quarta-feira, 15 de junho de 2016

OS LIMITES DOS SENTIDOS E O SOBRENATURAL


OS LIMITES DOS SENTIDOS E O SOBRENATURAL

Como já foi dito em um artigo anterior, O Mundo dos Mortos e a Literatura de Terror, alguns escritores de Literatura de Terror levaram para suas obras literárias concepções ocultistas e conhecimentos mágicos. Escritores como Algernom Blackwood, Arthur Marchen, que tinham como tema frequente de suas obras o contato com o oculto, com "a parte escondida da realidade", pertenceram a sociedades de magia, como a Golden Dawn, frequentada também pelo famoso bruxo Aleister Crowley, antes deste criar sua própria escola esotérica, a A. A., e nela estes autores galgaram os mais altos postos de conhecimentos esotéricos.



E já que estamos falando de escritores associados a magia, um fato curioso é contado na biografia do escritor Paulo Coelho, conhecido por participar no passado de sociedades esotéricas. Quando este se interessou pela obra de Aleister Crowley, o que o levou a entrar para a ordem esotérica do bruxo inglês, ele, sem dominar ainda profundos conhecimentos esotéricos, decidiu invocar uma entidade, segundo os rituais daquela sociedade esotérica. O resultado foi que a coisa apareceu mesmo para ele. E não apenas para ele, apareceu também simultaneamente, porém em lugares diferentes, para sua esposa, e para uma amiga do casal, que também tinha se iniciado na A. A., de Crowley.


O livro nos conta que a experiência foi tão terrivelmente traumática para Paulo, que ele largou a sociedade. E após o incidente ele ainda ouviu do mestre supremo da A. A., da época, um esporro: “A Thelema é a lei do forte. É para o forte. É para quem aguenta. Quem não aguenta, se fode. Não é coisa para crianças”.


Mas voltando ao texto. Para este novo artigo, teremos a questão “Se o sobrenatural existe, por que não podemos provar sua existência?” como tema. Tentaremos responder a questão por meio de uma resenha do conto Carta de um Louco de outro grande autor de Literatura de Terror, o francês Guy de Maupassant, em que o narrador, duvidando de seus sentidos, tenta demonstrar a existência do sobrenatural. E embora Guy de Maupassant não tenha participado, pelo menos que se saiba, de nenhuma sociedade esotérica, explorava o terror em seus contos por meio de análises psicológica e filosóficas da noção de medo provocado pelo desconhecido, daquilo que não podemos ver com clareza, mas apenas antever com terror, sem poder se proteger dele.
SOBRENATURAL, O CONCEITO
Antes, porém, torna-se necessário esclarecer o que se entende por SOBRENATURAL.
Sobrenatural é tudo aquilo em que as leis da natureza, da matéria, não se aplica; é o que não pode ser explicado pelas leis da matéria. Sendo assim, ideias como alma, magia, possessão, anjos, demônios, deus, milagres etc., são tidos como fenômenos sobrenaturais, pois suas origens, seus comportamentos, seus modos de existência, não poderia ser explicado pelas leis da matéria.
Portanto, não confundir o conceito de sobrenatural com aquilo que não podemos ainda explicar pelas leis da matéria por falta de melhor conhecimento destas leis. Exemplo: Há cem anos atrás telefones celulares seriam vistos como algo sobrenatural, embora hoje sejam bem explicado pelas leis da física.
OS LIMITES DOS SENTIDOS E O SOBRENATURAL
No conto Cartas de um Louco, de Guy de Maupassant, o narrador, tenta convencer seu médico de que não está louco; para isso lhe escreve uma carta tentando lhe convencer de que existe, sim, uma criatura sobrenatural, invisível, que o persegue, e drena sua energia, aos poucos, não sendo fruto de uma loucura qualquer sua. Para tanto, ele começa argumentando que são os nossos sentidos a fonte de nosso conhecimento do mundo exterior, servindo de intermediário entre nós e as coisas deste. Passando, em seguida, a examinar nossos sentidos, e descobrindo nestes imperfeições e falhas, gerando, por sua vez, falhas também nos nossos conhecimentos do mundo exterior, obtidos por meio deles. Por fim, conclui que o fato de algo não poder ser captado por algum de nossos cinco sentidos, não significa que este algo não exista, mas apenas que não podemos concebê-lo.
“Se tivéssemos, portanto, alguns órgãos a menos, ignoraríamos coisas admiráveis e singulares, mas, se tivéssemos alguns órgãos a mais, descobriríamos em torno de nós uma infinidade de outras coisas de que nunca suspeitaremos por falta de meios de constatá-las”.
Como acontece com os cegos e as cores. Um cego de nascença, sem o sentido da visão, jamais poderá conceber o que são as cores, e o quanto são belas; porém, isso não as impedi que existam, sendo comprovadas por aqueles que enxergam. De modo que, usando esse mesmo raciocínio, podemos conceber que possa existir algo que não temos conhecimento, o que não impede que exista. Isso leva a ideia de que pode existir muitas coisas ao nosso redor, que não temos conhecimento algum, simplesmente por não termos nenhum sentido apropriado para poder percebê-las. Este raciocínio, o narrador do conto aplica a estranha criatura que o persegue, como forma de demonstrar a possibilidade de sua existência, mas também podemos aplicar, de modo geral, a tudo aquilo que engloba o conceito de sobrenatural. Podendo existir mundos tão diferente do nosso, com criaturas tão diferentes das criaturas do nosso mundo, mas que não temos conhecimento de sua existência, simplesmente por não termos sentidos capazes de captá-los e compreendê-los.
“E esse terror confuso do sobrenatural que habita o homem desde o nascimento do mundo é legítimo, pois não é outra coisa senão aquilo que nos permanece oculto”. (Cartas de um Louco).
Portanto, o narrador não prova que o mundo sobrenatural exista, mas demonstra que a existência deste é possível.
MÁQUINAS QUE AGUÇAM NOSSOS SENTIDOS
Muitos poderão se contrapor ao argumento anterior dizendo:
Embora nossos sentidos sejam limitados e falhos, nossa inteligência pode criar aparelhos capazes de aguçá-los e reparar suas falhas, ou até mesmo captar coisas que nossos sentidos não são capazes de perceber - como energia magnética, nuclear, gazes sem cheiro, etc. De modo que, por meio deles, podemos dizer o que existe e o que não existe das coisas que estão ao nosso redor.
A nossa inteligência é capaz, sim, de por meio de aparelhos e outros artifícios, reparar as falhas de nossos sentidos e de aumentar muito nossa percepção e conhecimento do mundo em que vivemos. Porém, sempre teremos em mente a ideia de que nem tudo ainda foi inventado capaz de esgotar a possibilidade de que exista algo que ainda não conhecemos. E também de que os aparelhos que inventamos só são capazes de captar o que é material ou energias que podem interagir com a matéria. De forma que algo que não seja material ou que não interage com a matéria não poderá ser captado por nossas máquinas. Fato que, como foi visto anteriormente, não exclui de vez a possibilidade que exista este algo. O que faz surgir a pergunta:


Se os fenômenos sobrenaturais são imateriais, como podem ser percebidos?

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