com o acaso para que o grilo se dirija a um local com água em abundância, por isso, por qualquer meio, o verme começa a comandar o cérebro do grilo, de modo que faça com que este se suicide pulando na água. Em seguida o verme está pronto para deixar o hospedeiro, nadando em busca de um parceiro.

“Curiosamente, grilos não infectados são encontrados apenas na floresta, enquanto os infectados são encontrados em locais estranhos como estacionamentos e próximos de piscinas, além de apresentarem uma taxa 10 vezes maior de mortes por afogamento.

Observando o período em que os suicídios ocorrem, os pesquisadores franceses que conduziram os estudos perceberam que há uma maior proporção de grilos que se suicidam algum tempo após serem infectados. Há também uma diferença na fecundidade dos vermes dentro do grilo, ela atinge seu auge depois de cerca de uma semana que o grilo começa a se dirigir para locais estranhos”5, que contenham água em abundância.

O Paragordius Tricuspidatus Fora de Seu Hospedeiro: o Grilo

Do mesmo modo, É POSSÍVEL QUE PARASITAS INFLUÊNCIE A MENTE HUMANA, JUNTO COM ESTE “DOM MARAVILHOSO QUE DEUS NOS DEU”: A RAZÃO. É o que especula Kentaro Mori. Por exemplo:

Os Toxoplasma gondii são os organismos unicelulares responsáveis pela doença conhecida por toxoplasmose.

A proliferação de tal doença se dá entre o rato e o gato, tendo como hospedeiro natural, o gato. Porém, neste processo é natural que o homem seja infectado. Tanto que no Brasil dois terços da população, são infectados por este micro organismo, embora grande parte não saiba disso.

No rato, tal organismo vai diretamente para o cérebro, e lá acontece algo interessante. Como seu principal hospedeiro é o gato, o micro organismo bola algo que faça com que o rato mantenha um maior contato com o gato, para que, por meio do rato, o gato possa ser infectado. Para tanto, o micro organismo faz com que, por meio da parte do cérebro chamada amígdala, responsável pelas emoções, o rato perca o medo instintivo de gatos, facilitando assim o contato, e sua posterior infecção felina, através de sua deglutição.


No homem acontece algo semelhante, “Ao nos infectar, ele se esconde em células do sistema imune chamadas células dendríticas, e as induz a circular mais no corpo. As células dendríticas têm acesso privilegiado no nosso corpo e são capazes de entrar no cérebro, levando consigo o toxoplasma, como um cavalo de Tróia. No nosso cérebro, ele se aloja em células da glia, auxiliares dos neurônios. Lá o toxoplasma se reproduz aos montes, e manipula o sistema imune para controlar sua população em ciclos de sobe e desce.”5

  “Sabendo disso, cientistas começaram a se perguntar o mesmo que você deve estar se perguntando agora. Mas o toxoplasma não se comporta do mesmo jeito no ser humano e no rato?

  Não que ele nos faça perder nosso medo de urina de gato, mas algumas relações intrigantes apareceram. Há uma grande correlação entre pessoas que sofrem de esquizofrenia e portadores de toxoplasma. Pior, remédios que tratam esquizofrenia, como haloperidol, matam o toxoplasma, deixando uma dúvida sobre quem o remédio trata.

  E isso vai além. Em uma outra pesquisa , mulheres com toxoplasmose foram identificadas como mais afetuosas, inseguras e persistentes. Já os homens, mais ciumentos e menos interessados por novidades.

   Agora aumente a escala disso. Imagine países tropicais, como os países latinos, onde o solo mais quente favorece a sobrevivência dos oócitos e têm altas taxas de toxoplasmose, em contraste com países do norte europeu, com índices baixíssimos da doença. Pense na imagem que as pessoas têm dos latinos, mulheres mais quentes e afetuosas, e homens mais ciumentos…

   Pense agora que metade das pessoas do mundo têm toxoplasmose e que nossa cultura é construída pela interação de todas as mentes…

   Será que esse parasita pode ser mais um dos milhares de fatores que influenciam nossa cultura??”6 E, consequentemente, de modo geral, a razão.

   Quem diria, mais uma vez os parasitas parecem nos ensinar a nos despojar de nosso orgulho, e nos ver como apenas mais um ser na natureza.

FONTES:
2. Idem


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