terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A CAÇADA (de Bosco Silva)



Antes do conto, um vídeo a fim de entrarmos em seu clima tenso:



AGORA, O CONTO:

Rafael era um homem como tantos outros: achava-se com atributos capazes de seduzir a mulher mais exigente de todas: possuía um belo rosto, um físico atlético e um pênis que lhe causava imenso orgulho.
Reunia-se com amigos todas as noites de fim-de-semana. Chamavam essas reuniões de caçada, em que as presas eram belas mulheres que lhes possibilitassem os mais luxuriosos prazeres sexuais, que eram descritos todas as quartas-feiras, por eles, em reuniões em que se deleitavam ao contar suas aventuras sexuais dos fins-de-semana.
Naquela noite, eles haviam se reunido, como de costume, em um bar de esquina para, como sempre faziam, decidirem em qual das boates passariam as três horas mais importantes da “caçada”. Para eles de uma às quatro horas da manhã eram as horas mais importantes, pois até meia-noite as coisas ainda se mantinham calmas, com mulheres comportadas e tímidas; mas de uma hora adiante o álcool começava fazer efeito levando-as a liberarem seus instintos e a afrouxarem os laços e obrigações morais. Tornavam-se, assim, um alvo fácil para eles.

E uma vez presentes na boate escolhida, ficavam a observar aquelas que seriam as escolhidas; a caçada então se iniciava com toda sorte de flertes.

Naquela noite, uma bela mulher solitária, sentada ao balcão, chamou-lhe especial atenção. Era alguém que aparentava ter 25 anos, mas o comportamento denunciava ser alguém bem mais experiente; ela possuía olhos e cabelos negros, lisos, acima dos ombros, que contrastavam com a pele branca; e um detalhe que lhe deixava extremamente excitante: uma pequena fenda entre os dentes da frente, que lhe conferia ar de adolescente.  O que foi bastante para que Rafael visse nela a presa da noite. Então, como de costume, juntou-se ao balcão e perguntou-lhe se poderia lhe oferecer uma bebida. Ela aceitou e juntos puseram a conversar. Disse chamar-se Anita. E embora seus gostos não combinassem, Rafael usava de todos seus atributos físicos para conquistá-la. Até que, após alguns minutos, um longo beijo molhado, parecia ser o sinal que, finalmente, ela havia mordido a isca, sendo seduzida por aquele que se achava o maior de todos os amantes. Mas algo lhe pareceu imprevisto naquela noite de lua cheia: Anita, diferente de outras mulheres, convidou-o para ir a sua casa. Ele, imediatamente, aceitou o convite. E ao se despedir dos amigos, disse-lhes levantando a camisa e apontando para a barriga, “tem que ter tanquinho”.

E, ao sair do recinto, Rafael ainda olhou os amigos, desacompanhados, com um leve sorriso de superioridade e triunfo nos lábios.
* * *
Durante o mais fervoroso sexo oral, Anita, por algum momento, para o ato para observar aquele enorme membro que estava em sua frente:
- Nossa!, como é grande e grosso, Rafael. Se eu fosse um homem iria invejá-lo tanto! – disse Anita com leves sorrisos.
Rafael sorriu contente e orgulhoso do elogio ao seu pênis, proferido por aquela mulher que acabara de conhecer, comentando, em seguida:.
- Iria desejar então ter um como o meu?
- Sim, claro; seria tudo que me faltaria.
- Mas ele é seu, querida; não é amiguinho?, pelo menos por essa noite – disse Rafael, orgulhoso, olhando em direção ao seu pênis, com a voz ofegante, enquanto Anita esboçava um leve sorriso e retomava o que fazia.
Por fim, após o mais extenuante sexo, Rafael adormeceu.
* * *
Rafael acordou e verificou que havia dormido alguns minutos após o término do ato sexual; olhou então ao redor e não viu aquela que tinha lhe dado tanto prazer naquela noite.
A casa estava em silêncio, exceto pelo barulho do velho ventilador que estava sobre uma escrivaninha.
Rafael sentiu sede e pôs-se a chamar aquela mulher que lhe havia incendiado de prazer minutos atrás. E após não ter obtido êxito em sua tentativa decidiu levantar-se e procurá-la pela casa. Vestiu-se então e penetrou em um pequeno corredor. Verificou que a porta de dois quartos estavam fechadas, e seguiu enfrente. Chegou ao que lhe pareceu ser a cozinha.


E ao ver a geladeira, seguiu em sua direção a fim de tomar água. Ao abri-la, verificou que havia apenas garrafas de bebidas e vários vidros grandes de maionese embalados em papel e nenhuma garrafa com água. Decidiu então olhar de perto aqueles grandes vidros que lhe chamaram atenção. Pegou um e verificou que havia líquido dentro, pensou então em comer alguns picles que pareciam estar guardados em tais vidros. E ao apanhar um e destampá-lo verificou, assustado, que havia um pênis em tal vidro. Apanhou outro e mais outro, verificando, por fim, que em todos havia pênis em lugar de picles. Foi quando Anita apareceu à porta da cozinha, dizendo-lhe:
- Vejo que já conheces minha pequena coleção.
- Que brincadeira é essa, querida?
- Não é uma brincadeira é apenas uma coleção, e em que falta o seu, querido – disse Anita com uma faca na mão, antes de apagar a luz.
- Não, não, nããããããââo.
O grito ecoou pela casa inteira. E minutos depois...
- “Mas ele é seu, querida; não é amiguinho?, pelo menos por essa noite” – repetiu Anita a frase que, minutos atrás, Rafael havia proferido, imitando sua voz com trejeitos engraçados e com a voz feminina.
 – Sim, você é meu, amiguinho, e não apenas por uma noite, mas definitivo – disse ela, desta vez com uma voz masculina, botando um novo vidro na geladeira.

Naquela noite, Rafael, então, descobriu, do pior modo possível, que ele tinha sido a caça, não o caçador na noite.

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