terça-feira, 18 de abril de 2017

INTRODUÇÃO À MAGIA SEXUAL: SEXO E PAGANISMO




INTRODUÇÃO À MAGIA SEXUAL: SEXO E PAGANISMO
Houve uma época em que o homem não era visto como um ser à parte da natureza, mas sim mantendo uma profunda e insolúvel harmonia com esta; fazendo tanto parte desta quanto os leões, os carvalhos, ou mesmo os minerais; era uma época que ainda não se tinha inventado o pecado, e que o sexo não era visto como algo pecaminoso, mas divino, um dom da natureza ou um caminho que levava aos deuses: um meio de conhecimento e iluminação pessoal, capaz de mostrar ao homem uma parte então desconhecida de si próprio: sua identidade profunda com a natureza, com suas forças fundamentais.

Foi a época das religiões panteístas que concebiam Deus, não como um ser agindo fora do mundo, mas de dentro do mesmo, um ser imanente ao mundo; e também dos grandes cultos a Afrodite, com suas sacerdotisas que em seus templos copulavam com os devotos da grande deusa; das bacantes, que por meio do vinho, e em nome do deus Baco, embriagavam os homens e os levavam a serem absorvidos por seus instintos sexuais, copulando com estes durante o culto de seu deus nos campos, bosques e prados; e do deus Príapo com seu grande falo, o deus da fertilidade, responsável pela fertilização dos animais e vegetais. Enfim, era uma época em que o sexo era tão sagrado quanto as religiões, e em que o sagrado feminino dominava o mundo, onde não se rejeitava nossa animalidade, nossos instintos.


E foi, certamente, a partir do momento em que o homem se sentiu como um ser superior e independente da natureza; um ser feito, erroneamente, à imagem de um deus, que assim como este, transcenderia a natureza, que se viu dividido entre dois mundos, um natural, governado pelas leis naturais do corpo e o outro, sobrenatural, comandado por leis superiores, imateriais, que não pertenceriam ao nosso mundo, que nos levou a renegar nossa origem animal, como algo inferior e impróprio do homem, um arcabouço de sentimentos bestiais e bárbaros - mas devemos lembrar que os mais baixos sentimentos humanos não pertencem aos animais. Disso surgiram a moral e as proibições religiosas ao sexo, e a ideia de que devemos privilegiar nosso lado transcendente em detrimento de nosso lado animal. Não admira, portanto, que o sexo como aquilo que mais uniria os homens aos outros animais tenha sofrido tanto com esta forma de pensar, transformando-se em algo indigno do homem.

Por meio de Eva (primeira mulher), Adão (o primeiro homem) come o fruto Proibido e juntos
Descobrem o Pecado e a Vergonha de seus Corpos Nus, e são  Expulsos por Deus do Paraíso

Porém tal pensamento não deixou de ter consequências terríveis para a humanidade, gerando as perseguições religiosas e tornando as mulheres suas maiores vítimas, como na Inquisição católica; e a Inquisição foi a conclusão da longa história de preconceitos, de repressão, de intolerância, ao sexo, a mulher, enfim, ao diferente. E a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente, com sua natureza diferente, com seu sexo que atraia a natureza reprimida dos homens “santos”, gerando mortes aos milhares.

A Inquisição Católica foi a Conclusão da Terrível Ideia de Pecado,
da Inferiorização da Mulher e da Deturpação da Natureza Humana

O afastamento do homem da natureza trouxe-lhe também certa sensação de abandono e de incompletude ou gerando doses desnecessárias de sofrimento psicológico em forma de terríveis e desnecessário sentimento de culpa ao mesmo, já que sendo o homem uma parte da natureza - e como a parte só tem sentido quando vista em seu todo - o afastamento do homem da natureza, não o deixaria ver-se como parte de um grande todo, de um grande “plano”, gerando-lhe sensação de abandono e incompletude. Não admira, por isso, que após afastarem o homem da natureza, muitos religiosos digam que lhes falta algo, como um deus ou algo parecido.
E assim a mais de dois mil anos nos ensinam a termos vergonha de nossos corpos, a odiarmos o que nós próprios somos, a termos vergonha de nossa própria natureza. Nossa moral e religião nos ensinam a associar rigor sexual à dignidade e liberdade, a não acatarmos os desejos do corpo, a mortificá-lo para não sermos escravos do mesmo, de seus apetites e desejos; o homem soberano, para esta forma de pensar, não se deixa levar por seus impulsos e instintos.
Contudo, por trás de tal concepção se esconde uma luta ferrenha e doentia entre cada indivíduo consigo próprio: uma luta entre os impulsos mais naturais do homem e o desejo inútil de abafá-los, de calá-los; gerando assim sentimentos de culpa desnecessários ou no mais das vezes gerando o efeito contrário, já que tudo que é proibido tende a ser muito mais procurado, estimulando, assim, o que justamente tentam limitar. E sendo a transgressão e o sadismo elementos inerentes a sexualidade, o proibido tende não apenas a estimulá-los como distorcer o sexo, gerando por meio do sadismo e da transgressão comportamentos sexuais destrutíveis. E onde há culpa, há também castigo. Não admira por isso que as igrejas estejam abarrotadas de pessoas obcecadas com os sentimentos de culpa e de pecado, já que aprendem desde que nascem a identificarem em todas as coisas naturais expressões de pensamentos pecaminosos.
Todavia, por meio da FILOSOFIA DO ORGASMO demonstraremos por meio dos próximos artigos que, ao contrário do que nos é imposto, o homem verdadeiramente livre é aquele que segue a natureza, que não luta consigo próprio, contra sua própria natureza; não é alguém dividido entre o que se é e o desejo de negar a si próprio; enfim, ser livre jamais implica em renúncias, mas ao contrário, o verdadeiro escravo é aquele que ao reprimir seus impulsos naturais torna-se carrasco de si mesmo. Em suma, o presente trabalho, tenta, como no passado, harmonizar o homem à natureza por meio do sexo, tido como um meio de autoconhecimento, e ao harmonizar o homem com a natureza, harmoniza-o também consigo próprio, com que verdadeiramente somos.

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